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A maior gremista de Gravataí

A professora Ana Maria Esquiam mantém em casa um acervo que ela mesmo montou com tudo que se possa imaginar referente ao seu clube do coração, o imortal tricolor, como é chamado o Grêmio.

Quando chegamos à frente da casa da professora Ana Maria Rodrigues Esquiam, na segunda-feira (2/9) desta semana, com o propósito de fazermos uma reportagem com aquela que pode ser a maior torcedora gremista do Rio Grande do Sul, eu e o editor de imagens do Seguinte:, Guilherme Klamt, pensamos estar no endereço errado.

Afinal, a primeira coisa que vimos – e nos olhamos incrédulos e duvidosos sobre estarmos no endereço certo – foi um gigante escudo do Sport Club Internacional pintado na parede direita da garagem. Parece que a porta grandona até foi deixada erguida, de propósito, por Carlos Alberto Padilha Esquiam, o colorado marido da professora.

Muito tranquilo e sorridente (parece que ele tinha percebido o impacto daquele escudo vermelho nas nossas intenções!), Carlos Alberto, um microempresário do ramo da eletrônica, nos conduziu até uma ampla sala onde a esposa, Ana, nos aguardava sobre uma cama. Ela ainda está convalescendo de uma violenta queda que sofreu e usa cadeira de rodas para se locomover.

Na verdade a ampla sala, que tinha até colcha de chenille – azul, claro! – sobre a cama, mais parece um daqueles ambientes, no estilo de um museu, que deve ter em algum canto da Arena, em que o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense expõe suas relíquias, troféus e souvenirs que lembram as muitas conquistas e glórias do clube azul, preto e branco.

É tudo azul!

É tudo do Grêmio, pelo Grêmio e para o Grêmio! Pensa em uma gremista fanática. Pensou? Pois então!

Ela é Ana Esquiam, 67 anos, professora de Português e Literatura Brasileira, hoje aposentada, natural da cidade de Cacequi e que mora em Gravataí há 39 anos. Casada com Carlos Alberto, é mãe de dois filhos. Um gremista e um colorado. E avó de dois netos, um de oito e outro de três anos. O mais velho já se decidiu, vai torcer pelo Grêmio.

— O pequeno ainda não se definiu, é muito novinho. Mas com certeza vai ser gremista também por causa dela (Ana Maria). Ela faz uma pressão danada em cima do guri — conta Carlos Alberto, à boca miúda, quando estamos um pouco mais distante da sua parceira de vida.

Logo que chegamos e para quebrar o gelo, depois de perguntar sobre o escudo na garagem e ver aquele mar azul na sala-quarto-museu, arrisquei, referindo-me ao marido:

— Quer dizer, então, que a senhora, uma gremista ferrenha, literalmente dorme com o inimigo?

— Pois é, fazer o quê?! Mas ele é bonzinho — emenda a professora olhando para o marido por sobre os óculos, quase uma intimação, ou intimidação, do tipo “coitado dele se não for!”.

Flâmulas, chaveiros, canecas, bonecos, almofadas, medalhas, posters de times campeões, cadernos e agendas com centenas de autógrafos, milhares de fotografias de ídolos gremistas, outras tantas dela com jogadores, treinadores e dirigentes, Uma infinidade de recortes de jornais com reportagens sobre o clube, atletas, campeonatos e conquistas, camisetas e mais camisetas…

Tem de tudo na sala da Ana Maria.

Os souvenirs

E – talvez – o que pode ser mais importante em todo este acervo é uma cadeira, a J 206, que era sua e que ocupava no velho e hoje abandonado Olímpico, no bairro Azenha, que os gremistas mais saudosistas e veteranos insistem em chamar de Monumental. Aliás, o nome é mesmo Estádio Olímpico Monumental. Ou não, Jorge Tafras?

Quando o Grêmio mudou para sua casa nova, a Arena – no bairro Humaitá – e estava vendendo souvenirs do Olímpico que variavam de pedaços de azulejos, tijolos e outras coisas menores, inclusive as cadeiras, Ana fez questão de ficar com aquela em que sentava e assistiu muitas vitórias, empates e derrotas (sim, derrotas, por que não?) do seu clube do coração.

Pagou R$ 300,00 pela sua cadeira.

Quando recebeu, porém, não era a cadeira que ela queria.

— Eles me entregaram uma cadeira novinha, pintada, que não era igual à minha cadeira. Eu queria aquela que era a minha cadeira, do jeito que estava — conta a gremista.

E recebeu a cadeira como ela era, retirada do cimento do Olímpico e que, hoje, está em um canto da grande sala azul da professora Ana.

Para a educação

1

A professora e gremista apaixonada faz parte do Conselho Deliberativo, é Diretora-Adjunta Escolar na administração do clube, e idealizou-participa-dirige dois programas na área educacional.

2

Um é o projeto “A Escola Vai ao Jogo”, que coordena há seis anos, e o outro é o “Aluno Nota Azul”, iniciativa dela.

3

Ambos dão ênfase ao bom desempenho dos alunos, na escola, mediante a recompensa de assistir jogos do Grêmio na Arena.

A FRASE

— Não sei se sou a maior gremista que tem no estado, porque tem muita gente apaixonada de verdade pelo Grêmio. Agora, com um acervo como este, não acredito que exista outra pessoa por aí…

Ana Maria Rodrigues Esquiam
Professora aposentada e torcedora gremista

Ex-presidentes

A professora Ana Maria se considera torcedora do tricolor gaúcho desde sempre. Aliás, desde que nasceu, faz questão de enfatizar. E a paixão pelo clube se tornou ainda mais forte quando residia em Cacequi, antes de casar com um colorado e mudar para Gravataí. Ela conta que, no interior, morava com os avós e ouvia os jogos do seu time do coração pelo rádio já que não havia um televisor na casa.

Hoje, a apaixonada gremista fala com desenvoltura sobre presidentes, conquistas, atletas que passaram pelo clube. Por exemplo, sobre o ex-presidente Hélio Dourado, que ficou no cargo entre 1976 e 1981, tetracampeão gaúcho e campeão brasileiro. A admiração pelo dirigente foi pelo esforço que empreendeu na ampliação do Olímpico.

— Ele percorreu o interior atrás de material para ampliar o estádio, foi um trabalho incansável — recorda.

Entre os ex-presidentes, lembra também de um dos dirigentes mais considerados que o Grêmio já teve, o ex-juiz de Direito Fábio André Koff. Nas duas passagens pela presidência do tricolor gaúcho, Koff, com sua voz rouca inconfundível, comandou a conquista de, nada menos, 10 troféus de peso na galeria da Arena. Duas Libertadores e duas copas do Brasil, entre outros, como três títulos de campeão dos gaúchos.

— Foi um grande presidente, fez muito pelo Grêmio e pelos títulos que nós temos. A gente tem que respeitar muito estes homens que, assim como ele, dedicam a vida por um projeto.

Atualmente, rende homenagens ao presidente Romildo Bolzan Júnior, no cargo desde 2015 e que carrega sobre os ombros nada menos que seis troféus, entre eles de uma Copa do Brasil e uma Copa Libertadores.

— Ele é um homem que nos transmite muita confiança. Ele equilibrou as contas do clube e soube contratar jogadores sem gastar o dinheiro que o clube não tinha — justifica

Chuta e defende

Seguinte: – A mudança do Olímpico para a Arena foi boa?

Ana MariaTem a questão do saudosismo e, antes, havia a dúvida sobre dar certo ou não. Mas, hoje, dá para dizer que deu certo. Já fomos campeões ali dentro (da Arena) e isso não tem preço.

Seguinte: – O que dizer para os colorados que desdenham do título de 1983 do Grêmio, de Campeão do Mundo?

Ana MariaO que eu digo para quem faz isso é que o tempo passa, os patrocinadores mudam… Daqui a alguns anos a Fifa (Federação Internacional de Futebol) não vai mais promover estes campeonatos e, daí, o título de vocês (colorados) não tem valor?

Seguinte: – O Grêmio vai ser campeão da Copa Libertadores que está chegando ao final?

Ana MariaVai ser campeão sim. Pela nossa garra, determinação, pelos jogadores que nós temos. Tenho certeza que vamos ser campeões, e tem mais: Vamos ser campeões da Libertadores e da Copa do Brasil (a entrevista foi realizada e o vídeo gravado na segunda feira passada).

Seguinte: – Como é que ficou seu coração no jogo épico que ficou conhecido como A Batalha dos Aflitos (conquista da Série B, pelo Grêmio, em jogo realizado em Recife, Pernambuco, contra o Náutico, em 26 de novembro de 2005 e que rendeu até um filme – clique aqui para assistir)?

Ana MariaEu estava sozinha em casa, assistindo. De joelhos atrás do sofá, rezando. Aí quando terminou meu filho que é gremista entrou correndo e nos abraçamos, chorando. Foi emocionante.

Seguinte: – O sangue que corre nas suas veias, tem que cor?

Ana Maria É vermelho, mas as minhas veias, que protegem o sangue, são azuis.

EM FOTOS

: Ana e Jorge Tafras, ele do projeto assistencial Desejo Azul, do Grêmio

: Parte dos souvenirs nas cores do Grêmio, guardados por Ana Maria

: Outro canto da sala-museu na casa de Ana, com algumas camisetas

: Com o ex-presidente Fábio Koff, falecido em 10 de maio do ano passado

: O diploma: Ana Maria faz parte do Conselho Administrativo do Grêmio

: A professora e seu santuário azul, onde guarda objetos de todos os tipos

Copa do Brasil

Hoje pela manhã a reportagem pediu que a professora Ana Maria falasse sobre a eliminação do seu time, ontem (4/9), da Copa do Brasil, nos pênaltis, depois de perder pelo escore de dois a zero para o Club Athletico Paranaense (o Grêmio havia vencido o jogo de ida por dois a zero).

Confira:

Seguinte: – Como a senhora avalia a derrota de ontem à noite, do Grêmio, que perdeu a vaga na final da Copa do Brasil para o “furacão”?

Ana Maria – Eu parto da premissa que cada jogo é um jogo. Ontem não foi o nosso dia. Não jogamos bem, acho que subestimamos um pouco nosso adversário. Nossos atacantes não corresponderam, temos jogadores talentosos, mas inexperientes.O Grêmio ficou marcando à distância é não acertou nenhuma bola na reposição. Everton e Maicon fizeram muita falta. Acho um perigo estes jogos em que levamos vantagens e concordo com o Renato: “Não jogamos praticamente nada”. Nem sempre vamos ganhar.Vamos levantar a cabeça e continuar.

Seguinte: – Sendo gremista apaixonada, “doente” até – no bom sentido, claro – é uma derrota que está doendo muito?

Ana Maria – Não está doendo esta derrota. Comemoro na vitória e estarei sempre ao lado do meu tricolor, mesmo no infortúnio.

Seguinte: – E agora, vai torcer pelo rival colorado que consegui passar à final? Até porque seu marido é um colorado…

Ana Maria – Se eu irei torcer para o rival? Jamais.

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