35 semanas

Das esperas de que somos feitos

O varal de roupas sorriu: já fazia tempo que não tinha em si penduradas pecinhas tão minúsculas.

Ventou, choveu e fez sol muitas vezes sobre aquela corda que ainda não havia envergado. As mãos que estendiam os prendedores já não tinham a mesma textura. E segredaram: – sim, teremos outro bebê na casa.

Era apenas um varal.

Mas pelo peso que sustentava, pelas roupas que aumentavam de tamanho a cada ano, sabia que o primeiro bebê havia crescido. E que outro viria, a julgar pelas pecinhas pequenas que surgiram novamente sob o sol, exalando o cheiro de sabão neutro glicerinado.

A porta da casa também reconheceu a mudança: o último meio de transporte que por ela passou foi uma bicicleta. Anteontem, porém, trouxeram um carrinho. Compreendeu ali que, em breve, haveria um novo aprendizado de subir as escadas. E, possivelmente, uma nova cerquinha interposta entre os marcos, para evitar tombos.

Era apenas uma porta.

Mas sabia diferenciar quando passavam por ela os passos cansados do pai, os pés descalços da mãe ou os pulos do menino já crescido. Preparou-se para aprender a reconhecer como seria a passagem do novo integrante da família.

O calendário, até pouco tempo, era praticamente ignorado. Servia apenas como fonte de consulta para o próximo final de semana, o próximo feriado, o próximo Natal. Soube que havia algo de diferente quando toda a sexta-feira recebia um número. 7 semanas. 20 semanas. 35 semanas.

Era apenas um calendário. E estava à espera, como o varal, a porta e a família.

À espera de uma nova data de aniversário.

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