Encontrei uma conhecida e a elogiei porque está mais magra – em geral, esse é o tipo de constatação que alegra uma mulher! Ela me respondeu que é resultado de longas caminhadas para ir ao trabalho, pois não tem dinheiro para pagar o ônibus.
Decidi seguir a pé com a guria. No caminho ela contou mais algumas situações que está vivendo. Está morando de favor na casa de um amigo. Tentou o suicídio. Completou a explicação com uma triste frase: “Nem isso dá certo. Ainda estou viva”. O fardo que ela carrega me deu um aperto no coração. Cheguei ao meu destino, ela seguiu o dela.
Fui para a fisioterapia com cobertura do meu plano de saúde. Ela precisa de atendimento especializado. Não tem dinheiro para pagar por isso. Precisa pagar por sua comida, suas roupas, seus produtos de higiene etc. Ela não vive. Sobrevive! Ela tem fome, tem sede, tem dor e sofrimento. Ela recebeu menos da metade do salário mínimo este mês. Assim como em meses anteriores, seu salário é parcelado. É professora na rede pública de ensino. Que tipo de aula ela consegue dar?
Nesse mesmo dia encontrei uma amiga que contou sobre o sofrimento de sua avó. É professora aposentada e chorou copiosamente em frente ao caixa eletrônico. Duas faculdades, uma pós-graduação, anos de dedicação em sala de aula e na direção de escola, reduzidos a trezentos e cinquenta reais. Mais uma vez dependerá dos familiares para se alimentar e comprar seus remédios.
A pessoa escolhe uma profissão, cumpre uma série de etapas que exigem esforço, dedicação e muita superação. E aí, recebe tratamento indigno de seu empregador. O parcelamento de salários é imoral, desrespeitoso, desumano!
A situação de homens e mulheres que, mês a mês, têm seus direitos subtraídos é alarmante. Estão ficando doentes física e mentalmente.
Estamos, a cada dia, menos surpresos com essas notícias. Naturalizar a desgraça é um perigo para o que se entende de humanidade. Meu profundo respeito a quem chora por medo, impotência, desengano. Minha compreensão com quem quer e não pode resolver. Meu desprezo para quem pode e não quer ajudar.