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CANOAS | Vistoria nos diques indica onde houveram os ‘rasgos’ na contenção; a dinâmica da tragédia dá um passo à frente

Bairro Mathias Velho, um dos mais atingidos pela enchente, teve ruptura do dique constatada por vistoria da Secretaria de Obras na semana passada. Foto: Leonardo Henke/Especial

Na sexta, equipe da Secretaria de Obras estiveram no locais que deveriam proteger a cidade da enxurrada e foram vencidos pela maior cheia de todos os tempos

Entender o que houve para a submersão de todo o lado Oeste de Canoas é fundamental para que se possa pensar no ‘daqui para frente’. Na sexta, 10, uma equipe da Secretaria de Obras começou as vistorias nos diques do Rio Branco, do Fátima e do Mathias Velho para encontrar pontos de ruptura que levaram ao colapso da contenção.

De acordo com a Prefeitura, a estimativa é de que tenha havido um ‘rasgo’ de 50 metros tanto no dique do Rio Branco quanto no do Mathias. Essa falha estrutural ocorreu na madrugada de sábado, 4, quanto a cota do Rio Gravataí e do Rio do Sinos já era superior à altura das estruturas. Em termos de engenharia, um dique fica comprometido quando a água extravasa sua crista. Com água dos dois lados, a terra compactada amolece e perde força de tração para suportar a pressão que o volume o rio causa.

Não há como precisar, ainda, o horário exato em que houve o rompimento dos diques. Levando em conta o momento em que o primeiro andar do Hospital de Pronto Socorro de Canos foi inundado, é possível sustentar que o dique da Mathias tenha colapsado entre 4h e 4h30 da madrugada de sábado, 4. A contenção no Rio Branco e Fátima pode ter rompido antes deste horário.

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Vale lembrar que Mathias, Fátima, Rio Branco, Mato Grande e Harmonia já tinham grandes alagamentos no quando os diques se romperam. Além da chuva forte que caía na cidade naqueles dias, a cheia do Arroio Araçá e o extravasamento das contenções jogava água para dentro dos bairros. As casas de bomba vinham funcionando praticamente sem interrupção desde o final de semana de 27 e 28 de abril e mantinham o sistema de coleta de águas da chuva em atividade. Quando o dique rompeu, no entanto, 6 das 8 casas foram inundadas.

Nesta segunda-feira, 13, apenas as casas 1 e 2 estão funcionando — exatamente as que ficam no bairro Niterói. Das casas 3 a 8, em razão da enchente, a operação de bombeamento só poderá ser retomada após uma vistoria e manutenção nos equipamentos que ficaram submersos.

O secretário de Obras de Canoas, Guido Bamberg, acompanhou o trabalho de vistoria na sexta, 10. Ele pediu que a equipe pusesse a régua de medição em diversos pontos de inspeção para verificar o nível da inundação nos bairros do lado Oeste. No final do bairro Mathias Velho, próximo a casa de bombas número 6, a profundidade chegou a cinco metros, praticamente encobrindo casas com até dois andares. No Rio Branco, a medição não pode ser precisa. É que a régua de cinco metros foi completamente submersa na água e não chegou ao fundo da rua, ou seja, naquele ponto, é provável que água na sexta tenha ultrapassado o índice de seis metros de profundidade.

Plano é operar motobombas para escoar o alagamento

Desde quarta, os índices de elevação dos rios do Sinos e Gravataí vem caindo, mas voltaram a subir com as chuvas sobre a região e as nascentes no final de semana. No final da tarde desta segunda, 13, o Guaíba voltava a se aproximar dos cinco metros na régua da Mauá, o que indica que uma profundidade semelhante no Delta do Jacuí, onde desagua os rios que margeiam Canoas.

Enquanto a cheia do Guaíba não ceder lá, a água que se enche as calhas do Sinos e Gravataí e se espalha sobre as cidades da região não tem para onde descer.

A estimativa do IPH, o Instituto de Pesquisas Hidrológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é que o Guaíba entre em ritmo de queda na cheia a partir da próxima quarta-feira, 15. Os estudos apontam que deve voltar a patamares inferiores a quatro metros a partir do final de semana — o que permite supor que os esforços para bombeamento da água acumulada em todo o lado Oeste de Canoas podem surtir melhores efeitos a partir de então.

Em suas redes sociais, o prefeito Jairo Jorge informou que pretende instalar uma série de motobombas flutuantes ao longo do dique nos bairros Rio Branco, Fátima, Mato Grande e Mathias Velho para acelerar o escoamento natural das águas. Com o Sinos e o Gravataí baixando de um lado e as bombas a pleno de outro, o marcial em que metade da cidade se transformou acaba mais cedo.

“Mesmo com o rompimento dos diques, acreditamos que há locais onde será possível escoar a água com apoio de bombas flutuantes. Já nos locais mais próximos dos pontos de rompimento, a água deverá escoar por gravidade, na medida em que o rio volte ao seu leito”, frisou o secretário de Obras, Guido Bamberg.

No bairro Rio Branco, há pontos em que a água ultrapassou os cinco metros de profundidade, conforme vistoria da Secretaria de Obras. Foto: Leonardo Henke/Especial

A volta para casa

A diminuição das cheias e a operação das bombas é só o primeiro passo para que o lado Oeste de Canoas possa vislumbrar a volta de seus moradores. A prefeitura planeja um grande mutirão de limpeza para depois que as águas baixarem.

“Já estamos trabalhando na locação de caminhões de hidrojateamento para desobstruir as canalizações, teremos retroescavadeiras e caminhões caçambas para retirar os entulhos e o lodo das ruas”, adiantou o prefeito, em entrevista no sábado, 11, à Rádio Gaúcha. Essa operação de limpeza, ainda sem nome e sem data para ser iniciada, será coordenada pelo gabinete de gestão da crise. “Vamos manter toda esta estrutura mobilizada para atender as pessoas. O primeiro passo era o resgate e agora estamos na fase de acolhimento. Vamos, assim que possível, seguir para a reconstrução da cidade”, afirmou Jairo Jorge.

Com informações de ECom/PMC

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