A matança já aconteceu em dezembro, como tratamos nos artigos Os cervos do Pampas Safari foram mortos e Ibama protegeu quem queria abater os cervos.
A controversa justificativa para o sacrifício de 300 animais, com autorização do Ibama, do governo estadual no pós-eleição e com a justiça vendada: contaminação por tuberculose que poderia causar risco sanitário para moradores de Gravataí.
Mas cervos continuam circulando pela região, conforme imagens a que o Seguinte: teve acesso. Em agosto, já tínhamos revelado avistamentos no artigo Cervos são flagrados nas ruas de Gravataí, na região do Parque dos Anjos e Rincão da Madalena. Nesta semana, animais foram vistos às margens da RS-020, nas proximidades do Pampas Safari, o parque privado que por 40 anos explorou os animais comercialmente.
Domingo, leitor enviou áudio ao cruzar pelos animais na altura do bairro Neópolis, em Gravataí. Às 3h30 desta sexta, conseguiu fotografar os cervos a um quilômetro dali, ao lado do Pampas.
Entre a noite do dia 26 e a madrugada de 27 de agosto, um grupo de cervos foi flagrado duas vezes por câmeras de vigilância próximas ao condomínio Vila Luchesi, na Rua Lino Estácio dos Santos no caminho entre a área central da cidade e o Rincão da Madalena. Depois, junto às pontes do Parque dos Anjos.
A primeira análise das imagens por ambientalistas, como o presidente da APN-VG Sérgio Cardoso, considerava remota a possibilidade de serem cervos do pantanal, observados na região de nascentes do Rio Gravataí. A suspeita à época era de que seriam parte do rebanho mantido no Pampas Safari, que fica a cerca de 10 quilômetros do local. Dali até as pontes do Parque dos Anjos são menos de quatro quilômetros. Seria possível percorrer ambos os trechos por áreas de mata.
Os cervos flagrados nas fotos desta madrugada são semelhantes aos avistados em agosto. À época, em busca da origem dos animais, o Seguinte: ouviu um dos maiores especialistas em grandes mamíferos silvestres da região. E, a partir das imagens, o biólogo André Osório garantiu no artigo Cervos vistos em Gravataí não são nativos, diz especialista:
— Não são cervos do pantanal.
Esta é a única espécie deste animal nativa da região. É encontrada na região de banhados, nas nascentes do Rio Gravataí, especialmente no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, que é gerenciado pelo biólogo.
— Os animais das imagens não têm as mesmas características do cervo do pantanal e, pela localização em que foram vistos, em área urbana, jamais tivemos relatos, ainda mais em grupo. Se fossem vistos ao longo do curso do rio, até seria possível, embora pouco provável. Por outro lado, não é a primeira vez que se verifica na Região Metropolitana algum cervo de espécie exótica solto em meio à área urbana e sem que se saiba a procedência — afirmou Osório.
A existência de cervos estranhos ao ambiente natural da região, inclusive, já preocupavam o especialista.
— Se eles estão circulando à noite, provavelmente estão se resguardando em algum local durante o dia. É uma região com certa proximidade da área protegida dos cervos do pantanal, que é ma espécie endêmica. Se os exóticos chegarem ao habitat dos nativos, pode haver uma concorrência pela área e as consequências seriam preocupantes.
Em agosto, a partir dos relatos de aparição dos animais, o Ministério Público solicitou, e a Justiça determinou uma vistoria no rebanho, por parte da Fundação Municipal do Meio Ambiente (FMMA) e com acompanhamento do Ibama, depois anulada pelos proprietários do parque.
Meses depois, 300 animais foram sacrificados em um frigorífico do interior.
– Nesta sexta acionei o Ministério Público e a Fundação Municipal de Meio Ambiente – informa Márcia Becker, coordenadora do Bem-Estar Animal de Gravataí, que também teve acesso às imagens.