A pedido do presidente do Sindilojas, encaminhei pelo WhatsApp perguntas para construir uma entrevista. José Rosa preferiu respondê-las em conjunto em um texto.
Registre-se, com a elegância que lhe é peculiar, mesmo após críticas minhas a ele e a movimentos de associados em artigos como Está ficando feio, senhor José Rosa!, É moralmente homicida pressão pela volta da ’vida normal’; o que fará Gravataí? e Parem Gravataí que eu quero descer!; declaro-me Inimigo do Povo, amigo da vida.
Siga as perguntas e, depois, a resposta-manifesto.
AS PERGUNTAS
– O Sindilojas vai recorrer da decisão da 3ª Vara Cível de Gravataí que negou pedido para reabertura imediata do comércio?
– A ação foi movida como medida decidida pela direção local ou tem apoio da Fecomércio?
– O que embasa sanitariamente a ação do Sindilojas para reabertura do comércio?
– O comércio está preparado para seguir normas sanitárias rígidas para uma reabertura segura? Uso exemplo de seu ramo, da moda: qual será o procedimento quando um cliente pedir para experimentar uma roupa?
– Passo Fundo é uma das cidades do RS onde o distanciamento social menos foi respeitado e já registra nove mortes. Não há temor de que em Gravataí aconteça o mesmo?
– Diretor de infectologia do Hospital de Clínicas alerta para estudos que recomendam ao menos 10 semanas de isolamento social. Quando o comércio reabrir a partir do dia 1º de maio, teremos completado apenas cinco semanas. Não é melhor prorrogar o isolamento e evitar que, com a propagação do contágio, Gravataí precise aplicar restrições mais duras no inverno? Cito exemplo da China e Nova Zelândia, um país comunista e um liberal, que promoveram restrições mais severas que outras nações e estão saindo mais rápido da crise econômica.
– Como o Sindilojas avalia as medidas do governo federal para dar acesso a crédito a empreendedores? Há uma pesquisa da entidade sobre dificuldades enfrentadas pelos associados na tomada de empréstimos?
– O Sindilojas considera suficiente as medidas do governo municipal que prorrogou datas para pagamentos de impostos e fornecendo certidões negativas de débito, mesmo de tributos não pagos por 90 dias a contar do dia 18, para não impedir acesso dos empreendedores a empréstimos?
– Quais as perdas, estimadas em valores, do comércio de Gravataí nos cálculos do Sindilojas?
– Há uma estimativa de demissões no comércio de Gravataí desde o início da pandemia?
– O senhor demitiu algum funcionário de suas lojas desde o início da pandemia? Caso sim, em qual percentual.
– O Sindilojas tem desenvolvido alguma ação social, ou de suporte financeiro à rede municipal de saúde no enfrentamento ao novo coronavírus? Há algum movimento para os comércios custearem testes para seus funcionários?
– Em suas manifestações o senhor manifesta concordância econômica e política com Jair Bolsonaro. A COVID-19 é só uma ‘gripezinha’ como já disse o presidente em pronunciamento oficial em TV e rádio?
– O senhor acredita em uma ‘volta à normalidade’, ou o mundo sairá diferente da pandemia? Não há receio de que uma mudança cultural na forma de consumo provoque perdas no comércio presencial?
– Há algum estudo do Sindilojas para dar suporte técnico aos empreendedores locais para prepararem uma convergência entre o atendimento presencial e o comércio online, já que especialistas apontam que o vírus seguirá em nosso meio por pelo menos dois anos, período em que, nas previsões mais otimistas, poderemos ter uma vacina?
– Não foi um erro apoiar o que chamo de ‘carreatas da morte’?
– Que mensagem o senhor deixa para políticos, comerciantes e a população?
A RESPOSTA DE JOSÉ ROSA
Prezado Rafael Martinelli,
Recebo teus questionamentos com muita satisfação, pois este momento representa uma boa oportunidade para esclarecer e demonstrar o posicionamento e ações tomadas pelo Sindilojas Gravataí e Glorinha, entidade que estou à frente por mais de 12 anos, de forma voluntária e sem remuneração, durante esse momento tão difícil que vivemos atualmente.
Durante o período da pandemia do covid-19, nossas atividades também foram atingidas, assim como grande parte dos nossos mais de 2.500 associados (os quais minhas lojas também fazem parte e pagam mensalidade de associativa). Sabemos que liderar uma classe tão plural exige uma grande capacidade de gestão, articulação, inteligência emocional e cautela na tomada de decisão.
Pelo fato do Sindilojas se engajar ativamente na sociedade gravataiense, muitas vezes recebemos cobranças até mesmo indevidas, que não estão em nosso alcance, mas em nenhum momento nos eximimos da responsabilidade em cobrar e lutar pelos direitos dos nossos representados. E por que digo isso? Em nossa rede de associados temos muitos empresários que estão respeitando a quarentena e podem lidar com o distanciamento social de maneira que não afete significativamente seus negócios, mas não podemos esquecer também daqueles microempreendedores que precisam vender para manter seus negócios abertos e conservar seus funcionários. São famílias que dependem desta remuneração para pagar suas contas e alimentar suas famílias.
Aproveito para citar aqui algumas ações realizadas nos últimos dias com a finalidade de reduzir o impacto econômico das empresas neste período de pandemia. As iniciativas estão publicadas e divulgadas por meio de notícias e postagens em nosso site www.sindilojasgravatai.com.br e em nossas redes sociais.
– Protocolamos um ofício para isenção/prorrogação de impostos, que já foi atendido pela Prefeitura, conforme decreto 17.886;
– Protocolamos ofício para redução de salários do Executivo e da Câmara de Vereadores e conforme nosso monitoramento, sabemos que já está sob análise;
– Produzimos voluntariamente mais de 2 mil máscaras, algumas entregues ao Comitê de Solidariedade ao Enfrentamento do Coronavírus e outras destinadas aos associados. Saliento que a produção foi realizada pelos nossos colaboradores após a doação de tecidos por um diretor da entidade;
– Estamos abrindo nossos consultórios de saúde da Sede da entidade nas segundas, quartas e sextas-feiras, no período da tarde, para auxílio à comunidade e empresas que necessitam;
– Realizamos diversas ações solidárias para entrega de alimentos à população carente, onde ficamos muito felizes de conseguir apoiar algumas ONGs aqui de Gravataí;
– Estamos desenvolvendo lives informativas nas redes sociais com parceiros que podem auxiliar em diversos aspectos as inúmeras necessidades que nos exigem em um momento como o que estamos enfrentando agora;
Quanto ao pedido de liminar para abertura imediata do comércio, o qual foi negado, não iremos recorrer. Tal ação foi apoiada sim pelo Sistema Fecomércio-RS, mas a previsão para retorno das atividades em nosso município já está próxima, o que talvez não torne efetivo seguir com isso neste momento.
Aqui em Gravataí, temos registro de 6.710 empresas enquadradas como serviço ou comércio. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento, temos perspectiva de emitir em torno de 200 atestados demissionais entre março e abril através do Médico do Trabalho que atende no Sindilojas, o Dr. Moises Eli Magrisso. As admissões até acontecem, mas são uma raridade e em sua grande maioria para o setor de supermercados.
Temos um programa na entidade chamado Escola do Varejo, que visa capacitar gestores, empresários e trabalhadores nos mais variados temas e segmentos. Cito aqui uma das últimas grandes palestras realizadas no Sindilojas sobre Marketing Digital, com o renomado Rafael Terra. Ele apresentou tendências, inovações e entregou dicas práticas para que as empresas tenham mais resultados no meio digital. Temos muitos feedbacks de associados que colocaram em prática e estão colhendo bons retornos. E ainda na busca por ajudar os associados, temos parceria com as cooperativas financeiras do Sicredi e Sicoob, que oferecem vantagens mais atrativas em comparação aos bancos comuns.
Espero ter contribuído de alguma maneira e informo que, neste manifesto, procurei esclarecer o posicionamento do Sindilojas Gravataí e Glorinha diante dos teus questionamentos. Referente aos dados de saúde, do vírus, da pandemia, sugiro que busque as fontes competentes no assunto, pois não compete a mim e ao Sindilojas a responsabilidade de divulgar tais informações. Não quero ser irresponsável com tua matéria nem com o teu público.
Para encerrar, minha opinião é de que o mundo não será mais o mesmo. Mudam os valores pessoais, a economia, o comércio, o comportamento da sociedade, tudo. O que era normal antes pode não ser mais amanhã. E se você não aproveitar (ou não quiser) se reinventar, vai ficar para trás. Esperamos que essa mudança seja positiva também para a política. Que os políticos tenham a noção que são nossos representantes, eleitos democraticamente, mas que precisam ouvir a voz do povo e ver que a massa que move o Brasil somos nós, trabalhadores.
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