Um irmão é uma testemunha íntima da infância. Guarda as memórias daquilo que fomos e será capaz de compartilhar essas lembranças quando os pais já não estiverem junto.
Augusto, meu filho, sempre quis um irmão. Artur nasceu e eu estou em processo de maravilhamento pela construção dessa relação, que terá momentos bons e ruins, como toda relação.
E, como sempre, há um poema que pode questionar ou traduzir tudo isso.
Irmão, Irmãos
Irmão, Irmãos
Cada irmão é diferente.
Sozinho acoplado a outros sozinhos.
A linguagem sobe escadas, do mais moço,
ao mais velho e seu castelo de importância.
A linguagem desce escadas, do mais velho
ao mísero caçula.
São seis ou são seiscentas
distâncias que se cruzam, se dilatam
no gesto, no calar, no pensamento?
Que léguas de um a outro irmão.
Entretanto, o campo aberto,
os mesmos copos,
o mesmo vinhático das camas iguais.
A casa é a mesma. Igual,
vista por olhos diferentes?
São estranhos próximos, atentos
à área de domínio, indevassáveis.
Guardar o seu segredo, sua alma,
seus objectos de toalete. Ninguém ouse
indevida cópia de outra vida.
Ser irmão é ser o quê? Uma presença
a decifrar mais tarde, com saudade?
Com saudade de quê? De uma pueril
vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?
Carlos Drummond de Andrade