3º Neurônio | opinião

Libertação do traficante pelo ministro do STF ressuscitou os justiceiros na imprensa

Não sei quem inventou. Mas sei que se tornou popular nas redações dos jornais do Brasil nos anos 90 a frase: “ A  polícia prende e a Justiça solta”.  Em ocasiões especiais  nos dias atuais,  essa frase volta a circular no nosso meio com muito vigor.  Na maioria  dos conteúdos jornalístico, a frase  não  está escrita.  Mas está nas entrelinhas.  E a usamos para estruturar os nossos textos, vídeos, áudios e comentários.   É o caso do traficante André Oliveira Macedo, 43 anos, André do Rep, solto por um habeas  corpus dado pelo ministro Marco Aurélio Mello, 74 anos, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi solto graças a uma brecha encontrado no Código de Processo  Penal  pelos advogados do criminoso.   O habeas saiu  em uma sexta-feira (09/10),  no dia seguinte  ele  foi solto da Penitenciária de Segurança Máxima Presidente Venceslau II e fugiu do país.  A brecha na lei está sendo fechada. Vou usar esse episódio para falar com os meus colegas, em especial os repórteres jovens envolvidos na correria da cobertura do dia a dia, sobre os justiceiros nas redações.

Antes de contar a história, eu quero fazer uma observação que considero importante.   Ao contrário do que estamos informando ao nosso leitor, o perigo do André do Rep não é só pelo fato dele ser da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e estar condenado a 25 anos de cadeia pelo tráfico de drogas e outros crimes.  Mas por ser de uma nova geração de traficantes que  está tornando o Brasil um México, um pais que por ser porta de entrada das drogas no maior mercado consumidor  do mundo, os Estados Unidos.  Hoje  os  cartéis mexicanos  compram cocaína  no atacado da Colômbia para vendem  no varejo  para as quadrilhas americanos.  No caso do Brasil a cocaína colombiana vai para os países europeus  e novas rotas  que abastecem  o costa leste dos Estados Unidos.  E por causa disso os policiais americanos e europeus também estão  interessados no André do Rep.  Além dos policiais no seus rastro, o foragido também está envolvido em um racha na direção do PCC.  A soma disso tudo significa que a vida do André do Rep fora da cadeia não vai ser fácil.

Voltando a contar a história.  Os justiceiros nas redações são os jornalistas que vão pelo caminho mais fácil para explicar as coisas para os leitores.   Vamos pegar o exemplo do episódio do ministro Marco Aurélio e o traficante  André do Rep.  A única garantia que o cidadão comum tem de que não será preso  pela polícia e pendurado em um pau de arará  – instrumento de tortura  –  é o Código de Processo Penal e a liberdade de imprensa.  As leis no Brasil estiveram congeladas de 1964 até 1985, período que durou a Ditadura Militar. Elas só voltaram a vigorar e a se aperfeiçoarem  a partir de  1988 com a publicação da constituição.  São apenas  32 anos de liberdade.  Ainda estamos aprendendo a sermos livres. Portanto encontrar e fechar as brechas nas leis fazem  parte do processo de aperfeiçoamento da nossa  democracia. Fechar as brechas das leis não pode ser feito de uma maneira autoritária é preciso respeitar o processo democrático.   Isso ainda acontece em países  como   França e os Estados Unidos tem mais de dois séculos de liberdade.

Nos  dias  atuais, um jornalista não nasce um justiceiro. Ele se torna um na busca da simpatia do leitor que significa prestígio e a garantia do seu emprego.  Isso foi usado contra nós,  de uma maneira muito inteligente pelos operadores da Operação Lava Jato.  O então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal, Curitiba (PR) e  o procurador da República  Daltan Dallagnol forçaram o limite da lei em busca do título de caçadores de corruptos.  Há uma  abundancia de matéria sobre o assunto publicado pelo site  The  intercept  Brasil.  Não  sou  ingênuo em acreditar que nós jornalistas havíamos aprendido a lição com a Lava Jato que defender  quem ultrapassa os limites da lei em nome de  uma causa pode nos tornar cúmplices de uma situação, como a que vivemos hoje com o presidente da República Jair Bolsonaro  (sem partido), um governo que ninguém sabe no irá dar. Mas digo que a única maneira de nossa profissão sobreviver é nos tornarmos relevantes para os nossos leitores. E  isso significa termos a capacidade de  distinguir os interesses das grandes corporações de comunicação e das forças políticas que disputam o poder da necessidade que o nosso leitor tem de receber uma informação correta.  A única arma que ele tem para sobreviver no meio dessa confusão é organizar a vida da sua família é a informação correta.  Se ele gosta ou não gosta é problema dele. Nós repórteres não estamos em um concurso de simpatia. É por aí colegas. 

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