O diabo sabe porque é velho, não porque é o diabo, diz a máxima. Como nasci antes das redes sociais, e um pager foi meu celular na adolescência, foi possível prever que o primeiro ponto de recarga pública para carro elétrico no Brasil, inaugurado em Gravataí pelo prefeito Luiz Zaffalon (MDB), seria hoje criticado no Grande Tribunal das Redes Sociais.
Escrevi, terça-feira, em Gravataí é primeira a carregar carro elétrico na rua, quando antecipei no Seguinte: que em parceria com a Zona Azul Brasil, a Prefeitura instalaria o ponto de recarga na Praça da Bíblia, em frente à sede da Prefeitura, no Centro.
“Fiz questão de antecipar a inauguração que estará nos releases de amanhã porque reputo uma coisa histórica.
Por obvio, parece um episódio elitista.
Inevitável é, no Grande Tribunal das Redes Sociais, que alguém que tenha a mãe esperando leito no hospital ache uma grande bobagem meter um bico para carregar carro de rico.
Só que, se daqui a 20 anos veículos elétricos não ocuparem pelo menos metade do mercado, preparem suas gerações para a falência climática; e uma tragédia sanitária.
Acerta Zaffa em hoje ter coragem de não governar tirando como termômetro as redes sociais.
Cliques não governam”.
Na quarta, Zaffa abasteceu o primeiro carro, um Chevrolet Bolt, da GM.
Alguns vão lembrar: a repercussão nas redes sociais do ponto de recarga parece a que teve o ‘wi-fi do Marco Alba (MDB)’, quando o ex-prefeito inaugurou a internet grátis na mesma praça, não?.
Legal que o próprio Zaffa respondeu a críticas nas redes sociais, como de Paulo Vinícius, que comentou no Facebook da Prefeitura que “Gravataí tem 6 carros elétricos. Um deles custa 1.098.990,00 e o dono terá o direito de usar a energia da RGE de graça. Enquanto isso a gente tirando os aparelhos da tomada pra conseguir aliviar a conta. Eu não me conformo que um seleto grupo de 6 pessoas podre de ricas possam usar energia de graça. Absurdo total. Vergonhoso”.
Escreveu o prefeito:
“Não simplifica assim, que nunca teve este objetivo. Primeiro: a Prefeitura não gasta nada com isto. É tudo patrocinado. Segundo: hoje somos notícia no Brasil e nossa cidade aparece em todos aplicativos de quem usa carro deste tipo ou se interessa pelo tema. Terceiro: nós mandamos um sinal aos investidores que aqui acreditamos e incentivamos inovação. Quarto: em 10 anos não se fabricará carros a combustão e a cada dia teremos mais elétricos. Quinto: uma operação de marketing é no primeiro momento imensurável e não entendida por quem não vive o meio. E existem ainda dezenas de motivos para justificar a ampliação disto e até termos alguns usuários da novidade em Gravataí. É muito óbvio que não fizemos esta operação pensando exclusivamente nos atuais elétricos da nossa cidade. É uma ideia muito mais abrangente. Não esqueça que Gravataí é sede de uma fábrica das maiores montadoras do mundo, que ainda não definiu se aqui serão montados os carros do futuro. E por aí vai…tenha um bom dia”.
Ao fim, é isso.
Uma coisa é uma coisa, outra é outra.
A comparação de uma ação de inovação como essa – gratuita, ou praticamente – e a fome, miséria, fila da creche ou UPA, reputo um anátema como aquele do vereador não receber salário; faz mal para a política.
Cuidado, político(a)s, que o cuspe para cima da crítica fácil pode cair no próprio olho.
Há uma Gravataí de problemas para cobrar o governo – e como tem!; essa do ponto para recarregar carro elétrico é bobagem, caça-cliques.