Clebes Mendes (PSDB) postou um vídeo criticando declarações de Lula sobre o impacto no orçamento federal da ajuda às enchentes no Rio Grande do Sul que, além de disseminar fake news, entendo desrespeitoso e abaixo da altura do cargo de presidente da Câmara de Vereadores da quarta economia gaúcha.
“É uma canalhice do presidente da República atribuir essa conta ao Rio Grande do Sul, da incompetência do governo federal, de um governo de um presidente semianalfabeto, que fez o que fez com o Brasil já em outros mandatos. A gente já sabia, principalmente nós gaúchos. Agora, atribuir o déficit nas contas federais ao Rio Grande do Sul, depois de tudo que a gente passou, aonde o governo não ajudou em nada, gaúcho ajudou gaúcho, vários estados e países ajudaram o Rio Grande do Sul, menos o governo federal (sic)”, diz o vereador, no post que você acessa clicando aqui.
Em entrevista coletiva, Lula disse que as contas teriam registrado um superávit se não fossem as despesas com as enchentes no RS.
– Não existiu rombo fiscal no meu governo, houve, sim, no governo passado. No nosso não houve. Aliás, se não fosse o Rio Grande do Sul, nós teríamos tido superávit pela primeira vez depois em muitas décadas – disse.
As contas do governo federal fecharam 2024 com déficit de R$ 11 bilhões, excluídos os gastos com a ajuda ao Rio Grande do Sul (R$ 81 bi até agora), cumprindo a meta fiscal, de acordo com dados divulgados na quinta-feira pelo Ministério da Fazenda.
Lula não disse nada diferente do que sempre repetiu o prefeito Luiz Zaffalon (PSDB), quando lembra o impacto da pandemia e de eventos climáticos em seu primeiro mandato. Não fossem as tragédias, o endividamento da Prefeitura também seria menor.
Clebes tem todo direito de criticar Lula, e motivos não faltam, inclusive a falta de sensibilidade ao citar a catástrofe em meio a números que o povo não entende, mas não precisa usar de fake news.
É mentira que o governo federal não ajudou o Rio Grande do Sul. Já foram disponibilizados R$ 81 bilhões – o equivalente ao orçamento de Gravataí por quase 80 anos. Dois bilhões só no Auxílio Reconstrução de R$ 5,1 mil, que foi pago a 500 mil gaúchos – o equivalente a duas Gravataí em população.
Para acessar um balanço dos recursos, em gráficos, fácil de entender, clique aqui.
Com o vídeo tresloucado, Clebes se coloca fora de uma grande pauta para a Bacia do Rio Gravataí, para Gravataí e, ainda, para sua região, o ‘Grande Parque dos Anjos’ – e eu já tinha alertado o amigo, quando líder do governo em 2024, em 2,9 bi do PAC para cheias e falta de água na Bacia do Rio Gravataí: o ouro não pode virar ouro de tolo.
Na terça-feira, seu governador Eduardo Leite (PSDB) participou, junto ao ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa, da primeira reunião do Conselho de Monitoramento das Ações e Obras para Reconstrução do Rio Grande do Sul.
O fórum, que une os governos federal e estadual para reconstrução do Estado, confirmou a prioridade de obras anti-enchente na Bacia do Gravataí. São R$ 2,9 bilhões, incluindo o dique de R$ 100 milhões no Caça e Pesca; leia em 2,9 bilhões do PAC: governos Lula e Leite confirmam prioridade para cinturão de diques na Bacia do Rio Gravataí.
O prefeito Zaffa já tinha a informação do governo Leite desde a semana anterior, como reportei em Com dique no Caça e Pesca e barragens no Rio Gravataí garantidas, Zaffa tenta incluir dique no Barnabé em obras de reconstrução do RS.
Quando as obras do cinturão de diques começarem, Clebes vai subir nas escavadeiras, que estarão em seu reduto eleitoral, e gritar “pau na máquina”, seu slogan?
Poderia acrescentar: “obrigado, semi-analfabeto”, porque é dinheiro federal, do Novo PAC.
Aí chego ao que considero desrespeitoso no vídeo de Clebes. É uma crítica política mais rasa que o arroio Demétrio assoreado chamar Lula de “semianalfabeto”, mas é uma escolha do vereador.
Sobre isso, não precisa defesa o presidente, doutor honoris causa em universidades estrangeiras e já indicado até para o Nobel, e que circula pelos salões do mundo sob admiração. Sinto por eleitores de baixa escolaridade de Gravataí, e do próprio Clebes (e são muitos), pela condição social ser usada como arma para diminuir alguém.
Ao fim, Clebes tem todo direito de ser o tiozão do zap na crítica política. Reputo, porém, deveria ter mais cuidado porque desde o dia 1º é o chefe do poder legislativo da quarta economia gaúcha.
A não ser que o político prefira curtidas de bolha na rede social a estar com governador e ministros tratando sobre o que realmente importa, a vida real, não virtual.