poesia

Infância testemunhada

Um irmão é uma testemunha íntima da infância. Guarda as memórias daquilo que fomos e será capaz de compartilhar essas lembranças quando os pais já não estiverem junto.

Augusto, meu filho, sempre quis um irmão. Artur nasceu e eu estou em processo de maravilhamento pela construção dessa relação, que terá momentos bons e ruins, como toda relação.

E, como sempre, há um poema que pode questionar ou traduzir tudo isso. 

 

Irmão, Irmãos

Irmão, Irmãos 
Cada irmão é diferente. 
Sozinho acoplado a outros sozinhos. 
A linguagem sobe escadas, do mais moço, 
ao mais velho e seu castelo de importância. 
A linguagem desce escadas, do mais velho 
ao mísero caçula. 

São seis ou são seiscentas 
distâncias que se cruzam, se dilatam 
no gesto, no calar, no pensamento? 
Que léguas de um a outro irmão. 
Entretanto, o campo aberto, 
os mesmos copos, 

o mesmo vinhático das camas iguais. 
A casa é a mesma. Igual, 
vista por olhos diferentes? 

São estranhos próximos, atentos 
à área de domínio, indevassáveis. 
Guardar o seu segredo, sua alma, 
seus objectos de toalete. Ninguém ouse 
indevida cópia de outra vida. 

Ser irmão é ser o quê? Uma presença 
a decifrar mais tarde, com saudade? 
Com saudade de quê? De uma pueril 
vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre? 

Carlos Drummond de Andrade

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade