A visita discreta do CEO da Tellescom Semicondutores, Ronaldo Aloise Júnior, a Gravataí na última semana reacendeu especulações sobre um dos maiores investimentos industriais em discussão no Rio Grande do Sul: a instalação de uma fábrica de chips da empresa paulista, em parceria com companhia da Malásia, com investimento estimado em até R$ 1 bilhão.
O projeto, negociado em sigilo pelo prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) e o governador Eduardo Leite (PSDB), e revelado com exclusividade pelo Seguinte:, promete reposicionar o município – tradicional polo automotivo – como hub tecnológico, gerando centenas de empregos e atraindo empresas do setor.
A comitiva da Tellescom, que incluiu Américo Mattar, presidente da Fundação Tellescom, e o arquiteto e urbanista Edo Rocha, participou de uma agenda no Parque Tecnológico PradoTech, local oferecido pelo prefeito como possível sede do empreendimento. Embora Zaffa evite confirmar o diálogo direto com os empresários, um post publicado pelo PradoTech revelou a presença de Aloise Júnior na cidade.
Em fevereiro, o prefeito já havia sinalizado a disputa por um “megainvestimento”, oferecendo 10 mil m² no PradoTech, a 15 minutos do Aeroporto Salgado Filho.
– Para um investimento bilionário, vale oferecer área e incentivos – declarou Zaffa à época, destacando logística privilegiada (BR-290 e ERS-118), benefícios fiscais e agilidade no licenciamento.
A localização é estratégica: Gravataí abriga a General Motors, que consome grande vgolume de semicondutores e planeja investir R$ 4 bilhões em veículos conectados e elétricos até 2028.
O jogo global dos semicondutores
Enquanto o prefeito atrai a empresa com “isca local”, o governo estadual avança no tabuleiro internacional. Em fevereiro, durante missão na Malásia, o presidente da Invest.RS, Rafael Prikladnicki, e Aloise Júnior assinaram um termo de cooperação no polo tecnológico de Penang. O acordo prevê apoio técnico para a fábrica, que produzirá chips para automóveis, IoT e telecomunicações.
– Queremos tornar o RS um polo de semicondutores, aliando nossa vocação histórica em microeletrônica com inovação – afirmou Prikladnicki, referindo-se ao programa Semicondutores RS, que busca reerguer o setor após o fechamento da estatal Ceitec em 2022.
Aloise Júnior justificou a escolha pelo estado: “Aqui há maturidade governamental, infraestrutura logística e concentração de conhecimento”.
A conexão Malásia
O projeto ganha contornos concretos com a chegada de uma comitiva malaia ao RS nesta semana. Durante a agenda, foi assinado um acordo entre a Invest.RS e a Malaysia Digital Economy Corporation (MDEC) para cooperação em setores como semicondutores, smart cities e games. A diretora da MDEC, Yvonne Yong, destacou as similaridades entre os ecossistemas de inovação dos dois países e o interesse em expandir negócios bilateralmente.
A Tellescom planeja uma joint venture com uma empresa malaia, com investimento entre U$ 170 milhões e 200 milhões de dólares. A fábrica, focada em encapsulamento e testes de chips para telecomunicações e automotivo, deve iniciar obras em 2026 e operar em três anos.
– Estamos avançando para formalizar a parceria e começar a execução no segundo semestre deste ano – adiantou Aloise Júnior, que já liderou parcerias similares, como a HT Micron com a sul-coreana Hana Micron.
A isca num oceano
Gravataí busca diversificar sua economia – ainda dependente do automotivo –, mas os obstáculos são globais: EUA, China e Europa disputam fábricas de chips, e custos operacionais (energia, logística) são críticos. O município, porém, tem atraído investimentos recordes: R$ 1 bilhão em imóveis em 2024 e 9 mil empresas abertas nos últimos quatro anos.
Enquanto o governador mira o cenário internacional, Zaffa brinca com a tática local: “Joguei o espinhel. Se beliscar, eu fisgo”.
Resta saber se a combinação de incentivos, logística e a potência da GM será suficiente para fechar o negócio. Novidades são esperadas para os próximos meses, num jogo que pode redefinir o futuro tecnológico do RS.
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