Bolsonaro diz que não sabe quase nada de Roberto Jefferson. Que nunca foram amigos ou aliados, que ele não quer saber do ataque do sujeito aos policiais federais e que Jefferson se vire sozinho.
Bolsonaro joga com um detalhe relevante sobre a capacidade de discernimento da população. É possível que um contingente significativo não saiba de nada das relações dele com Jefferson.
Mas quanto por cento dos brasileiros nada sabem dessa convivência e desse conluio? Só uma pesquisa poderia revelar. Não deve ser pouca gente.
O que se sabe, para complicar o raciocínio, é que a grande maioria das pessoas preza a democracia, que não quer saber de armamentismo e que defende as vacinações.
Os números para qualquer desses itens são superiores a 70%, segundo as pesquisas. Uma minoria apoia ditaduras, defende o uso de armas e condena as imunizações.
Mas quase metade dos brasileiros expressa o desejo de votar em Bolsonaro, que representa tudo o que mais de 70% dos eleitores dizem rejeitar.
Muitas das mesmas pessoas que defendem inclusive a vacinação obrigatória (79%, segundo pesquisa de fevereiro do Instituto Ipsos) não levam os filhos para tomar vacinas obrigatórias.
Há uma distância enorme entre posições aparentes e a realidade. Essa desconexão leva a pensar que o atentado de Jefferson contra policiais federais talvez não seja percebido como um ato praticado por um extremista ligado a Bolsonaro.
E é provável também que, mesmo percebido, o episódio não seja considerado tão grave pelo eleitor mais cínico a ponto de provocar mudança no voto.
Nesse ambiente, as pesquisas sobre intenção de voto talvez não sejam suficientes para esclarecer a situação de desconhecimento da relação Jeff-Bolsonaro e/ou de menosprezo pelo fato. Mas as pesquisas podem ajudar.
Teremos até o final da semana para saber se o ataque de Jefferson abateu também a candidatura do sujeito, ou se tudo segue como antes.
O Ipec divulgado nessa segunda-feira, com Lula com 54% e o outro com 46% dos votos válidos, tem o mesmo resultado da semana passada. Mas ainda não captou o efeito das granadas de Jefferson, se é que esse efeito existe.
É possível supor, sem exagero, que se tivesse ocorrido uma tragédia no domingo, com a morte de um dos policiais pelo bandido bolsonarista, não acontecesse impacto significativo na eleição.
Assim como não tiveram impacto até agora nas pesquisas a invasão da Basílica de Aparecida por milicianos e o vídeo em que o sujeito fala do clima que pintou com as meninas venezuelanas.
É terrível, é triste, mas é a realidade. Questões que passam por abordagens éticas ou morais não abalam o bolsonarismo.