Jorrou resultado a cobrança-desabafo – “estamos cansados das desculpas da Corsan” – que o prefeito Luiz Zaffalon fez em março. A direção da Corsan veio a Gravataí na terça-feira anunciar investimentos de meio bilhão em 7 anos em obras de água e esgoto.
Mais: para tirar o plano das promessas e dos softwares, foi assinada a ordem de início para construção de um novo reservatório para enfrentar a falta de água na região das Moradas do Vale.
– Fiz uma forte cobrança, no início deste ano, à Corsan, porque acreditamos e precisamos dos investimentos, que em resposta, a companhia agora anuncia. A obra do novo reservatório, na Morada do Vale, é moderna e busca resolver o problema da falta de água. É um momento histórico para essa região. Nós acreditamos na Corsan e precisamos dos investimentos anunciados hoje – disse Zaffa, ex-presidente da companhia e hoje gestor de uma cidade que está entre as piores no ranking brasileiro do saneamento.
Como reportei em Sem água e sem esgoto Gravataí segue entre piores do Brasil; Zaffa apoia privatizar Corsan, Gravataí ganhou seis posições, mas se mantém entre as piores do Brasil no ranking do saneamento.
O levantamento feito pelo Instituto Trata Brasil com base em dados de 2019 mostra que o município subiu do 94º lugar para o 88º em 2021. O percentual da população atendida com água é de 95,24% e com esgoto 33,57%.
A expectativa de reversão dos números trágicos sempre foi, para Zaffa, a parceria público-privada (PPP) da Corsan com o consórcio Aegea, que envolve 9 municípios da Região Metropolitana e projeta universalizar os serviços, com investimento de R$ 1,77 bilhão em 11 anos.
– O déficit no esgotamento sanitário precisa ser enfrentado com inconformismo. Nessa busca a PPP foi um passo fundamental rumo à universalização dos serviços. Temos desafios também no abastecimento de água. A Corsan vem buscando aumentar a segurança hídrica da região e construir alternativas à água captada no rio Gravataí – admitiu o diretor-presidente da Corsan.
Roberto Barbuti explicou que a companhia tem buscado renovar as fontes de recursos financeiros, por meio de movimentos como captação de debêntures, financiamento junto à International Finance Corporation (IFC) e abertura de capital, a qual deve injetar cerca de R$ 1 bilhão na empresa.
Há garantia dos investimentos do plano apresentado em Gravataí.
– São investimentos planejados, já previstos em orçamento, com execução projetada ou em andamento – assegurou o diretor de Expansão da Companhia, Julio Hofer.
Zaffa e os diretores da Corsan foram até a área onde será construído o novo reservatório de 3 milhões de litros, que vai beneficiar a região noroeste da cidade, o que inclui as Moradas do Vale I, II e III.
Com capacidade de atender 67 mil habitantes, a nova estrutura tem investimento de R$ 3.886.996,07 e previsão de término em julho de 2022.
– A construção será feita em aço vitrificado, uma tecnologia de rápida execução e alta durabilidade. A principal função do novo reservatório é reforçar a oferta, garantindo o abastecimento por mais tempo para a população durante situações de falta de água no sistema – detalhou Julio Hofer.
O plano de investimento
Na apresentação dos investimentos nos sistemas de água e esgoto de Gravataí e Cachoeirinha, que funcionam de forma integrada e tem captação de água em Canoas, foram listadas obras de esgotamento sanitário em andamento para ampliação das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) Parque dos Anjos e Freeway e a execução de redes coletoras, Estações de Bombeamento de Esgoto (EBEs) e linhas de recalque nos bairros Tom Jobim, Moradas do Vale I e II e Parque Ipiranga.
No abastecimento de água estão sendo executados o novo reservatório das Moradas e uma adutora de água tratada em Cachoeirinha, partindo desde a avenida Flores da Cunha até o Centro de Reservação (CR) Vista Alegre.
Na fase de projeto, estão melhorias na Estação de Tratamento de Água (ETA) Cachoeirinha (ampliação de produção com instalação de lamelas flexíveis nos decantadores); interligação, por meio de nova adutora, entre a ETA Gravataí e o CR Ciprestes; nova adutora entre a ETA Gravataí e o reservatório R-34 (Santa Cecília); aumento de vazão de água bruta de Canoas para a ETA Cachoeirinha, com substituição da adutora existente; nova captação de água no arroio das Garças; implantação de sistema de abastecimento em Viamão com captação de água no Guaíba, nova ETA, reservatórios e adutoras (o que vai aumentar a disponibilidade de água para várias cidades da Região Metropolitana, incluindo Gravataí); ampliação da produção da ETA Gravataí em 50%, passando para 750 l/s; interligação entre os CRs Ciprestes e Vista Alegre, com nova adutora; aumento da capacidade da ETA Cachoeirinha para 1400 l/s (acréscimo de 50%); nova adutora entre Gravataí e Cachoeirinha, com substituição da existente; e nova adutora entre a ETA Alvorada e a ETA antiga em Gravataí, localizada no Distrito Industrial.
O superintendente da regional Metropolitana, André Borges, também explanou o plano de ação operacional desenvolvido para a cidade, que incluiu, entre ações já realizadas ou em vias de conclusão, o aumento da vazão de água bruta para a ETA de Cachoeirinha; reservatório R-34 e Estação de Bombeamento de Água Tratada (EBAT) no bairro Santa Cecília; instalação de macromedidores, pontos de pressão e ampliação do sistema de telemetria; novo Centro de Controle Operacional; nova travessia junto à ponte do Passo dos Ferreiros; e melhorias das condições de enfrentamento à estiagem, com a implantação de sistemas de captação superficial por balsas.
Estão previstas, segundo o superintendente, ações de curto prazo para aumento da eficiência e confiabilidade de motores da captação no arroio das Garças; implementação de Grupos Motobomba (GMBV) na captação da ETA Rio Branco, em Canoas; aumento da capacidade de reservação de água bruta na lagoa do 1º recalque de Cachoeirinha; resolução de problemas operacionais do 1º recalque das Garças; aumento de eficiência e segurança do sistema elétrico no 2º recalque da ETA Gravataí; conclusão de adutora de água tratada na ponte do Passo dos Ferreiros; e implantação de reservação para a EBAT-84.
Analiso.
Valeu o grito de Zaffa em 5 de março, no pior mês da pandemia, que para quem não lembra, reproduzo de Sem água para lavar as mãos: ’Estamos cansados das desculpas da Corsan’, diz Zaffa:
– A sociedade passa por um momento delicado em que o simples ato de lavar as mãos pode salvar vidas. Porém, em Gravataí, as pessoas ainda sofrem com a falta de água. Não é possível mais aceitar que, em pleno 2021, a Corsan não consiga manter um abastecimento de água satisfatório em Gravataí. Todos os dias, algum ponto da cidade sofre com o desabastecimento e nada é feito. Estamos cansados de desculpas. Queremos que a empresa apresente um plano de ações para resolver, de uma vez por todas, este problema.
Ao fim, está aí o plano.
Aguardemos a execução. Gravataí tem represado a atração de investimentos, industriais mas principalmente imobiliários, por falta de água e esgoto. Que uma eventual privatização, além de mexer no bolso do consumidor, não atrapalhe quebrando contratos, como é feito alerta, por exemplo, em Privatização da Corsan: Patrícia Alba ’pega na mentira’ o governador; Deputada de Gravataí vota contra ’Pix ilimitado’ para vender a estatal.
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