A fachada não dá pistas da grandeza do que está por trás do portão. Para olhos desavisados, o imóvel, com cinco quartos, cozinha, banheiros e quintal, é só mais uma casa de passagem.
No entanto, o visitante atento notará que o local é o endereço de quem enfrenta um momento delicado na vida e que precisa de cuidado. Um sonho construído pela vontade de inclusão e pelo desejo de acolhimento.
As pessoas em situação de rua precisam deste olhar atento para reconstruir suas vidas. Foi pensando em oportunizar essa ajuda que a Prefeitura de Gravataí estruturou – e disponibiliza! – um espaço de acolhimento amplo e bem estruturado: A "Casa do Bem".
O nome do local foi dado pelo próprio prefeito Marco Alba (MDB) por entender que a palavra "bem" traz consigo o significado de solidariedade, igualdade e respeito.
— A Casa do Bem é uma referência para a cidade, chamando a atenção da sociedade para o cuidado com o próximo, que é o nosso bem maior e o foco da minha gestão — diz Alba.
Pessoas em trânsito
Localizada na RS-118, a unidade dispõe de serviços para adultos desabrigadas por abandono, migração e ausência de residência, ou ainda pessoas em trânsito. Trata-se de um espaço com capacidade para 40 pessoas, sendo 28 vagas masculinas e 12 femininas.
O secretário da Família, Cidadania e Assistência Social, Tanrac Saldanha, explica que a principal diferença do público que é atendido na unidade é a transitoriedade, que não deve ultrapassar três meses.
— São recebidos adultos ou famílias em trânsito, sem intenção de permanência por longos períodos — explica Tanrac.
O atendimento é qualificado e os espaços acolhedores. Durante sua permanência, os usuários da Casa do Bem são orientados a confeccionar documentos, buscar um emprego formal e reconstruírem seus vínculos familiares.
Também estão incluídos serviços como jantar e café da manhã. A equipe multiprofissional que realiza o atendimento é composta por educadores e assistentes sociais, cuidadores, serviços gerais, cozinheiras e um coordenador.
— É uma sensação ótima de poder ajudar o próximo. Uma simples palavra amiga, muitas vezes faz sorrir — destaca Bruno Soccol, cuidador.
Fazendo a diferença
Carolina dos Santos da Silva, 25 anos, atualmente de passagem pela Casa do Bem, está há poucos dias na Casa do Bem, mas garante que está se sentindo muito bem.
— Aqui somos tratados com muito amor e carinho. E digo mais: a comida que eles servem aqui é simplesmente maravilhosa.
Carolina fala ainda sobre a família e as opções que fez antes de chegar ao abrigo.
— Minha mãe é uma das moradoras beneficiadas com as moradias novas do Loteamento Breno Garcia (projeto social da Prefeitura de Gravataí com a Caixa Econômica Federal), mas optei por não ir pra lá. Quero refazer a minha vida. Quero sair daqui com um emprego — diz ela.
De acordo com Juliana Vieira de Oliveira, 20 anos, a passagem pela Casa do Bem é uma luz no fim do túnel.
— O desemprego e o abandono da minha família me fez chegar até aqui. Conheci o meu companheiro e resolvemos sair de Porto Alegre. Minha sogra já usou esse serviço e nos indicou como possibilidade temporária. Enfrentamos juntos essa situação difícil e recebemos apoio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social e saímos todos os dias para vender chips de um operadora de telefone. Assim, tentamos juntar dinheiro para tentar mudar a nossa realidade.
PARA SABER
1
Para conseguir uma vaga na Casa do Bem é preciso ter mais de 18 anos, um documento original com foto ou cópia original de um boletim de ocorrência.
2
A entrada dos usuários ocorre a partir das 19h15. Já a saída acontecem às 6h30, após o café da manhã.
O que ela disse:
— Este espaço tem o objetivo de garantir os direitos dos usuários em situação de rua e reinserir estas pessoas na sociedade trabalhando a sua autoestima, reafirmando a garantia de direitos e fazendo com que tenham um novo olhar sobre a vida e, assim, trazer esperança para o momento que vivem.
Marja Menezes
Coordenadora
ONDE
A Casa do Bem fica na RS-118, número 3155, próximo à Avenida Dorival Cândido de Oliveira.