RAFAEL MARTINELLI

Perfil conservador de vereadores de Cachoeirinha não impediu aprovação de mapeamento inédito da comunidade LGBTQIAPN+; Falta prefeito Cristian tornar lei

Gustavo Almansa é o autor do projeto de mapeamento

O perfil conservador não impediu a Câmara de Vereadores de Cachoeirinha de aprovar, por unanimidade, na terça-feira (29), o Projeto de Lei 13/2025, que institui o Mapeamento da Comunidade LGBTQIAPN+ no município.

De autoria do vereador Gustavo Almansa (PT), primeiro parlamentar assumidamente LGBTQIAPN+ da cidade, a iniciativa visa gerar dados oficiais para embasar políticas públicas em quatro eixos: Saúde, Educação, Combate à Violência e Trabalho e Renda.

“Esse projeto é resultado do compromisso que assumimos na campanha, como único vereador pertencente a essa comunidade. Compromisso com a saúde, com a qualidade de vida, com o respeito e também com a igualdade e com a inclusão em nossa cidade. Estamos na luta pelo fim das disparidades, dos estigmas e preconceitos, que cada vez tenham menos espaço em Cachoeirinha”, disse o parlamentar.

Dados contra a invisibilidade

O projeto surge para enfrentar a escassez de informações oficiais, um desafio nacional. Segundo o Datafolha (2024), cerca de 7% dos brasileiros (15,5 milhões) integram a comunidade LGBTQIAPN+, número subnotificado devido à falta de levantamentos governamentais. Em Cachoeirinha, estima-se que até 10 mil pessoas pertençam a esse grupo, entre os 141,3 mil habitantes.

“Sem dados concretos, as políticas públicas são feitas no escuro. Este mapeamento é um passo para tirar nossa comunidade da invisibilidade”, já explicou Gustavo Almansa, eleito em 2024 com uma campanha centrada em saúde pública e representatividade.

Estrutura e metodologia

A coleta de dados ocorrerá por meio de questionários, entrevistas, consultas públicas e parcerias com universidades, institutos de pesquisa e organizações da sociedade civil. Os resultados, anuais, serão públicos e anônimos, seguindo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O objetivo é identificar demandas específicas, como acesso à saúde qualificada para pessoas trans, evasão escolar por bullying e barreiras no mercado de trabalho.

A iniciativa reflete um cenário crítico: o Brasil lidera o ranking mundial de violência contra a população LGBTQIAPN+, com uma agressão registrada a cada hora em 2023. “Vivemos em um país onde nossa existência é combatida diariamente. Dados são armas contra o preconceito”, ressalta o vereador, que também propõe a criação de um Ambulatório T (especializado no atendimento a pessoas trans) na cidade.


Trajetória e expectativa pela sanção do prefeito

Nascido na periferia de Cachoeirinha, Gustavo Almansa, 32, iniciou sua trajetória política no grêmio estudantil. Formado em Odontologia pela UFRGS, especializou-se em saúde pública com foco em populações marginalizadas.

Irmão do ex-vereador David Almansa (PT), que foi o segundo colocado na eleição para a Prefeitura em 2024, foi eleito em meio a uma Câmara majoritariamente conservadora e é oposição ao governo Cristian Wasem (MDB).

Se sancionado pelo prefeito, o projeto poderá transformar Cachoeirinha em referência regional na criação de políticas baseadas em evidências. Além do mapeamento, o parlamentar defende educação permanente para servidores públicos e políticas intersetoriais.

Num país onde a violência e a exclusão ainda marcam a vida da comunidade LGBTQIAPN+, Cachoeirinha acena com a possibilidade de um futuro mais visível — um pequeno passo no mapa, mas um salto na luta por direitos.

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