Viralizou o patético vídeo do governador do Rio ignorado por Gabigol, após o título do Flamengo na Libertadores, neste sábado.
Assista no Globo Esporte, clicando aqui.
Sem vergonha, oportunista, e obviamente já vislumbrando uma boa foto caça-cliques para redes sociais, Wilson Witzel se ajoelha, com a manta da ‘Magnética’ nas mãos, e tentar ‘engraxar as chuteiras’ do jogador, que cumprimenta, mas deixa o político no vácuo.
O ex-juiz deveria fazer uma genoflexão e esfregar as havaianas dos pais, familiares e coleguinhas das crianças mortas e feridas por sua política de segurança, onde as balas parecem teleguiadas para acertar os pretos de tão pobres e pobres de tão pretos!
Dezessete crianças baleadas. Seis mortas só em seus menos de onze meses, em que já subiu em helicóptero de onde partiram tiros sobre comunidade pobre, já enterrou trabalhador cujo guarda-chuva foi confundido com fuzil e já massacrou 15 bandidos rendidos, para gozo de vários cidadãos – e cristãos – de bem.
Witzel poderia começar se ajoelhando frente a Jessica, que neste mês viu a filha de 5 aninhos Ketellen Umbelino de Oliveira Gomes tentar acalmá-la, “não chora, mãe”, enquanto se esvaia em sangue, achada por uma bala em suposto confronto entre milicianos – intocáveis – e traficantes tão criminosos quanto homenageados pelo clã do homem da casa 58.
Que o xerife de colote a prova de balas lustre o sangue dos calçados de quem amava e sepultou em caixões de um metro e meio Cauê dos Santos, 12 anos; Cauã Peixoto, 12; Cauã Rosário, 11; Jeniffer Gomes, 11 e Ágatha Vitória Sales Felix, 8 – morta por bala da PM, conforme inquérito da Polícia Civil.
Que o governador rasteje também frente às famílias de policiais mortos. Sim, porque nessa insana guerra profana nas favelas enegrecidas, PMs são alvos cuja contagem de corpos só faz reforçar o discurso fanático e a política genocida do governador, assustadoramente inspiradora a outros cidadãos de bem, genéricos ou originais, políticos ou ‘outsiders’.
E o Ministério Público é cúmplice, e o ministro Sérgio Moro é cúmplice, e o presidente Jair Bolsonaro é cúmplice, e nós somos todos cúmplices da formação dessa quadrilha da incivilidade.
Como chegamos a esse ponto? Um monstro em ti, outro em mim; uma arma pra ti, outra pra mim?
Mas, o que isso tem a ver com as ‘quatro linhas’ de cobertura do Seguinte:, com nossas cidades e vizinhos? Tudo! É também nosso 'zeitgeist', o espírito de um tempo que destrói fisicamente e psicologicamente famílias, em cemitérios, ou no distanciamento causado pela força das palavras e o cair das máscaras.
É meu desabafo, por Cauãs e Ágathas, abatidos ou a caminho do abate, após testemunhar esse comportamento asqueroso de um político branco de tão rico, rico de tão branco, que sonha com a Presidência da República, mas deveria ser julgado e condenado pelo Tribunal Penal Internacional, do qual o Brasil é signatário.
Ao fim, na voz da inspiradora Elza Soares, a canção de Seu Jorge, Marcelo Fontes do Nascimento e Ulises Capelleti, diz ainda mais que o gesto, proposital ou involuntário, do negro Gabigol: “a carne mais barata do mercado é a carne negra” e “o vingador está eleito, mas muito bem intencionado”.
A carne mais barata do mercado
É a carne negra
A carne mais barata do mercado
É a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E pra debaixo do plástico
E vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
A carne mais barata do mercado
É a carne negra
Que fez e faz e faz história
Segurando esse país no braço, meu irmão
O cabra aqui, não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador eleito
Mas muito bem intencionado
E esse país vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
Mas mesmo assim, ainda guarda o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
(Pode acreditar)
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar, brigar
A carne mais barata do mercado
É a carne negra, negra, negra, carne negra
Assista ao vídeo oficial de A Carne, Elza Soares