Quem espera pelo ônibus na parada 51 de Cachoeirinha, todas as manhãs, já deve ter encontrado por ali a jornalista Sônia Zanchetta com, pelo menos, uma sacola cheia de livros. É ela que sempre recarrega as prateleiras sempre bem decoradas da Parada da Leitura, uma iniciativa encampada pela Sônia que, em dezembro, completou um ano, e não para de colher os bons frutos do estímulo à leitura.
— Pelo menos uma vez por semana, eu pego um livro aqui e trago os meus. É uma grande ideia para incentivar todos a lerem — diz a dona de casa Maria Gleci, de 62 anos, que, na manhã desta quarta, estava folheando alguns exemplares para escolher o que levar para casa.
A regra do projeto é bem simples: o importante é que as histórias circulem. E nada melhor do que uma parada de ônibus para representar este conceito. A partir daquelas prateleiras, é possível doar livros, pegar emprestado para ler em casa e depois trazer de volta, ou trazer novos títulos, ou ainda ler só um pouquinho enquanto espera o ônibus.
— Ao longo deste tempo, tenho visto histórias muito bonitas, como a de um senhor, morador do bairro Jardim Vitória. Ele sempre vem de bicicleta até aqui para buscar livros. Outro dia, encontrou um título do Paulo Coelho e ficou encantado, contou o quanto aquela história foi prazerosa para ele.
Seria o segundo título de Paulo Coelho que ele leria. Ambos, encontrados na parada.
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A Parada da Leitura é pioneira na cidade. Foi desenvolvida pela Sônia como parte de um projeto maior e mais antigo, mantido por ela, a Quitanda da Leitura.
— Eu já tive mil livros e, durante um tempo, criei uma espécie de quitanda com estes livros para que as pessoas pegassem, trocassem, enfim, fizessem os livros circularem. A ideia cresceu e começou a ser multiplicada — vibra.
Pois foi só a parada começar a funcionar para fomentar iniciativas semelhantes. Na parada 58, em frente ao Wal Mart, um grupo chamado Leitura Urbana criou, em setembro do ano passado, a sua própria biblioteca na parada de ônibus, seguindo o mesmo modelo. Conforme a prefeitura, o canal para quem quiser encampar uma parada de ônibus com projetos culturais como este está aberto.
: Sônia Zanchetta tomou a iniciativa de criar a Parada da Leitura, no final de 2017 | GUILHERME KLAMT
A quitanda também tem seus seguidores, como o caso de uma dona de casa, no bairro Jardim Vitória, que criou a Garagem da Leitura. Há também o Ponto de Leitura Sol e Lua, que é coordenado pela Sônia Zanchetta no bairro Carlos Wilkens.
Na semana marcada pelo Dia do Leitor, idéias como as paradas com livros tendem a se tornar algo maior em Cachoeirinha. Começou a ser discutido pela prefeitura e pela coordenação da biblioteca pública um projeto de incentivo à leitura a ser encampado pelo poder público. Segundo Sônia, que participa das conversas, será uma forma de integrar os diversos projetos semelhantes que têm surgido nos últimos meses na cidade.