Vivemos uma engraçada fase, onde todo mundo acha que sabe fazer tudo e falar sobre tudo. Vemos o jornalismo sério, praticado por quem estudou quatro ou cinco anos as teorias da comunicação, antropologia e ética sendo praticado por quem é “digital influencer”, seja lá que diabos isso signifique. Com uma conta em rede social, qualquer um pode falar qualquer tipo de besteira e ser aplaudido por outros igualmente bestas. Qualquer um baixa um tutorial na internet e sai instalando aparelhos, montando móveis, aplicando papel de parede… e agora educando crianças.
Em um tempo onde professores apanham na saída da escola e dentro dela, tem o salário RIDÍCULO parcelado em sabe-se lá quantas parcelas, e ainda tem que aguentar alunos mal educados, ao invés de nossos governantes se preocuparem em valorizar aqueles que estão tentando colocar nossas crianças no caminho do bem, decidem atacá-los. Primeiro essa coisa absurda e sem sentido de escola-sem-partido. Ai meu Deus, quando vejo alguém falando nisso chega a me dar um nó nas tripas, tamanha ignorância. Quem fala em doutrinação nas escolas só pode nunca ter passado por uma sala de aula. Lá, na escola pública, pessoal tem que se preocupar com os choques ao encostar nas maçanetas, com a sujeira da caixa d’agua que impede os alunos de tomar água da torneira… Se bobear, metade dos alunos do ensino médio nem sabem o que significa a palavra doutrinação.
Agora, além de tudo isso, o governo me vem com essa história estapafúrdia de “DEIXAR QUE OS PRÓPRIOS PAIS EDUQUEM SEUS FILHOS”. Eita nós, vocês estão falando sério? A gente não consegue nem, ao menos, educar nossos filhos para terem educação com os professores, ser cordial com os colegas e respeitar as regras dentro de uma sala de aula e o pessoal quer deixar na mão destas pessoas a educação integral destas crianças? Você, sinceramente, se acha preparado e com tempo para dar aulas para seu filho em casa? Você sabe explicar matemática, química, física, biologia e todas as regras de português existentes? Eu não. Eu não me sinto nenhum pouco preparado.
Contar com uma equipe de profissionais preparados para dar aulas para o meu filho enquanto eu trabalho, tendo plena certeza que ele está sendo bem cuidado e bem instruído é a melhor sensação que um pai poderia querer sentir. Educar é a parte mais difícil de ser pai/mãe. É difícil demais colocar limites, se fazer entender, conversar e dar bronca. Imagina fazer tudo isso e ainda ter que alfabetizar? Gostaria muito de ter essa capacidade, mas nem que eu fosse professor formado eu teria coragem de cercear a convivência em sociedade do meu filho.
É na escola que ele ouve histórias, constrói amizades, descobre que o mundo não é só dele. Aprende a dividir objetos e atenções. Entende que há espaço para as diferenças. Tirar tudo isso dele seria um absurdo! Na escola é onde grande parte de nós descobre qual profissão queremos seguir. Saem de lá muitas jogadoras de futebol, atores, matemáticos, professores e, jornalistas!
Eu, formado em jornalismo, tendo sido professor de fotografia de crianças, não me sinto preparado nem para dar aula de português (vide meus deslizes ortográficos) ou história, quiça de áreas que eu não tenho afinidade nenhuma. Tirar as crianças das escolas é um total e completo retrocesso. Pessoal poderia sair de suas cadeirinhas e dar uma volta nas escolas públicas para ver se não precisam de nada mais útil que palpites de quem não tem nada a acrescentar.
Não mexam com os professores e as escolas. Nossas crianças só crescerão saudáveis com eles.