Acelera em Gravataí um movimento contrário ao pedágio na ERS-118, que após 20 anos de duplicação de 22 quilômetros, a um custo de R$ 400 milhões para o contribuinte, será entregue à iniciativa privada, como tratei em Após 400 milhões de dinheiro público, ERS-118 será concedida para pedágio; 040 e 020 também.
A iniciativa corre contra o tempo, já que o pacotaço da concessão é plano do governo Eduardo Leite também para 020, outra rodovia estadual que passa por Gravataí, e a ERS-040, em Viamão.
– A sociedade não pode pagar outra vez a conta depois que, com dinheiro dos impostos, a 118 foi duplicada – argumenta o vereador Paulo Silveira (PSB), que gravou vídeo na rodovia nesta sexta e postou em seu perfil no Facebook anunciando que vai mobilizar Câmara, Prefeitura e entidades em um movimento anti-pedágio.
Paulinho já tem experiência no tema. Por anos integrou comitês e foi um dos entusiastas da mudança da praça do pedágio da Freeway, ocorrida em 2020 livrando motoristas de Gravataí do assalto diário ao bolso para ir a Cachoeirinha e Porto Alegre.
O movimento deve ter apoio também na Assembleia Legislativa. Nesta semana, após publicar artigo sobre o tema, troquei mensagens com a deputada estadual Patrícia Alba, ex-primeira-dama de Gravataí, que se mostrou contrariada pelo governador planejar a concessão após quase meio bilhão de investimentos públicos.
– Não sou contra pedágio, mas sim entregar a rodovia depois de duplicada. Eu seria a favor de pedagiar para duplicar, mas não agora – posicionou-se a advogada, pelo WhatsApp.
O posicionamento se dá mesmo que Patrícia, e o ex-prefeito Marco Alba, concordem com minha análise em Duplicação completa da RS-118 é uma fake news, de que a rodovia, ao menos em Gravataí, não está terminada, já que não foi resolvido o gargalo e quilômetro da morte na região da Centenário e do Distrito Industrial
Empresários e entidades da região também estão se mobilizando contra o pedágio, como o jornalista Cristiano Abreu reportou no Seguinte: em Pedágio após 400 milhões em obras na RS-118: empresários criam movimento contra; O bode de Leite.
– A Região Metropolitana, que é cortada pela RS-118, está se tornando um polo de logística. Tem muito potencial para isso. No momento da instalação de pedágio tu começa a cercear essa oportunidade que a gente tem de explorar a rodovia – resumiu Rudinei Leite, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Sapucaia do Sul (Acis), município também cortado pela rodovia, e aponta como alternativa pedagiar a RS-010, ainda só projetada em software.
Conforme estudo de viabilidade encomendado pelo Palácio Piratini, e já em fase de conclusão, a intenção do Governo do Estado é de que o vencedor do leilão se responsabilize pela manutenção da ERS-118. A duplicação entre Gravataí e Viamão, neste caso, seria obrigatória e ocorreria até o quinto ano do contrato.
Se a proposta avançar, haverá ao menos uma praça de cobrança, com tarifa calculada em até R$ 7,37 por trecho (cobrança nos dois sentidos). Dois locais são estudados para a instalação, porém o governo ainda não revela a localização.
O secretário extraordinário de parcerias do governo gaúcho afirmou a GZH que pedagiar a RS-118 é uma proposta que pode não ser seguida se a rejeição popular aumentar. Contudo, Leonardo Busatto sugeriu que a rodovia ficará sem investimentos públicos futuros, e, mesmo que de forma velada, deu a entender que a obra executada entre Sapucaia e Gravataí é de baixa qualidade.
– A proposta é pedágio na 118. A alternativa é tirar a 118 das concessões e não ter investimentos pelos próximos 30 anos. Demorou quase 30 anos pra duplicar. Em pouco tempo, voltará a ficar cheia de buracos e mal sinalizada, se não estiver na concessão. Mas é uma escolha – disse.
Fato é que, se o pedagiaço acontecer, é só mais um dos Grandes Lances dos Piores Momentos do capitalismo à brasileira, sem riscos e com lucro garantido. Como jornalismo é dar nome às coisas: privataria.
Não vejo diferença entregar a 118 pronta para alguém explorar do que faz um vigarista, ou, vá lá, desesperado ou coitadinho, que ganha uma casa no PAC ou no Breno Garcia, feita com dinheiro público, e bota para vender.
Ao fim, reputo acerta Paulo Silveira ao, em nome de sua cidade, se insurgir contra o governo o qual seu partido participa. O ex-prefeito de Cachoeirinha José Stédile, por exemplo, para quem o vereador pediu votos para deputado federal, é secretário de Estado.
É coragem política.
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