RAFAEL MARTINELLI

O debate ‘chato’ entre Bordignon, Marco Alba e Zaffa

Bordignon, Marco Alba e Zaffa no debate mediado pelo jornalista Claudio Brito / Foto: Juliano Piasentin / GES - Especial

“Somos todos hipócritas quando criticamos a falta de propostas para cuidar da cidade. Uma cadeirada, merecida ou não, vale por mil páginas de ideias administrativas. Pelo menos no que se diz respeito a ser lembrado nas manchetes quando o debate termina”.

Assim o jornalista Xico Sá concluiu sua coluna Somos todos hipócritas: só baixaria importa em debate, publicada no ICL Notícias, após Guilherme Boulos ter sido ‘sumido’ do noticiário após adotar a estratégia de ignorar ataques e apresentar propostas em debate para Prefeitura de São Paulo.

Assiste razão ao jornalista. Sejamos filhotes do agoritmo, ou não, difícil é, àqueles que assistiram ao debate entre os prefeituráveis de Gravataí, promovido na manhã desta quinta-feira pelo Grupo Sinos/Rádio ABC 103.3, não considerá-lo “chato”.

Há algo mais chato nestes nossos tempos do que Daniel Bordignon (PT), Marco Alba (MDB) e Luiz Zaffalon (PSDB) terem apresentado legados, propostas e não terem atacado pessoalmente os adversários?

Nenhum direito de resposta foi pedido durante as duas horas de debate! Os recortes produzidos pelas campanhas terão pouco alcance, anotem.

O debate foi ruim por ser bom, ou bom por ser ruim, como preferirem. Essa sensação é obra das cadeiradas diárias na democracia e na política, cometidas mundo afora pelos próprios políticos, aspirantes e financiadores, e gritada nas redes antissociais por aqueles que só permitem a presunção de culpa – desde que os vilões não sejam os seus políticos, ou associados aos seus interesses financeiros, empregatícios, pentecostais ou ideológicos.

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Como no debate da Acigra, na ordem alfabética da urna, Bordignon lembrou seu legado de atrair a GM (mas sem ter aproveitado os bilhões no retorno de impostos da montadora arrecadados desde 2011 por Gravataí), prometeu participação popular na decisão dos investimentos, um governo para os mais pobres e recuperação dos 30% na defasagem dos salários dos professores e servidores municipais.

Marco Alba se apresentou como o ‘exterminador de dívidas’ – que alega ter herdado do PT, no passado, e, se eleito, herdará agora de Zaffa –, dizendo querer retomar o projeto do MDB que governa por 14 anos, o qual garantiu ao prefeito investir R$ 250 milhões por ter recebido a Prefeitura com “um cartão black”.

Zaffa apresentou suas realizações neste primeiro governo que, conforme ele, transformou Gravataí “na melhor cidade para morar e investir” no Rio Grande do Sul, pediu mais quatro anos para concluir seu projeto (citando Marco, que teve 9 anos, e Bordignon, que teve 8) e prometeu investir mais R$ 300 milhões nos próximos quatro anos.

Os três candidatos, mais uma vez, se comprometeram com um novo hospital em Gravataí.

O prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) e o ex-prefeito Marco Alba (MDB) seguindo os planos da Santa Casa, que administra o Dom João Becker e projeta o hospital Barbará Maix, ao custo de mais de R$ 200 milhões e cerca de 70 leitos.

Marco apenas acrescentou que busca mais leitos SUS do que no projeto apresentado em março.

O modelo de Bordignon é criar policlínicas a partir de projeto do governo Lula, que serviriam “de embrião” para um hospital federal.

Seja qual for o eleito, também teremos um serviço de saúde 24 horas na região do Parque dos Anjos em direção à Caveira. Bordignon e Marco com UPA, Zaffa com uma adaptação do novo posto da Sagrada Família.

Enquanto a chuva desabava e a água começava a subir para os ‘pobres de sempre’, os três prefeituráveis descreviam o que fizeram em seus governos para conter alagamentos e prometiam investimentos em drenagem, diques e casas de bombas, cujos recursos principais serão do PAC que prevê R$ 2,9 bilhões para a Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí.

Momentos menos chatos – pela régua do vício que nos acomete em cadeiradas verbais ou literais – aconteceram em embates sobre a paternidade da GM e as dívidas de Gravataí.

– Edir, que trabalhou muito pela vinda da GM, deve estar se remexendo no túmulo – disse Zaffa, lembrando o falecido ex-prefeito Edir Oliveira, após Bordignon se apresentar como o prefeito que trouxe a GM.

– Fui decisivo para a vinda da GM, que mudou a história de Gravataí. Não viesse, apontariam a culpa para mim – disse Bordignon, lembrando do anúncio em 17 de março de 1997, em seu primeiro governo, e apontando que metade do orçamento municipal de R$ 1,2 bi vem da GM.

Os três discordaram sobre o endividamento do município.

Marco apontou uma dívida de 54% da receita e fez uma projeção de que, com as dívidas previdenciárias cuja pedalada foi autorizada após a catástrofe climática de maio, e novo financiamento de R$ 200 milhões anunciado pelo prefeito, pode chegar a 94%.

Zaffa questionou o uso de dados do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e não da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), projetou aumento de receita que manterá o endividamento equilibrado e garantiu que fará novo financiamento.

– É investimento – disse, projetando 300 milhões em obras nos próximos quatro anos.

Marco e Bordignon, com Zaffa atingido por tabela, também divergiram sobre os R$ 400 milhões em dívidas que o emedebista disse ter pago como herança de governos do PT.

O petista alegou ter herdado dívidas que correspondia a três orçamentos “do grupo político” que circunda Marco e Zaffa. Não poupou seu hoje novamente aliado Sérgio Stasinski (PV), a quem creditou o descontrole nas contas e lembrou ter o ex-prefeito apoiado Marco e Zaffa.

Ao fim, recomendo ao leitor que assista. Chato ou não, é um exercício de cidadania. Sugiro, inclusive, salvar o vídeo, para depois cobrar. Inegável é que, para os novos padrões da política, foi um debate morno. Até o carteado entre os padres do seminário São José ferve mais.

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