Inimaginável Jair Bolsonaro ter usado a palavra “prudência”, como relata o ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, Marcos Pontes. Tenha dito um ‘tem que ver isso aí, astronauta!’, não importa: me parece correta a recomendação do presidente para o governo federal adiar o uso de dados de celulares para monitorar o deslocamento das pessoas durante o isolamento social em meio à pandemia do novo coronavírus.
– Só usaremos se análises garantirem a eficiência e a proteção da privacidade dos brasileiros – disse o primeiro cidadão brasileiro a embarcar em uma missão especial.
Conforme o G1, no início do mês, o Sinditelebrasil, que representa as principais operadoras de telefonia do Brasil, informou que as empresas que ofereceram ao governo os dados para monitoramento da movimentação dos clientes.
Os dados poderiam ajudar, por exemplo, na identificação de situações de risco de contaminação pelo novo coronavírus. O que é disponibilizado, informou o sindicato, são os dados de mobilidade originados pelos celulares ligados às suas redes e organizados de forma anônima.
Os dados de celular já são usados, por exemplo, pelo governo de São Paulo para monitorar a adesão da população às medidas de isolamento social. O Rio Grande do Sul também está testando. Os estados tem autonomia para firmar acordos diretos com as operadoras.
Mesmo que o sistema atual não use dados pessoais, mas aponte apenas a aglomeração por mapa de calor, relembro o artigo O mundo após o coronavírus, que publiquei no Seguinte: em 21 de março.
Associei-me ao que alertou o escritor israelense Yuval Harari, autor de Sapiens e Homo Deus, para o Financial Times: “essa tempestade vai passar. Mas as escolhas que fazemos agora podem mudar nossas vidas nos próximos anos”.
– Muitas medidas de emergência de curto prazo se tornarão um elemento da vida. Essa é a natureza das emergências. Eles avançam rapidamente nos processos históricos. As decisões que em tempos normais podem levar anos de deliberação são aprovadas em questão de horas. Tecnologias imaturas e até perigosas são colocadas em serviço, porque os riscos de não fazer nada são maiores. Países inteiros servem como cobaias em experimentos sociais em larga escala – observa o ‘guru dos anos 20’, rótulo que ganhou por ser um dos pensadores contemporâneos mais requisitados do mundo após a publicação de Sapiens, em que resume 70 mil anos de história da nossa espécie.
O autor que cativou leitores como Barack Obama, Bill Gates e Mark Zuckerberg, cita escolhas para o momento de crise: a primeira é entre isolamento nacionalista e solidariedade global; a segunda é entre vigilância totalitária e empoderamento do cidadão.
Yuval Harari analisa que para interromper a epidemia, populações inteiras precisam obedecer a certas diretrizes. Um método é o governo monitorar as pessoas e punir aqueles que violarem as regras. Hoje, pela primeira vez na história da humanidade, a tecnologia torna possível monitorar todos o tempo todo.
– Você pode argumentar que não há nada de novo nisso tudo. Nos últimos anos, governos e empresas vêm usando tecnologias cada vez mais sofisticadas para rastrear, monitorar e manipular pessoas. No entanto, se não tomarmos cuidado, a epidemia pode, no entanto, marcar um importante divisor de águas na história da vigilância. Não apenas porque pode normalizar a implantação de ferramentas de vigilância em massa nos países que até agora as rejeitaram, mas ainda mais porque significa uma transição dramática da vigilância "sobre a pele" para a vigilância "sob a pele" – prevê, lembrando que, “até então, quando seu dedo tocou a tela do seu smartphone e clicou em um link, o governo queria saber exatamente o que seu dedo estava clicando. Mas com o coronavírus, o foco do interesse muda. Agora o governo quer saber a temperatura do seu dedo e a pressão sanguínea sob a pele”.
Segue o ‘guru’: “o problema é que nenhum de nós sabe exatamente como estamos sendo vigiados e o que os próximos anos podem trazer. A tecnologia de vigilância está se desenvolvendo a uma velocidade vertiginosa, e o que parecia ficção científica há 10 anos é hoje uma notícia antiga. Como um experimento mental, considere um governo hipotético que exija que todo cidadão use uma pulseira biométrica que monitore a temperatura do corpo e a freqüência cardíaca 24 horas por dia. Os dados resultantes são acumulados e analisados por algoritmos governamentais. Os algoritmos saberão que você está doente mesmo antes de conhecê-lo e também saberão onde você esteve e quem conheceu. As cadeias de infecção podem ser drasticamente encurtadas e até cortadas por completo. É possível que esse sistema possa parar a epidemia em questão de dias”.
Parece maravilhoso, certo?
“A desvantagem é, obviamente, que isso daria legitimidade a um novo sistema de vigilância aterrorizante. Se você sabe, por exemplo, que cliquei no link da Fox News em vez do link da CNN, isso pode lhe ensinar algo sobre minhas opiniões políticas e talvez até sobre minha personalidade. Mas se você puder monitorar o que acontece com a temperatura do meu corpo, pressão sanguínea e batimentos cardíacos enquanto assisto ao vídeo, você pode aprender o que me faz rir, o que me faz chorar e o que me deixa muito, muito zangado”.
– É crucial lembrar que raiva, alegria, tédio e amor são fenômenos biológicos, como febre e tosse. A mesma tecnologia que identifica tosse também pode identificar risos. Se as empresas e os governos começarem a coletar nossos dados biométricos em massa, eles podem nos conhecer muito melhor do que nós mesmos, e podem não apenas prever nossos sentimentos, mas também manipular nossos sentimentos e vender-nos o que quiserem – seja um produto ou um político. O monitoramento biométrico faria as táticas de hackers de dados da Cambridge Analytica parecerem algo da Idade da Pedra. Imagine a Coréia do Norte em 2030, quando todo cidadão deve usar uma pulseira biométrica 24 horas por dia. Se você ouvir um discurso do Grande Líder e a pulseira captar os sinais reveladores de raiva, você estará pronto – instiga.
Ao fim, associo-me à “prudência” recomendada por Bolsonaro, mesmo que obviamente a preocupação do ‘mito’ seja avacalhar o isolamento social e não com uma arapongagem na vida privada dos brasileiros, ou dos terráqueos. Meu medo é no futuro um 'Nº 38' dessa linhagem de napoleões de hospício fazer arminha empoderado com uma tecnologia dessas!
Se bolsominions, carreaters, walking velhos, ricos de Celta ou Renegade pedalado leram até aqui, testemunham o dia em que consigo elogiar o presidente.
LEIA TAMBÉM
Há suspeita de 3 mortes pela COVID 19 em Gravataí
Vítimas da COVID 19 devem ser cremadas em Gravataí; caixão fechado
O medo não usa máscara no hospital de Gravataí
Hoje chocolate, amanhã UTI; Parabéns, Gravataí, por não aderir ao ’liberou geral’ e
O perfil dos infectados pela COVID 19 em Gravataí; de 11 para 330 casos?,
Parem Gravataí que eu quero descer!; declaro-me Inimigo do Povo, amigo da vida
EXCLUSIVO | Pesquisa mostra que Gravataí aprova o ’fecha tudo’ de Marco Alba
Clique aqui para ler a cobertura do Seguinte: para a crise do coronavírus





