Vereadores de oposição ainda não conseguiram a sexta assinatura para abertura da ‘CPI das Terceirizadas’ na Câmara de Cachoeirinha, que detalhei ontem em Oposição quer ’CPI do Miki’ em Cachoeirinha; Amizade ou relação promíscua, e as 648 horas sem provas.
O Seguinte: ouviu o proponente, David Almansa (PT), que será o presidente caso a investigação seja aberta.
Siga os principais trechos.
Seguinte: – Como está a busca por assinaturas?
Almansa – A base do governo se fechou. Ninguém quis assinar até agora.
Seguinte: – Não era previsível já que a abertura de impeachment foi derrubada há menos de um mês, como reportei em Vereadores barram 3º impeachment de Miki: por enquanto é música no Fantástico, não escândalo; O Bruxo Silvio e as 96h de Josef K?
Almansa – Agora temos acesso a provas. Qualquer vereador pode consultar os autos se estiver em dúvida. No pedido de impeachment da Operação Proximidade fiz discurso avisando que o prefeito era vítima de extorsão. A fala foi usada contra mim até na eleição do sindicato dos municipários. Não foi uma defesa de Miki, mas um alerta de que a abertura das investigações seria barrada ao custo de secretarias e cargos, o que se confirmou. Na época participei de reunião com os 17 vereadores e políticos da própria base de governo diziam que o caixão do Miki já estava pregado. Era essa a expressão. Mudaram de ideia na hora do voto. No pedido de impeachment após o afastamento do prefeito, na operação Ousadia, participei de outra reunião. Naquele momento os vereadores da base de governo pediam provas, diziam que a cidade seria jogada em um abismo. Muitos eram os que tinham falado dos pregos no caixão do Miki. Eu via no rosto de alguns o medo de ser arrolado nas investigações. Nesta reunião tinha representantes do governo, como o secretário de Governo Humberto Reis. Lembrei a história da cassação da Rita (Sanco, prefeita de Gravataí) e como a história cobra o preço. Disse que não era golpista, mas conhecendo as provas seria prevaricação vereadores não abrirem investigações. Recebi inclusive mensagem do Cláudio Ávila (autor do impeachment de Rita) me xingando. As provas estão aí. Estou enojado. Te entendo quando escreves que quer ver as provas. Não podemos revelar porque estão em segredo de justiça. Mas estou enojado. É um escândalo nunca visto em Cachoeirinha.
Seguinte: – No artigo de ontem analisei que a única explicação para a CPI é tentar publicizar as supostas provas. Usar os dados sigilosos das operações para fazer o interrogatório de envolvidos. Algo como “o senhor se encontrou com o empresário em tal dia”. É isso? Porque se a denúncia do Ministério Público já tem provas robustas, como foi dito na entrevista coletiva de anúncio da coleta de assinaturas, não teria mais o que investigar.
Almansa – A CPI terá a estatura para solicitar a quebra do sigilo das provas. E se não for possível, o uso das informações que temos pode sim ser usado nos depoimentos. Mas, se a população não pressionar, é difícil coletar as assinaturas. Parece-me escancarado que não há interesse em investigar. Não só a propina, o possível mesadão, mas direcionamento de edital, superfaturamento… Há parecer do controle interno da Prefeitura contrário a contrato com a SKM e ordem do prefeito e secretário para tocar em frente, troca de funcionários que quiseram se envolver. Um absurdo administrativo.
Seguinte: – Falaste “possível mesadão”. No que já tiveste acesso aos autos não há uma comprovação definitiva?
Almansa – Para mim há. O esquema é muito grande.
Seguinte: – Há vereadores envolvidos?
Almansa – No que li até agora não tem ninguém na condição de vereador. Alguma chinelagem talvez, como indicação de gente para trabalhar na empresa.
Seguinte: – As operações envolvem o vice, hoje no exercício do cargo, Maurício Medeiros (MDB)?
Almansa – No material que tive acesso não.
Seguinte: – Acreditas que o receito de alguém envolver o vice pode estar impedindo a coleta de assinaturas na base do governo? Existe aquela máxima: “CPI se sabe como começa, mas não como termina”.
Almansa – Pode ser. Mas nem a base tem a unanimidade em torno do Maurício. Sabemos onde a coisa está, com acesso aos autos da operação Proximidade, mas não sabemos onde vai com o que for apurado na operação Ousadia. O que percebo é um ambiente de protecionismo. E uma mudança abrupta de discurso. Recapitulando: antes diziam que Miki estava no caixão, depois pediram provas e, agora que as provas estão disponíveis, não assinam a CPI. Por que nenhum vereador usou a tribuna para dizer que Miki é inocente? Até agora só advogados o defenderam.
Seguinte: – És do PT e defendeste o “Lula livre”. O ex-presidente teve ações anuladas por abusos da Lava Jato, tanto do Ministério Público, quando do juiz Sergio Moro. Se o nome “Miki” fosse substituído por “Lula” no que já tiveste acesso das operações, sustentarias o “Lula livre”?
Almansa – Se fosse o Lula a cometer os crimes do Miki a prisão teria embasamento. Incrível não bastar as declarações do procurador-geral de Justiça do RS, Marcelo Dornelles para abrir uma CPI. CPI não é impeachment. É preciso indícios para abrir investigação. E temos provas fartas na operação Proximidade! Ainda pior é, na operação Ousadia, o chefe do MP ter dito que os crimes continuaram. Não podemos esquecer que as malas e sacolas de dinheiro são referentes à Ousadia, que nem temos acesso ainda. A CPI da Pandemia começou investigando o kit covid e chegou na Covaxin, na Prevent Senior. É preciso puxar o fio.
Seguinte: – Uma CPI não para a Câmara e a cidade, fazendo com que a população pague o preço, como aconteceu com o lixo nas ruas e tratei em Caso Miki: emergência para lixo nas ruas de Cachoeirinha; O povo é sempre a primeira vítima e, depois, também foi pauta na mídia estadual como reportei em RBS: povo paga preço por caos no lixo após afastamento de Miki em Cachoeirinha?
Almansa – Sou contra a banalização do impeachment, mas se a Câmara não abrir essa CPI seremos cobrados pela História, porque em algum momento vai cair o segredo de justiça sobre as provas. Nada pode ser mais importante do que essa investigação. Tudo no governo Miki tem dispensa de licitação e contrato emergencial. Tanto que, desde que assumiu Prefeitura, Maurício fala que só assina contrato com licitação. Hoje temos terceirização em cozinheira, faxineira da Prefeitura. Não temos licitação em serviços básicos como lixo, zeladoria. Sem a coleta seletiva famílias ficaram sem nenhuma renda. Não podemos fingir que não é relevante. Não aceito o argumento: “o MP já está investigando”. E o papel fiscalizador dos vereadores? Só servimos para apresentar moções de congratulações? Já ouvi também que “já teve CPI e não deu em nada”. Na verdade, a CPI foi arquivada, mas o que apurou sobre irregularidades no contrato da SKM desencadeou as operações do MP e hoje o prefeito está afastado. O que espero é que essas provas também subsidiem a Justiça Eleitoral. Há uma ação do Dr. Rubinho (PSL, segundo colocado na disputa pela Prefeitura em 2020) que não teve sucesso em primeiro grau, mas aguarda julgamento em segunda instância, pedindo a cassação da chapa Miki-Maurício. Se dinheiro da corrupção foi usado na campanha, e as evidências são que sim, deveríamos ter uma nova eleição.
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