RAFAEL MARTINELLI

Falecido domingo, histórico sindicalista Castelhano ajudou a trazer a GM para Gravataí

Gualberto Cetrulo Dusser, o Castelhano, faleceu domingo

Há uma história que merece ser contada sobre Gualberto Cetrulo Dusser, o Castelhano, histórico sindicalista falecido neste domingo, aos 73 anos.

A General Motors tinha anunciado em dezembro de 1996 a construção de uma fábrica no Rio Grande do Sul. As potenciais cidades a receber o investimento eram Gravataí, Eldorado do Sul ou Guaíba.

A preferência do então governador Antônio Britto (MDB) era por Guaíba, por razões políticas e financeiras.

Enquanto em Gravataí o prefeito eleito, que assumiria em 1º de janeiro de 97, era Daniel Bordignon, do PT, principal partido de oposição, o governo de Guaíba era aliado e o governador negociava com o presidente Fernando Henrique Cardoso a possibilidade do BNDES financiar empréstimo como parte de projeto de desenvolvimento da Metade Sul gaúcha.

A GM, ao analisar áreas cogitadas pelos municípios, tinha dúvidas sobre o solo e pontos de inundação em Guaíba e Eldorado, avaliava a logística das pontes sobre o rio e, também, tinha preocupações com o clima político no RS.

– Queriam saber se eram queridos em Gravataí – conta um dos negociadores para atrair a fábrica para Gravataí, que pelo afastamento da política pede para não ser identificado.

Para demonstrar o interesse pelo investimento, em março de 97 o governo Bordignon procurou a representação do sindicato dos metalúrgicos em Gravataí. Foi Castelhano, mesmo sob críticas de alguns colegas mais radicais da CUT, a assinar uma carta manifestando apoio à instalação da fábrica no município, mesmo nos moldes da negociação que previa empréstimo e incentivos fiscais – à época um tabu político, principalmente no RS.

Uruguaio radicado em Gravataí, o sindicalista também comprou briga com parte da base sindical pelo mesmo sindicato responder à época por Guaíba.

Para ‘esquentar’ a carta, foi anexado outro documento, assinado por Jairo Carneiro como presidente da CUT, no qual a entidade não se posicionava diretamente a favor de Gravataí, mas empenhava apoio à instalação da montadora “no Rio Grande do Sul”.

A carta de Castelhano foi traduzida para o inglês, enviada à sede da GM em Detroit e também entregue ao presidente e vice da GM Brasil, Mark Hogan e André Beer, além do diretor de assuntos institucionais José Carlos Pinheiro Neto.

Poucos dias após a carta, Bordignon e assessores foram convidados pela direção da GM para ir a São Paulo e já foram recebidos pelo diretor Brenno Kialka com um “parabéns, vocês venceram”. O anúncio oficial de Gravataí como sede da montadora foi feito três dias depois, em 17 de março de 1997.

Hoje os metalúrgicos de Gravataí são representados pelo Simgra, filiado à Força Sindical, mas também com cutistas nas fileiras.

– O Castelhano também exerceu seu papel para conciliar isso – lembra Moacir Bittencourt, que presta assessoria jurídica para o sindicato.

– Era um cara 100% pelos trabalhadores. Muito ajudou outros sindicatos em mobilizações. Era só chamar que o Castelhano estava na porta de fábrica – acrescentou.

Valcir Ascari, presidente do Simgra, publicou no site da entidade nota oficial lamentando a morte do companheiro que atuava como diretor financeiro do sindicato:

– Dedicou 24 anos à luta dos trabalhadores.

Vítima de um mal-súbito, Castelhano foi cremado na manhã desta segunda-feira.

Na noite de terça-feira, a Câmara de Gravataí aprovou por unanimidade moção de pesar por sua morte, proposta pelo vereador Thiago De Leon (PDT).

Ao fim, para quem não sabe, a GM, inaugurada em 20 de julho de 2000, responde por metade do orçamento bilionário de Gravataí e projeta novos investimentos, como reportei ontem em Dia 11 não é só anúncio do investimento bilionário em Gravataí, e sim a confirmação de que não vai pinotear do Brasil; Do SVU ao carro elétrico, as especulações.

– A carta do Castelhano foi um sinal de bem querência. A História conta que havia muito ruído político na época. Se não foi decisiva, ajudou muito – resume a fonte do Seguinte: que viveu a época.

Ainda sigo buscando mais informações sobre um passado ‘guerrilheiro’ de Castelhano, que contava ter participado da luta dos Tapamaro durante a ditadura civil-militar no Uruguai (1973-1985).

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