Desde fevereiro/2015, ao longo de uma série de reportagens na edição brasileira do jornal El País, Eliane Brum vem denunciando as terríveis condições de vida da população afetada pela construção da hidrelétrica de Belo Monte. Mas consciente que só denúncias não resolvem a trágica situação em que vivem aquelas pessoas, Eliane Brum lança um projeto onde a solidariedade vai até a preocupação com a sobrevivência física e emocional. É um chamamento à responsabilidade que todos os brasileiros têm com aquela gente, sacrificada em nome do progresso do país.
O Seguinte: dá, aqui, todo o destaque que essa humaníssima causa merece. Além de se informar sobre o drama dos Refugiados de Belo Monte, nossos leitores podem fazer parte desse mutirão social. Basta acessar os links no apelo abaixo e inscrever-se para doar o que for possível. Apoie este projeto e salve vidas sem outras esperanças. (Fraga)
Clínica de Cuidado: escuta, tratamento e documentação do sofrimento dos refugiados produzidos por Belo Monte
Por Eliane Brum
Belo Monte é vista por muitos como fato consumado, mais um trágico capítulo da história do Brasil que ficou para trás. Mas e o sofrimento vivido agora, neste exato momento, pelos atingidos, por aqueles cuja vida virou água? Não importa? Que tipo de gente somos nós se o sofrimento do outro não nos comove nem nos move? Se não for por ética, que seja por gratidão: se ainda existe floresta amazônica em pé, é a estas populações que devemos. Belo Monte foi construída em nome de todos os brasileiros. A questão é: o que vamos fazer por quem paga a conta da destruição do Xingu com a vida
Amigos,
Escrevo para pedir a sua ajuda para um projeto ao qual tenho me dedicado há pelo menos um ano. Acompanho Belo Monte desde muito tempo, mas quando as pessoas começaram a ser expulsas de suas casas, ilhas, beiradõesetc pelo processo perverso da construção da hidrelétrica, o sofrimento tomou outras palavras e formas.
João da Silva e Raimunda | Foto LILO CLARETO | Arquivo Pessoal
Ficou muito claro para mim que eu poderia seguir contando as histórias, como sigo e seguirei, mas havia algo que precisava acontecer lá e que não estava acontecendo. Parte das pessoas está em grande sofrimento psíquico. Muitas adoecem. Como João da Silva, que teve dois AVCs, o primeiro deles no escritório da Norte Energia, quando soube que seria expulso e receberia um valor insuficiente para recompor a vida.
O sofrimento aparece de várias maneiras e também em doenças como AVC, diabetes, hipertensão etc. Em geral, como é comum nesta época de vida patologizada, as doenças que surgem são tratadas como desconectadas do processo violento da implantação da hidrelétrica. E, assim, Estado e Empreendedor são desresponsabilizados. Historicamente, a dimensão da saúde mental é esquecida em processos como este. Se questões explícitas são encobertas, esta então…
Comecei a bater em algumas portas e fui escutada por algumas pessoas da área da saúde mental que respeito muito. Entre elas, os profissionais deste grupo com o qual trabalho neste dispositivo. Estamos construindo um projeto de saúde mental junto aos atingidos pela hidrelétrica, coordenado por Christian Dunker, Ilana Katz e por mim, que chamamos de Clínica de Cuidado (escuta, tratamento e documentação do sofrimento dos refugiados produzidos por Belo Monte).
Até agora, nas incursões prévias, pagamos do próprio bolso. Nestas primeiras pequenas expedições, escutamos os movimentos sociais e ambientais que atuam na região, assim como homens e mulheres atingidos, e aprendemos com eles. Também foram contatados e ouvidos os profissionais que atuam na rede de saúde mental do SUS.
Agora, na nova etapa, a empreitada é maior. Precisamos de apoio. Assim, lançamos um projeto de crowdfunding: Refugiados de Belo Monte.
Foto LILO CLARETO | Arquivo Pessoal
É nossa primeira tentativa de financiamento (pelo) público. Então, estamos aprendendo. Para mim, também, é uma nova inserção. E vem do sentimento de que estamos num momento tão grave da história do Brasil e do mundo que fazer o que a gente sabe já não é suficiente. É preciso inventar outros jeitos de ser e de estar no mundo — e também outras formas de fazer o que a gente sabe.
Para muita gente Belo Monte já é “fato consumado”, como se as pessoas que hoje lá sofrem pudessem simplesmente ser deixadas para trás. Se Belo Monte vai virando fato consumado, em parte isso acontece por conta da omissão da população do centro-sul do país.
Assim, me parece também que temos um compromisso ético no movimento de reparação. Ainda que a reparação total seja impossível, como bem sabemos, o movimento de reparar tem efeitos profundos tanto para a comunidade quanto para o indivíduo, além de ser um ato político efetivo.
COMO PARTICIPAR DESTE RELEVANTE PROJETO
A meta do financiamento do projeto no Catarse é alta e é no tudo ou nada.
Aqui está o link: https://www.catarse.me/refugiadosdebelomonte
Se fizer sentido para você, seria muito importante seu apoio e a divulgação nas suas redes e nos seus espaços.
Muita gente me pergunta, depois de ler minhas reportagens sobre os refugiados de Belo Monte:
– O que eu posso fazer?
Bem, estamos tentando nos responsabilizar e construir uma resposta. E precisamos do seu apoio.
Muito obrigada.
Grande abraço, Eliane
Assista ao vídeo com a proposta do nosso projeto clicando na imagem abaixo:
Para mais informações e detalhes deste projeto, acesse Catarse.
Para conhecer um pouco mais sobre o sofrimento dos refugiados de Belo Monte, leia também:
João e Raimunda | Foto LILO CLARETO | Arquivo Pessoal
22/09/2015
Vítimas de uma guerra amazônica
Expulsos por Belo Monte, Raimunda e João tornam-se refugiados em seu próprio país
09/05/2016
Dilma compôs seu réquiem em Belo Monte
O julgamento mais rigoroso da presidente e do PT, no tempo da História, será feito por brasileiros como João da Silva
Otávio das Chagas | Foto LILO CLARETO | Arquivo Pessoal
16/02/2015
O pescador sem rio e sem letras
À beira de Belo Monte, uma história pequena numa obra gigante. Que tamanho tem uma vida humana?
18/07/2016
A história da família de ribeirinhos que, depois de expulsa por Belo Monte, nunca consegue chegar