Claudio Ramos, o Seco, faleceu aos 55 anos após uma bonita história de vida e luta por um transplante de coração, que o tornou desde os anos 90 uma referência no Estado em campanhas de transplantados. O jornalista André Boeira fez uma emocionante homenagem ao amigo, que publicamos aqui
Difícil acreditar que esse amigo partiu. Claudio Ramos, o popular Seco faleceu de um ataque cardíaco fulminante na tarde deste domingo. Um homem valente, que teve dois corações e muitas histórias que não esquecerei jamais.
Esse era aquele amigo que botava a cara pra bater. Sim, o Seco nunca deixava um amigo mal. Ele muitas vezes assumiu broncas pelos outros. Vivia me aconselhando e me protegendo dos políticos do mal. Mas ele gostava do meu estilo provocador. Um dos melhores cabos eleitorais que Cachoeirinha conheceu.
Militante do PMDB, o Seco era muito debochado e brincalhão. Ele tinha sempre uma piada pronta para minar o adversário. Dono de uma memória incrível, era muito difícil perder uma discussão – no futebol e na política.
Conhecia todos do meio político, os seus pontos fortes e fracos também. Foi linha de frente nas campanhas históricas. Dificilmente perdia eleição.
Depois que fez um transplante de coração, resolveu mudar o rumo da sua vida e se dedicar mais para a família, além da causa dos transplantes que ele abraçou. Era um batalhador nas campanhas de doação de órgãos.
Os amigos brincavam que dentro do peito dele batia o coração de um gremista. Colorado fanático, ele só ria. Mas houve esse boato mesmo e ele nunca desmentia.
Por morar próximo de minha casa, sempre que podia parava para dar muitas risadas com o Seco, que ficava sentado na sua cadeira, em frente a sua casa, tomando aquele chimarrão.
Era uma ótima fonte, pois ele estava sempre nos bastidores e gostava de ver o circo pegar fogo.
A última vez que nos encontramos, relembramos uma briga que aconteceu na frente da SEC. Isso em 1984. Foi a maior briga de rua já vista na cidade. Na saída da festa, o Seco e o Nando resolveram tirar as diferenças na mão. O Nando era um alemão forte, que morava na Quitandinha… mas e daí? O Seco encarava todas e era bom de briga também. Naquela época ainda era assim. Não tinha essa de resolver na bala. As pessoas fizeram a roda e logo os dois começaram a se soquear, invadindo inclusive a avenida, que se transformou em um ringue. O Seco tomava as dores por um amigo que havia apanhado na festa. Foram muitos socos e ambos se bateram até cansar. Não houve um vencedor. O Seco sempre foi autêntico e nunca guardou rancor de ninguém. Tudo acabou resolvido naquele combate e essa briga ficou guardada na minha mente.
Não será nada fácil a despedida dos amigos deste coração valente. O Seco é um símbolo de uma luta que já deveria estar na consciência de todos nós – a doação de órgãos. Na minha opinião, todas as pessoas, depois que morressem deveriam doar seus órgãos, independente de permissão dos familiares. Isso já era para ter virado uma lei. Eu sempre brincava que ele era um mutante e que iria enterrar todos nós.
Dessa vez o Seco partiu mesmo.
Siga em paz meu guerreiro, amigo e irmão de coração. Sua missão foi cumprida aqui.