RAFAEL MARTINELLI

A polêmica sobre investir 8,8 milhões no Mercado Público de Gravataí para entregar à exploração privada

Obra está 90% concluída, conforme balanço da Prefeitura de Gravataí

O prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) está investindo R$ 8,8 milhões na construção do Mercado Público de Gravataí para depois entregar para exploração da iniciativa privada?

Sim.

E Zaffa já projeta instituições como o Sindilojas gerindo o mercado de 2.500 m² de área construída, com 24 lojas em dois andares, espaço para restaurante, terraço, área externa para lazer, estacionamento, espaço cultural com palco para apresentações e 100% de acessibilidade.

É uma ‘privatização à brasileira’, onde o poder público investe e depois entrega o negócio pronto para o privado?

Não, ao menos aos moldes do que o governador Eduardo Leite (PSDB) quer fazer com a ERS-118, instalando cobrança no sistema free flow, um ‘pedágio gourmet’, após R$ 400 milhões em escandalosos 20 anos de investimentos públicos na rodovia.

A projeção do prefeito é recuperar o investimento. A longo prazo.

A polêmica surgiu na sessão de ontem da Câmara.

– Se a Rua Coberta não tem dinheiro público, o Mercado Público tem. E para depois entregar para a iniciativa privada. Com custo menor o governo Marco Alba construiu a escola do Breno Garcia e as pontes do Parque dos Anjos – criticou o vereador Alison Silva (MDB), filho do falecido ex-prefeito Acimar da Silva, remetendo à polêmica que reportei sábado em Líder do governo Zaffa cobra “toda a verdade” sobre Rua Coberta de Gravataí; O povo está nu.

O parlamentar – que chamou a obra de ‘Mercado do Chico Pereira’, por ter sido sugerida pelo comunicador da aldeia – apresentou pedido de informações sobre aditivos contratuais que teriam aumentado o custo inicial da obra, 90% já concluída pela Elo Construções e Instalações Ltda sobre a demolição do antigo Ginásio Aldeião.

O Seguinte: foi ouvir o prefeito, que confirmou os planos.

– Ninguém imagina a Prefeitura gerenciando operação e manutenção de um mercado público. Olha o caos que é o de Porto Alegre, assim como outros que visitamos – disse, citando incêndios recorrentes que deixam um andar interditado, o mesmo acontecendo no de Pelotas, por anos fechado.

– O próprio condomínio entre lojistas nunca funcionou. Imagina a Prefeitura cuidando dos banheiros, dos shows, água, luz… tendo que licitar o reparo disto ou daquilo… Imagina fazer a escolha de ocupação de lojas seguindo a lei de licitações? Um estabelecimento deste tipo precisa de agilidade – argumenta.

– A ideia é entregar a gestão ao Sindilojas ou outra instituição deste tipo e buscar ressarcimento ao longo do tempo com percentual nos aluguéis. Um ponto comercial leva dois anos para ser feito. Aluguel alto no início inviabiliza a operação. Existe um período de maturação e os aluguéis começarão a ser disputados e chegarão ao preço de mercado – explicou, concluindo que “se não conseguirmos uma instituição deste tipo, mesmo inviável, vamos operar inicialmente”.

Resta aí a crítica e a justificativa. Reputo polêmica certa no Grande Tribunal das Redes Sociais e na campanha eleitoral deste ano.

É uma aposta de Zaffa a revitalização do Centro, cujo símbolo é a Rua Coberta, e obras como o Mercado Público que, em sua avaliação, ajudam a construir um sentimento de pertencimento aos gravataienses.

Inegável é, porém, que quase R$ 9 milhões é bastante dinheiro. E, diferentemente da Rua Coberta, público. A cobrança é inevitável, mesmo que o governo também invista mais de R$ 200 milhões em obras de infraestrutura, postos de saúde e escolas infantis.

Ao fim, aguardemos a conclusão e aceitação do Mercado Público ao longo dos anos, para saber o quão visionário é Zaffa.

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