Assim como critiquei o então prefeito Miki Breier (PSB), reputo um erro político Cristian Wasem (MDB) incluir a construção – ou compra de prédio – de uma nova Prefeitura no Projeto de Lei 4749/2023, pelo qual a Câmara de Vereadores autorizou a contratação de R$ 80 milhões em financiamentos com a Caixa Federal.
Se Miki tinha um agravante imensurável, a pandemia, Cristian está à frente de uma cidade desgovernada, parada há mais de dois anos; chamo a ‘Pobre Cachoeirinha!’, das CPIs, impeachments, golpeachments, cassações, escândalos diários e zero obras.
“Erra o prefeito Miki Breier (PSB) ao buscar financiamento para construir uma sede própria para a Prefeitura de Cachoeirinha. É a crônica da polêmica anunciada construir casa nova em meio a uma pandemia. É começar o novo governo com clima ruim”, escrevi, em 25 de janeiro de 2021, em Erra Miki ao buscar empréstimo para construir nova Prefeitura na pandemia; Povo, reis e castelos, primeiro mês do segundo mandato do prefeito que à época ainda não era alvo de denúncias e acusações, criminais e eleitorais, que criaram o caldo para sua cassação em 2022.
Mesmo que interinamente tenha ocupado a Prefeitura por seis meses, o ‘governo Cristian’ ganhou a chancela das urnas apenas em outubro, na eleição suplementar. Em uma cidade onde obras não se vê, construir uma nova Prefeitura não poderia ser uma prioridade.
De certa forma, o próprio prefeito parece saber. A justificativa do projeto que pedia autorização dos vereadores para financiamento, salvo seja uma construção mal feita do texto, é dúbia: “os recursos oriundos da operação de crédito podem (grifo meu) ser destinados não só para a construção da nova sede, mas também para a aquisição de prédio”.
Por justiça, é preciso registrar que o artigo 1º do projeto prevê também obras de infraestrutura, como abertura de vias, asfaltamento, construção e revitalização de praças, além de postos de saúde – aí o que avalio prioridades para a comunidade.
“Por que Cristian erra e Zaffa acerta?”, o leitor pode perguntar, com base em meu artigo do dia 24 de março, O grande negócio de Zaffa ao ‘comprar a Ulbra’ para transferir a Prefeitura de Gravataí, no qual reporto a compra de prédios para nova Prefeitura a um custo de R$ 20 milhões.
Resposta fácil: o prefeito Luiz Zaffalon (MDB) herdou de seu ‘Grande Eleitor’, Marco Alba (MDB), um município com mais de meio bilhão de dívidas pagas em 10 anos – o que garantiu um endividamento que corresponde a menos da metade do que permite a Lei de Responsabilidade Fiscal –, além do ex-prefeito ter investido R$ 100 milhões em obras nos dois mandatos.
Com as contas em dia, Zaffa pôde contrair R$ 200 milhões em financiamentos, já autorizados pela Câmara, Tesouro Nacional e Caixa, e que tem obras já feitas, em curso ou programadas até o fim de seu primeiro mandato em dezembro de 2024.
Poderia o prefeito gravataiense contratar três vezes mais, pela LRF, que permite um endividamento até 120% da receita.
Instigo que você que me lê responda: comparando Cachoeirinha e Gravataí, se a construção de uma nova Prefeitura deve ser prioridade ou não.
É inquestionável a economia no longo prazo. Sair do aluguel do barracão improvisado onde funciona a Prefeitura, e a entrega de outras sedes, permitiria uma economia mensal de quase R$ 100 mil. Mas uso o mesmo argumento da crítica que fiz a Miki:
O que reputo um erro é o momento. Governar é fazer escolhas, dizer mais não do que sim, mas também é criar um bom ambiente, não brigar com o senso comum que, mesmo que uma coisa não tenha a ver com a outra, vai questionar:
– Por que não um hospital ou leitos de UTI?
O exemplo está a alguns quilômetros. O Grande Tribunal das Redes Sociais já sentenciou as críticas de ‘pena de morte’ quando a Câmara de Viamão aprovou em sessão extraordinária projeto do prefeito Valdir Bonatto (PSDB) para contratação de empréstimo de 25 milhões para construir uma nova Prefeitura.
– É pra roubar – cheguei a ler comentário mais exaltado.
Não achem que a crítica será diferente em Cachoeirinha. Principalmente no Grande Tribunal das Redes Sociais, que não são a lei, mas representam sim um termômetro de humores, que quase sempre não permite aos políticos muito além da presunção de culpa.
Ao fim, parece-me só vai desgastar ainda mais o governo Cristian construir uma nova Prefeitura enquanto o povo come poeira, postos de saúde e escolas caem aos pedaços, praças em boas condições poucas há e por mais de dois anos não se vê obra estruturante, que prepare Cachoeirinha para o amanhã.
Esse governo precisa de mais boas, não más notícias.
Politicamente, assim como Miki, Cristian ainda não é rei para neste momento pensar que de forma incólume construirá castelo.