Crise do coronavírus

CANOAS | Mantida a cogestão, Canoas vermelhou na bandeira preta

Prefeito, vice e secretários anunciaram regras de bandeira vermelha para Canoas, apesar da classificação preta determinada pelo Estado. Foto: Reprodução

Em live na noite de ontem, prefeito explicou decisão que abranda regras mesmo diante de um quadro tenso da pandemia

Eduardo Leite (PSDB) passou a maior parte da segunda-feira tentando convercer prefeitos a suspender a cogestão no sistema de Distanciamento Controlado durante o período mais duro da pendemia enfrentado até aqui. Não teve sucesso. Ao final da tarde, em live, disse que os município poderiam compor regras alternativas de acordo com a realidade local.

Foi o que Canoas fez.

Também em live, à noite, o prefeito Jairo Jorge (PSD) ao lado do vice, Nedy de Vargas Marques e do secretário de Enfrentamento à Pandemia, Felipe Martini, confirmou que Canoas está em bandeira preta mas flexibiliza regras e protocolos para bandeira vermelha. Em outras palavras, afasta o fechamento do comércio não essencial e mantém a cidade circulado – apesar o alto risco de contágio e da escalada vertiginosa no número de internações hospitalares por conta da doença.

O risco é alto. E Jairo sabe. Durante a live, reinteradas vezes pediu o esforço de todos para superar o que deve ser o grande pico do coronavírus por aqui. Mais cedo, Eduardo Leite disse que em julho do ano passado, no auge da primeira onda da Covid, o Rio Grande do Sul registrava 64 internações por dia devido à doença; em novembro, 67 por dia. Agora, as internações passam de 170 – por dia. "Se não nos unirmos todos, evolui para um lockdown", admitiu o prefeito, também ciente da gravidade dos números.

Canoas já abriu 51 novos leitos de UTI e está prestes a ampliar os leitos de retaguarda em enfermaria – no Graças, semana que vem, com a conclusão da reforma de uma ala inteira que estava desativada no hospital, serão mais 45. Só na segunda, 20 UTIs foram abertas – mas 14 pessoas já estavam a espera em leitos nas UPAs da cidade. Mesmo que tivéssemos a capacidade de criar leitos à vontade – e não a temos -, o contágio está mais rápido, agora. E isso tem explicação: os assintomáticos e a prevenção que despenca como uma goiaba madura.

Não há uma estatística irrefutável, mas em países como os Estados Unidos e China, onde foram feitos testes em massa para o coronavírus, a proporção média é de um caso que chega ao sistema de saúde para outros quatro que ficam de fora. Esse que chega, é testado e entra na estatística costuma ser o sintomático – aquele que tem tosse, sente falta de ar, cansaço, perde olfato e paladar, por exemplo. Outros quatro, igualmente contaminados, não sentem nada – ou os sintomas são tão leves que as pessoas desacreditam que estejam com o vírus e, portanto, seguem a vida normalmente.

Em Canoas, com um contingente de casos confirmados desde de março do ano passado beirando os 25 mil, é possível que tenhamos, na verdade, 100 mil pessoas que estão com ou tiveram a Covid-19.

Isso e o relaxamento nos cuidados de prevenção explica a atual ocupação hospitalar. Tem muito mais gente doente agora porque o vírus circula mais – bem mais, no caso – do que as estatísticas mostram. Só agora, quase um ano depois de instalada a pandemia, percebemos que uma em cada quatro mortes atribuídas à Covid-19, na verdade, se deram por sequelas da doença e não pela infecção em si, como contou reportagem da Folha de São Paulo na edição desta segunda-feira, 22. 

A vacina, que pode nos livrar a médio prazo do colapso de Manaus, ainda é incipiente – mas já tirou milhares de idosos da fila de candidatos à ocupação de uma UTI, deflagrando a mais óbvia das conclusões: agora, os pacientes mais graves e em maior número nos hospitais são os da faixa etária imediatamente inferior. Tem mais gente de 40, 50 anos internada em estado grave em fevereiro – e isso só se explica pela necessidade de circular, a trabalho ou nem tanto, que todos se impuseram nestes dois primeiros meses de 2021.

Por fim, para encerrar o textão da terça-feira, torço para que a flexibilização que o prefeito Jairo Jorge deu à cidade seja, de fato, a medida certa.  A economia de Canoas também luta contra o colapso e não podemos esquecer disso, nunca. Não quero lockdown nem fecha-tudo; ao contrário. Mas sempre que vejo um governante nessa posição, como vi Luiz Carlos Busato ano passado e Jairo Jorge agora, lembro que a decisão que eles tomam se parece com aquela que leva o caminhão mais para o lado do abismo ou do rochedo; e, nessas horas, desejo a eles foco na estrada e firmeza.

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