O assunto é tabu no governo, mas o Seguinte:, após uma circulada pela Assembleia Legislativa, na terça-feira, apurou com diferentes fontes que o prefeito Cristian Wasem (MDB) já conversou com Luciano Zucco – deputado federal, candidato a governador, amigo da família Bolsonaro e hoje todo poderoso no partido – sobre a filiação da esposa Fabi Medeiros no PL do ex-presidente.
Antecipei, ainda no dia da posse, a polêmica sobre a candidatura da primeira-dama a deputada estadual em 2026.
No discurso de 1º de janeiro, Cristian não escondeu o poder da filha do popularíssimo ex-prefeito Francisco Medeiros (em memória).
– Família é tudo em nossas vidas. Quero agradecer minha família por estar ao meu lado o tempo todo. Em especial uma mulher forte, guerreira, amiga: minha esposa Fabi, que administra esse município junto comigo, todos os dias – disse o prefeito (o grifo é meu), que também fez agradecimentos à mãe, a professora Janice, e à sogra, Maria Medeiros.
– Meu sogro, Francisco Medeiros foi prefeito. Hoje ela carrega esse legado. Converso com ela, ela me passa toda essa experiência para eu colocar em prática todo esse trabalho que estou fazendo – disse.
O discurso completo você assiste a partir de 1h10 em Ao vivo: prefeito Cristian, vice Delegado e os 17 vereadores tomam posse em Cachoeirinha.
Como reportei, bastou para o conspiracionismo da política já começar a ruminar.
À época, a teoria criada era de que Cristian poderia repetir o movimento do casal Alba em Gravataí: o ex-prefeito Marco Alba (MDB), presente na posse, foi o ‘Grande Eleitor’ da esposa Patrícia Alba (MDB), suplente que assumiu mandato em 2018 e foi reeleita deputada estadual em 2022.
O artigo 14 da Constituição Federal prevê que “são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato”.
Traduzindo do juridiquês, o artigo no qual o legislador buscou evitar o nepotismo e a perpetuação de famílias no exercício de mandatos, alternando-se apenas os membros de determinada família no revezamento do poder, só não permite que Fabi concorra a prefeita em 2028. A “inelegibilidade reflexa” não proíbe uma candidatura à deputada, em 2026.
Desde a reeleição, são notórias as especulações sobre duas outras potenciais candidaturas à Assembleia Legislativa: o vice-prefeito Delegado João Paulo Martins (PP) e aquele que descrevo como ‘primeiro-ministro’, o assessor especial de Cristian e presidente do MDB, André Lima; leia mais em Por que André Lima pode ser candidato a deputado estadual do prefeito Cristian em Cachoeirinha; O ‘gerentão’.
Óbvio é que uma filiação de Fabi no PL teria potencial para provocar uma crise no MDB. Restaria a desconfiança de que pode ser o futuro caminho de Cristian, reduzindo a força do tradicional partido em Cachoeirinha.
E, pelo que apurei, é bobagem imaginar uma combinação para migração de todos os chefões para o partido bolsonarista. Não por questões ideológicas e sim porque todo meio político sabe que o PL gaúcho tem uma interminável disputa interna por poder, que não permite qualquer planejamento em longo prazo. É um hospício político.
É justamente por essa ‘biruta de aeroporto’ partidária que não tem nada de estranho Cristian negociar com Zucco, enquanto o único vereador do PL, Mano do Parque (PL), após ser obrigado a apoiar a reeleição, ter voltado a fazer oposição radical em Cachoeirinha e até acusar o prefeito de “roubo” – analisei a diatribe em É precipitado e hipócrita vereador acusar o prefeito Cristian de “roubar 4 milhões” em caso das telas interativas; do TCE à PF – e ao Miki 2.0.
Acontece que Mano é ligado ao deputado federal Bibo Nunes, pelo menos por hoje, talvez não amanhã e sabem só eles ontem, adversário interno de Zucco.
Voltando a Fabi, em artigos anteriores já tinha tratado sobre o poder que já exerce, contemplada na aprovação do ‘bonde dos cargos’ pelos vereadores, com a criação do Gabinete da Primeira-Dama – sem receber salários, registre-se.
“É notório para alguém que conhece outrem que trabalha na Prefeitura, e isso é a coisa mais comum em Cachoeirinha, que Fabi é temida e manda. Há quem descreva a dinâmica do casal na relação com o secretariado como ‘a policial malvada e o policial bonzinho’, já que Cristian é contemporizador e a companheira não gosta de deixar nada para amanhã”, escrevi, nos artigos Cachoeirinha tem sua ‘Janja’ e Primeira-dama ocupa espaço do vice em Cachoeirinha; A força do(a)s Medeiros.
“Recomendo como homem criado em décadas machistas: aprendam! Não adianta mensagem bonita para a mãe, a esposa e a filha se não ajudarmos a quebrar os espinhos que restam às mulheres que se arriscam a ocupar os espaços de poder. Seja Fabi, Fabi. Que teus acertos e erros sejam medidos pela mesma régua que a dos machos em seus vestiários de governo”, foi minha conclusão – e a íntegra e o contexto estão nos artigos que citei acima; é só clicar para ler.
Encerro hoje com a mesma análise, sem preconceitos. Para ser eleita, Fabi, que já anda cortando fita de inauguração de obras do governo, precisaria se submeter ao julgamento das urnas. Se o povo não quiser, não ganha. É bem diferente de políticos que buscam acomodar suas esposas, seus filhos, parentes e casos nas prefeituras, ou trocando cargos com familiares de deputados e vereadores da própria cidade ou da região.
Inegável é, porém, que o prefeito teria que enfrentar o desgaste de convencer quem já resta na fila e comunga com ele outro tipo de aliança. E, salvo melhor juízo, uma aventura de Fabi no PL poderia complicar ainda mais neste convencimento.
Ao fim, a única jogada política que reputo possível de explicar o movimento é Cristian, e o MDB, mais do que projetarem uma eleição mais fácil de Fabi pelo PL, acreditarem que podem domar o PL, para impedir que o vice, Delegado, se filie ao partido de Bolsonaro para concorrer a prefeito em 28.
O que, aí é incontestável, Cristian, e menos ainda o MDB, querem que aconteça.
Fato é que, se a Medeiros quiser se filiar, será recebida pelo PL com pompas de deputada.