3º Neurônio | cinema

Vingadores Ultimato e os 11 anos de Marvel no cinema que passaram em um estalar de dedos

Avante, Vingadores! Esse é o grito de guerra invocado desde a década de sessenta nos quadrinhos para chamar os heróis de elite da Marvel para a ação. No original a frase é “Avengers, assemble” que dá uma ideia de reunir, agrupar, convocar… Unir! E talvez poucas outras palavras poderiam traduzir com maior precisão o significado do filme Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame – aliás não gosto nada dessa tradução) que estréia nesse final de semana na maior quantidade de salas possíveis pelo nosso Brasil de extensões continentais.

Além de reunir uma quantidade absurdamente grande de personagens essa película serve de ponto final de um trabalho começado em Homem de Ferro 1, no agora já longínquo ano de 2008, coroando um trabalho impecável da Casa das Ideias onde cada passo, fosse quântico ou astronômico, fosse minuciosamente planejado criando um entrosado universo compartilhado (e por que não dizer adorável?).

Talvez muitos não saibam, mas a megacorporação Disney comprou a Marvel em um momento onde vender gibis começava a entrar em um declínio e a editora andava mal das pernas financeiramente falando. Então com o aporte financeiro da empresa do Mickey Mouse tentou-se transportar a magia do mundo criado, em grande parte pela mente do saudoso Stan Lee, para às telonas.

Porém havia ainda um problema: Quando estava na pindaíba a empresa de histórias em quadrinhos havia vendido o direito de produção cinematográfica de seus maiores ícones: Homem-Aranha, X-men e Quarteto Fantástico. Nessa época o lançador de teias deu muita grana para a Sony e os mutantes abriram o nicho de grupo de heróis mostrando ser um segmento auto-sustentável nesse mercado.

Ainda assim havia problemas na terra dos unicórnios, já que estamos falando em fantasia. Existia uma dificuldade de transição das página para os projetores e um problema ainda maior: Falta de roteiros bem trabalhados e mundos bem construídos. Coesão e ausência de furos. Pois ainda que heróis até hoje sejam vistos como algo para crianças, o que também é verdade visto que brinquedos arrecadam tanto quanto filmes, eles ainda inspiram jovens e adultos que cresceram se inspirando nessas personagens assim como por muito tempo outras gerações se instruíam com as lendas e mitos. Há toda uma filosofia por trás daquelas máscaras. E é divertido para caramba, convenhamos.

 

 

Kevin Feige e Robert Downey Jr. são dois dos principais responsáveis pelo explosão do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU na gringa) além é claro dos acionistas e produtores que colocaram o dinheiro no lugar certo, mas artisticamente ambos foram essenciais pela construção desse bonito mosaico colorido e superpoderoso.

O primeiro foi escolhido como presidente de produção e ficava responsável pelo andamento padronizado de todas as histórias. Feige foi a pessoa escolhida para comandar cada suspiro dado nesse projeto gigante por ter um conhecimento sólido admirável desses personagens, tanto que já havia trabalhado com outros longas de paladinos como Blade e com a supracitada equipe X-men. Ele tinha o que era necessário para reimaginar algo que já era estimado e levá-lo para outro patamar em uma escala que saísse da zona comum dos nerds e alcançasse o grande público consumidor de combos de pipocas em grandes salas. E foi o que ele fez. E é aí que entrou o RDJ, um ator se reerguendo de seus problemas pessoais e recomeçando a carreira, com seu carisma imensurável que ajudou a carregar esse sucesso durante  11 anos de franquia e alçando heróis mais secundários para o primeiro escalão.

Downey era o Tony Stark cuspido e escarrado e isso deu um peso ao papel. E é reconhecível a escalação de atores e atrizes que também encarnaram bem suas contrapartes excelsas. O resto foi história. Acompanhada uma por uma, vivida, sorrida e chorada por cada um de nós nessa década que passou em um estalar de dedos.

 

 

O filme Ultimato é a cereja do bolo. Não precisa ser o melhor. Apenas precisava dar o toque final. Sem estragar ou comprometer, nem mesmo ofuscar tudo que já foi construído. E olha que Guerra Infinita tinha elevado o patamar em níveis bem altos de expectativas (em questão de trama acho ele melhor inclusive). E o quarto filme dos Vingadores entrega o que cada pessoa que acompanhou essa longa jornada queria. Trouxe um desfecho com sensações nostálgicas, derramou seu humor rotineiro, aprofundou histórias pessoais e mostrou a importância individual de cada personagem inserido como parte de um todo tentando não esquecer de nenhum independente de seu grau de poder: Do Thor ao Homem-Formiga.

Particularmente acredito que esse filme específico não funciona direito para quem a) não gosta de super-heróis b) não assistiu os outros longas da Marvel. E por mais que você possa aproveitar os filmes se não passou por esse longo período de tempo acompanhando e amadurecendo junto – ou seja, se você maratonou ontem ou mesmo estará assistindo todas produções no futuro -, esperando cada novo lançamento e elaborando mirabolantes teorias não vai ser a mesma coisa. Pode apostar que não.

Um efeito sentido em várias outras produções como Lost e Toy Story. Talvez você até goste, mas não vai urrar de prazer em alguns fan services como a galera que eu vi na pré-estreia fazendo ou mesmo talvez pode ser que não haja lágrimas lhe escorrendo o flanco do rosto. Ouvi altos soluços de choro.

 

 

Vingadores Endgame tem problemas em reengatar a história de onde havia terminado. É um pouco truncado e raso nos seus primeiros trinta minutos – mas, ei, isso é só um sexto do filme – trazendo soluções rápidas e até um pouco decepcionantes em alguns aspectos. Havia que explicar as consequências do último filme e eu acho um pouco maçante esse início, ainda que necessário Porém quando o filme se liberta das explicações necessárias ele alcança um ritmo arrebatador.

Não me agradam também as explicações científicas rasas onde tudo é inventado em minutos sem esforços e seus embasamentos sendo tão superficiais quanto aqueles apresentados em séries de investigações criminais onde já vi duas pessoas digitando à quatro mãos em um mesmo teclado para um computador processar mais rápido.

Dã! Porém como o universo dessas pessoínhas foi montado com esmero e toda elaboração cuidadosa sabemos que o Tony Stark é um sr. Gênio capaz de qualquer coisa imaginável na área intelectual, o Homem Formiga é um conhecedor de carteirinha de microcosmos e que o Hulk é um cientista – então ele deve saber o que está fazendo – então fatos pretéritos moldados nos torna crível alguns acontecimentos meio jogados e facilmente dominados pelas personagens. E pra embasar minha sustentação lembro e cito  duas frases (na verdade uma é paráfrase), uma dita em Era de Ultron e outra nesse mesmo filme que comento: Ao ser indagado de quando foi que Tony havia se tornado especialista em Bio-física ele responde sem nenhum receio: “Noite passada”. E ao ser questionada sobre o que sabia sobre física quântica a Viúva-Negra responde de boaça: “O bastante pra bater um papo de bar”.

E é mais ou menos assim que enxergo esses problemas suscitados. Passíveis de sustentação em um universo onde tem um alienígena que é a cara do Lula Molusco. Incomoda um pouco a superficialidade, mas você entende e supera.

 

 

Porém boa parte do filme é grandiosa. Existem cenas de batalhas que só tinha visto antes em obras de fantasia-medieval ou filmes de guerras e tudo é tão bem sincronizado que cada minuto de tela lhe tira a respiração de tão bonito.  Esqueça aquele embate alien de Wakanda. É outro nível. O longa explora e não se perde com tantos personagens dando um tempo adequado para cada núcleo. Por uma razão óbvia personagens mais recentes como Pantera Negra e Dr. Estranho, entre muitos outros, assumem um papel mais secundário focando principalmente nas histórias da trupe original que defendeu Nova Iorque em 2012 com alguns agregados como o Rocket Racoon. Sem estragar muito da trama, estou fazendo o possível de uma resenha sem spoiler (aliás se um dia receber o convite faço com prazer uma com), é muito bonita a revisitação de obras anteriores que o filme faz como um grande afago na cabeça dos fãs e uma autovalorização de produção.

Falando neles, muitos devem ter se decepcionado da escolha de dois alívios cômicos escolhidos para essa edição pela importância que ocupavam nas sequências de ação, mas achei que funcionou bem. Ambos já vinham flertando com o humor há algum tempo, um deles já havia se afogado até nesse segmento. E eu gostaria de destacar o carinho que o filme dá para os três medalhões da franquia: Capitão América, Thor e Homem de Ferro. Ativamente presentes durante toda as três horas de filme é um presente bem quisto para quem entende que eles sempre foram a essência desse grupo conhecido como “Os heróis mais poderosos da Terra”. Atente para o ato final quando existe uma sequência mega empolgante reunindo-os que lembra muito o primeiro filme quando os três se enfrentam em uma noite cheia de de raios, armaduras e escudos.

Também há trocentos momentos de referências para quem gosta de achar homenagens escondidas sobre quadrinhos ou mesmo sobre a sétima arte.

 

 

Sendo assim super indico reunir a família, tem algumas cenas pesadas para crianças pequenas, e reativar a criança que existe dentro de todos nós e acreditar por algumas horas, ainda bem que o filme é extenso, que um mundo com justiça é possível. Aliás como comentei existe toda uma filosofia por trás de cada história de capa. Thanos é um vilão que tem a ideia de acabar com metade dos seres vivos das galáxias para que não exista mais pobreza, porém com todo o poder que ele possuí não seria mais fácil tornar os recursos infinitos ou pelo menos duplicá-los?

Houve muita gente que acreditou que ele no último filme era um herói. Ledo engano. Sempre temos que analisar a intenção por trás de cada dita boa ação e isso nos é muito válido em um país divido por ideologias, religiões e falsas verdades. Por outro lado quero elogiar todo o esforço criativo de 11 anos dessa era da Marvel, novos filmes virão ainda que renovados, em uma época em que rarísimos projetos duram tanto tempo e mais atípico é poder entregar um final.

Em tempos onde o cancelamento do que não funciona é o de praxe e uma corda bamba de julgamentos é frequente entregar um produto intocável, de qualidade e saudoso é um baita feito. Está gravado indelevelmente em nossas memórias e por isso é ótimo fechar um ciclo. Novos filmes virão. Com novos integrantes na linha de frente e com a adição dos protagonistas que estavam com os direitos autorais de posse da Fox recém adquirida pela Disney. Espero que continuem acreditando nos personagens fora da bolha mainstream. O resto… é aprender com o vívido até aqui: É a jornada que importa não o ponto de chegada. Sentirei saudades dessa fase bonita. Avante!

 

 

Dica 1: Não tem cena pós-crédito, mas vale a pena ficar até o final absorvendo tudo o que aconteceu com a música tema. Além de reparar em um barulho de martelada que pode significar algo…

Dica 2: Se der, assista no IMAX. Sem arrependimentos. Aliás gostei demais de ver na pré da madrugada. As reações e a vibe são gratificantes.

Dica 3: Escreva no Google “Thanos” e clique na manopla (luva) e veja o que acontece.

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