Um dos Grandes Lances dos Piores Momentos da pandemia em Gravataí. Enquanto durante o isolamento social comerciantes passam mal contando boletos e perdem a respiração ao pensar em pagar os funcionários dia 5, o vereador Clebes Mendes acaba de postar uma foto almoçando em um restaurante.
Não localizei no Decreto 17.815/2020, publicado pelo prefeito Marco Alba, artigo que permitisse o estabelecimento estar funcionando com comida servida na mesa – o que aconteceu, os pratos com restos de churrasco mostram, e a falta do uso de máscaras evidencia.
Até o fechamento do artigo, o secretário da Saúde Jean Torman não respondeu minha consulta sobre o desrespeito às atuais normas sanitárias.
Recebi o post de comerciantes indignados. Nos comentários no perfil do Facebook do político, nem seus eleitores perdoaram. Para piorar, Clebes é do MDB, mesmo partido do prefeito que prorrogou ou isolamento social até o dia 30, como tratei ontem em A vida em Gravataí não volta ao ’normal’ dia 1º de maio.
Clebes é fã de Jair Bolsonaro. Já recebeu uma ligação do então candidato a presidente ao saber do apelido que dei a ele, de ‘O Bolsonaro da Aldeia’, como contei em Bolsonaro ligou para o vereador Clebes. Também já critiquei o mau exemplo e o risco assumido pelo vereador ao posar para foto armado, em Clebes tem uma arma; desnecessária – e perigosa – exposição.
Mas, neste sábado, o político não apenas imitou o jeito ‘napoleão de hospício’ de seu ‘mito’, como reprisou uma ilegalidade.
É o crime funcional de funcionário público contra a administração pública tipificado como ‘prevaricação’. Conforme o Artigo 319 do Código Penal Brasileiro, consiste em “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.
É passível de detenção, de três meses a um ano, e multa.
Ao fim, Clebes faz o que ninguém da oposição fez, por responsabilidade – e com curtida do ex-deputado federal Jones Martins: avacalha o isolamento social decretado pelo prefeito.
Lembrou-me trecho da peça Os Órfãos de Jânio, de Millôr.
Um general: “À noite, contemplando essas maravilhas do Universo, essa obra incomparável do todo-poderoso, bilhões e bilhões de astros brilhando a distâncias de bilhões e bilhões de anos-luz, é que podemos perceber a grandeza do infinito e a humildade, a pequenez, a insignificância dos civis!”.
Parafraseando, sentem-se ‘civis’ àqueles com as portas fechadas.
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