Já virou costume e viraliza o 'artigo do mês', sempre, claro, sobre o Mundo do Trabalho. Dessa vez, é sobre o dilema pais que só trabalham e filhos que só esperam, pelo menos 1/4 de hora pra brincar, dar umas risadas e lembrar do bem que família faz. Tire um tempo, leia o texto da Rosely Sayão e corra para os pimpolhos! Só quinze minutinhos!
Pais querem paz em casa; filhos querem os pais
Ter filhos exige tempo, dedicação, investimento, paciência e esforço. E a falta de tempo para estar com os filhos preocupa muitas mães e pais. Uma delas escreveu perguntando como demonstrar interesse pelas atividades dos filhos se trabalha o dia todo e, quando chega em casa, eles já estão se preparando para dormir, o que não permite que tenha, portanto, a chance de participar das brincadeiras deles e de acompanhar as descobertas que eles fazem.
É, parece que a cada ano que passa temos menos tempo para a família. Em geral, o trabalho dos pais tem exigido dedicação intensa e, além disso, ainda há o trânsito a enfrentar, a casa para administrar, as compras para fazer, a tensão e o cansaço que chegam quase ao limite do suportável. Será que é preciso ser assim mesmo? Creio que pode ser diferente, caso os pais priorizem certos períodos de seu tempo para a convivência com o filho.
Quem é que já tentou falar com determinada pessoa no horário de trabalho e não teve de ligar em outro momento porque ela estava em uma reunião ou fazendo alguma atividade que não permitia interrupção? Quase todo mundo. Mas quem já teve de esperar para tratar de um assunto com alguém porque a pessoa estava se dedicando aos filhos? Pouca gente.
Ouvi um pai dizer, certa vez, comentando justamente o que lhe acontecia quando chegava em casa à noite, depois do trabalho, que, nessa hora, tudo o que ele queria era paz, enquanto tudo o que os filhos queriam eram pais. Pois é, isso nos faz pensar que, talvez, a falta de tempo para os filhos seja resultado não apenas do acúmulo de tarefas mas também de falta de prioridade.
Todo mundo já ouviu dizer que, para o filho, importa muito mais a qualidade do tempo que seus pais dedicam a ele do que a quantidade. É verdade: 15 minutos de convivência com o filho são muito mais importantes tanto para a educação quanto para o afeto do que meio dia juntos sem o foco estar dirigido ao relacionamento entre eles. O problema, hoje, é que esses 15 minutos não têm recebido a atenção necessária dos pais.
Quantas vezes, no pouco tempo que passam com os filhos, os pais escutam o que eles falam sem ouvir, respondendo-lhes apenas com um "hã, hã"? Quantas vezes, nesses 15 minutos, os pais se dirigem ao filho sem ao menos olhar para o rosto dele? Quantas vezes, nesses 15 minutos, os pais não atendem mil telefonemas, muitas vezes para falar de trabalho?
E mais: muitos pais abrem mão de colocarem limites e de serem firmes com as regras estabelecidas para os filhos nesse período de 15 minutos porque acreditam que essa atitude prejudica a qualidade do pouco tempo que passam com eles. Ao contrário! Já que os pais têm pouco tempo, precisam aproveitá-lo para dirigir o processo educativo dos filhos. Não é se passando por "bonzinho" que se constrói um tempo de qualidade com o filho!
E no fim de semana? Será que os pais se lembram de dedicar pelo menos uma parte do tempo que têm disponível para acompanhar o filho em atividades do interesse dele? E, ao ver televisão ou na hora do jantar, por exemplo, dirigem-se a ele e buscam seus comentários? Ao conversar a respeito da escola e dos estudos, lembram-se de reconhecer os avanços que ele conseguiu, de fazer perguntas específicas que demonstrem estar a par dos acontecimentos?
Esses são apenas alguns exemplos que mostram o quanto podem passar despercebidos dos pais momentos que poderiam ser dedicados à convivência com os filhos, mas que ficam perdidos por causa do cansaço, do estresse, das atividades múltiplas que os pais têm de realizar. Seria bom aprender a respeitar esses 15 minutos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora do livro "Sexo é Sexo" (Cia. das Letras)