Apresentação de Edgar Vasques
Nosso herói aparece no campo visual num momento muito especial: fins dos anos 80.
É quando acontece uma confluência fundamental na arte gráfica aplicada do RS: três gerações de chargistas, cartunistas, caricaturistas e quadrinistas finalmente passam a dialogar regularmente. Mestres veteranos, como Sampaio, Sampaulo, Bendatti, Canini, Joaquim da Fonseca, entre outros, convocados pela geração intermediária de Santiago, Eugênio Neves, Vasques (e vários outros), afinal podem passar sua experiência para as novíssimas gerações, através de uma correia de transmissão recém fundada: a Grafar (os Grafistas Associados do Rio Grande do Sul).
Entre os novatos, um guri logo se destaca. O desenhista Rodrigo Rosa, 16 anos, (que começara a publicar humor aos 14) mostra então quadrinhos mais completos, de parceria com outro guri, o roteirista Carlos Ferreira. Mas a dupla, ao invés de devolver a usual hq de super-herói, mostra surpreendente maturidade: roteiros enraizados nos sentimentos do povão brasileiro, ilustrados em claro/escuro dramático, mas realista. A qualidade desse desenho capturou o olho clínico de um dos maiores desenhistas do mundo, o nosso João Mottini, que a partir daí foi básico no desenvolvimento do guri brilhante.
E, através das décadas seguintes, Rodrigo vai, mundo a fora, inexoravelmente consolidando seu trabalho impecável, onde se destacam as ilustrações e os quadrinhos, mas também a verve humorística originalíssima, sempre a serviço do esclarecimento, que tem rendido a ele dezenas de prêmios nacionais e internacionais de charge e cartum. Acontece que ele possui desde sempre um diferencial incomum, privilégio de muito poucos: a capacidade de graficar sua narrativa tanto na linguagem do humor e da caricatura quanto na do desenho realista e cinematográfico, sem a mínima queda de qualidade.
No processo, usa com total domínio todas as técnicas, das tradicionais, como a pena, o pincel e a caneta, com nanquim e aquarela e os lápis de cor, até o mais contemporâneo recurso eletrônico. Rodrigo cumpriu a sua previsível sina: é o Desenhista Completo, como todos nós vemos nessa impressionante (a)mostra.
Ainda tem, é claro, o que conquistar. Depois de ilustrar os grandes autores nacionais e estrangeiros, talvez esteja pronto para a parceria definitiva (até hoje só esboçada): Rodrigo Rosa ilustrando roteiros… de Rodrigo Rosa!
Vai rolar? A história (em quadrinhos) dirá…
A trajetória de Rodrigo Rosa
O artista gráfico Rodrigo Rosa comemora 30 anos de carreira com uma mostra retrospectiva no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. 30 A TRAÇO – a carreira gráfica de Rodrigo Rosa (1986-2016), abre no dia 12 de abril, as 19 horas, e fica em cartaz até o dia 30. A mostra reúne mais de 150 originais e reproduções de trabalhos solo ou em parceria de nomes como Rubem Fonseca, Ana Maria Machado, João Guimarães Rosa, entre outros.
Com quadrinhos, ilustrações, cartuns e charges, Rosa revisa sua obra, iniciada com a publicação das tiras em quadrinhos do personagem Biquito no jornal Oi! Menino Deus, em 1986. Em meado dos anos 90, ingressa no jornal Zero Hora, onde se destaca como ilustrador das colunas de David Coimbra, Caio Fernando Abreu, Wianey Carlet, entre outros. No final da déacada, começa a participar de salões de desenho de humor no Brasil e no exterior e ganha mais de 30 prêmios em eventos prestigiados como o Salão de Piracicaba, o Youmiuri Shimbun (Japão) e o Ayidin Dogan Contest (Turquia).
No início dos anos 2000, começa a colaborar para grandes editoras brasileiras como Cia. das Letras, Nova Fronteira, Globo, Ática e outras. Desde então, ilustrou obras de autores como Erico Verissimo, João Ubaldo Ribeiro, Ana Maria Machado, Carlos Urbim e Carpinejar, entre outros.
Nos últimos anos, Rodrigo tem se dedicado especialmente as adaptações de clássicos em quadrinhos. Desde 2008, já quadrinizou O Cortiço, de Aloísio Azevedo, Os Sertões – a luta, de Euclides da Cunha, Memórias de um sargento de milícias, de Manoel Antônio de Almeida, Dom Casmurro, de Machado de Assis e Grande sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa (esta última, ganhadora do Prêmio Jabuti em 2015). Atualmente, Rosa finaliza a arte de O Seminarista, parceria com Rubem Fonseca e está roteirizando e ilustrando uma versão de Macunaíma, de Mário de Andrade.
Não bastasse todo a produção artísitica, Rodrigo ainda estreia como editor: está inaugurando a Figura Editora, especilizada em quadrinho e obras literárias que se destaquem pela ilustração. A novela gráfica Sharaz-De: Contos de as mil e uma noites, do mestre italiano dos quadrinhos Sergio Toppi, é o primeiro lançamento da editora. Na abertura da exposição, além desse título, haverá diversas obras e prints de Rodrigo para a venda.
30 A TRAÇO – a carreira gráfica de Rodrigo Rosa (1986-2016) tem a curadoria de Paulo Afonso Pereira da Rosa, pai do artista. “Meu pai, artista como eu, foi desde o início meu grande incentivador – me ensinando os primeiros passos no desenho, me levando a conhecer muitos artistas importantes e as primeiras redações – mas também é um dos meus mais sinceros críticos”, revela Rodrigo.
SERVIÇO
30 A TRAÇO – A carreira gráfica de Rodrigo Rosa (1986-2016)
Curadoria: Paulo Afonso Pereira da Rosa
Visitação: 12 a 30 de abril | Entrada livre
Local: Centro Cultural Erico Verissimo | Rua dos Andradas, 1223