Vereadores aprovaram a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Causa LGBTQIA+ em Gravataí. A Câmara teve seu dia de Stonewall Inn, mas ainda restam trevas.
– Vivo a rede social e é um período de muito ódio. Propus a Frente porque ainda vive dentro de mim o preconceito e o discurso que machuca, sentimentos dos quais quero me despir. É hipocrisia dizer que não existe. Precisamos entender melhor as dificuldades dessa comunidade – disse o autor, Fernando Deadpool (DEM), agradecendo a ajuda da companheira Diulle Garin para aprender a reconhecer “o preconceito entranhado”.
Dia 28, em Dia do orgulho gay: Vereador de Gravataí propõe Frente LGBTQIA+; Jesus está vendo placar da tolerância, apelei ser desmentido pela civilidade na apreciação da proposta.
Remeti a 69, quando homossexuais estadunidenses reagiram à invasão do bar Stonewall Inn, em Nova York, pela polícia, em revolta escolhida para lembrar o Dia do Orgulho LGBT+.
Isso porque, nos 25 anos cobrindo a política, e a Câmara, pouco percebo de avanço contra a intolerância quando a temática gay entra no plenário. Apesar de neste tempo conhecer diferentes orientações sexuais, infelizmente ninguém teve a coragem de sair publicamente do armário.
E, a cada votação, testemunhei votos contrários ou políticos fugindo do plenário para não votar, com medo de perder eleitores, principalmente evangélicos.
No artigo Câmara de Gravataí já derrubou nome social para trans, de julho de 2019, detalho uma destas polêmicas, onde deu até ‘pane’ no painel de registro de votos.
Felizmente, na sessão da noite desta terça, o resultado foi de 18 votos a favor, duas ausências e a manifestação favorável do presidente Alan Vieira (MDB), que só precisaria votar em caso de empate.
Nas falas, exemplos de tolerância inclusive do bolsonarista Evandro Coruja (PP), apesar de, como bem desvelou Deadpool, com sua sinceridade que constrange o Clube de Amigos da Câmara, piadas e brincadeiras nos bastidores e, inclusive, cometidas ou captadas pelos microfones, que mostram que é preciso vigilância para superar preconceitos históricos e geracionais.
Assista às falas dos vereadores a partir de 1h20 no vídeo e, abaixo, sigo.
Ao fim, não é um debate que enche barriga. É, por vezes, uma causa vítima de lacrações contra e a favor, exploradas por oportunistas e caça-cliques. Mas é uma questão que se refere à vida cotidiana de muitas pessoas, mexe com muitas famílias.
Parabéns, Deadpool, pela coragem em propor o debate. Ainda mais sendo um vereador do DEM de Evandro Soares, como reportei em O gravataiense que come a la minuta com Bolsonaro em Brasília.
Não basta a homofobia ter sido criminalizada e prever um a cinco anos de prisão, se tantos corações e mentes seguem condenados a tempos ainda – ou mais – obscuros.
Parabéns aos vereadores, pelo exemplo de civilidade.
Instiguei no artigo anterior: “Vereadores, um ‘sim’ será um bonito gesto de tolerância. Se o revolucionário Jesus está vendo, conforme os que acreditam, certamente aprovaria, já que pediu para amarmos uns aos outros”.
Votaram a favor da Frente LGBTQIA+: Alex Peixe (PTB), Alison Silva (MDB), Anna Beatriz da Silva (PSD), Áureo Tedesco (MDB), Bino Lunardi (PDT), Bombeiro Batista (PSD), Claudecir Lemes (MDB), Cláudio Ávila (PSD), Clebes Mendes (MDB), Demétrio Tafras (PSDB), Dilamar Soares (PDT), Fernando Deadpool (DEM), Márcia Becker (MDB), Mario Peres (PSDB), Paulo Silveira (PSB), Policial Federal Evandro Coruja (PP), Roger Correa (PP) e Thiago De Leon (PDT).
Mas, e as trevas que referi na abertura deste artigo?
Reputo estavam nas telas escuras dos computadores, fechadas remotamente pelos vereadores evangélicos Carlos Fonseca (PSB) e Fábio Ávila (Republicanos) apenas durante a apreciação do projeto, para não precisar votar.
Lembrou-me Frei Beto, em Jesus, os gays e a Bíblia, que recorda que “ontem cristãos acusavam os judeus de assassinos de Jesus; condenavam ao limbo crianças mortas sem batismo; consideravam legítima a escravidão e censuravam o empréstimo a juros”.
– Nem todo bem paga todo mal – como bem citou o super-herói da noite.