opinião

A coragem do Jones em votar as reformas

Jones Martins (D) em debate sobre as reformas no Congresso Nacional

Goste ou não de Jones Martins (PMDB), é preciso saudar que o eleitor pode julgá-lo às claras por suas posições.

O deputado federal de Gravataí votou a favor da reforma trabalhista e, se ainda estiver em Brasília, vai votar a favor da reforma da previdência do jeito que o presidente Michel Temer pedir.

Talvez ele não precise aparecer em preto e branco como um sim nos cartazes dos sindicatos porque o governo teme que José Fogaça, como fez na trabalhista, vote contra a reforma da previdência.

Como Fogaça e Jones são suplentes, para tirar o ex-prefeito de Porto Alegre do plenário, seria necessário que todos os três deputados titulares assumissem. Então, provavelmente Jones não esteja no cargo durante a votação da mais polêmica das reformas.

Mas ter lado sempre foi uma característica de Jones. Quando foi vereador, e não tinha 30 anos, fez uma oposição solitária ao segundo governo de Daniel Bordignon, talvez um dos mais populares da história da aldeia.

Ao fim do segundo mandato, foi recompensado por 51 mil votos ao concorrer a prefeito, perdendo para Rita Sanco, o ‘poste’ petista da época após a impugnação do ‘Grande Eleitor’ às vésperas da eleição de 2008.

Sempre PMDB, você não vai vê-lo fugindo da foto com o presidente eleito para ser vice. Pelo contrário, ele posta com orgulho no Facebook. Seja qual for a manchete do dia, jamais o verá negando a relação íntima com Eliseu Padilha, ministro chefe da Casa Civil e número 1 de Temer. Se você apertá-lo sobre Sartori, dirá que o governador está fazendo o que tem que ser feito. Fale com ele e ouvirá gratidão a Alberto Beltrame, com quem trabalhou no Ministério da Saúde no governo Dilma, e no Instituto do Coração, em Brasília.

Do respeito ao prefeito Marco Alba, nem se fala. Brigam às vezes, mas Jones nunca fez críticas públicas, pelo contrário, e pacientemente não avança a fila, esperando ser em 2020 o candidato a prefeito do grupo político que comanda Gravataí desde o impeachment de outubro de 2011.

 

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Jones não tem se intimidado com os grrs que tem recebido no Facebook, com as críticas da oposição na Câmara ou os carros de som que andaram pela cidade convocando para a greve geral e o apresentando como traidor do povo brasileiro.

Em conversas com o Seguinte:, o deputado faz uma defesa apaixonada das reformas como única saída para tirar o Brasil de uma das maiores crises da história. Otimista, acredita que os brasileiros vão viver a tempo de receber a aposentadoria e a Casa Grande não vai engolir a senzala nas negociações salariais entre patrões e empregados.

Advogado, se mostra um estudioso dos textos. Na reforma trabalhista, integrou a comissão especial que preparou o projeto para ir ao plenário. Não faltou a nenhuma sessão e percorreu a região metropolitana e o interior gaúcho defendendo o que chama de ‘modernização’ da CLT.

– Pouca gente conhece as reformas. Nas redes sociais é uma guerra que não há como vencer – lamenta, dizendo que sempre respondeu aos comentários em seu perfil pessoal, inclusive disponibilizando seu telefone, mas até hoje nenhum dos contrários o procurou para ouvir argumentos.

– Na política, prefiro a verdade à mentira, ao discurso fácil, mesmo que pague um preço por isso.

Crítico contumaz do ‘jeito petista de governar’, Jones se irrita com a demagogia do jogo político.

– A oposição quer passar a ideia de que não tem nada a ver com isso. Por que fazem esse discurso tão virulento? O país faliu nos últimos 12 anos. São 14 milhões de desempregados, todos os índices foram para baixo. Fizeram política populista, fisiologista, assistencialista. Temos mais de 100 milhões de brasileiros, metade da população, que dependem diretamente de algum benefício estatal. Quem é que vai dar conta disso? – diz, ao vivo, por telefone, na rede social, para o jornal, em plenário e para quem quiser ouvir.

Ele lamenta que apenas longe das câmeras e microfones os discursos mudem e todos admitam a necessidade urgente de reformas.

– As reformas também foram defendidas pela ex-presidente Dilma, que só não as fez porque não teve articulação no Congresso Nacional, principalmente na Câmara dos Deputados.

Num país onde tantos não conseguem ser a favor ou contra, conservadores ou revolucionários mais do que um dia inteiro, e olhos teimam a baixar para o próprio umbigo, muito mais do que o Brasil sair da crise, o quão fundo as reformas avançarão individualmente no bolso e na vida das pessoas é o que dará a dimensão do preço que Jones vai pagar.

 

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