O ministro do STF Gilmar Mendes acaba de proibir a realização de missas, cultos e serviços religiosos em São Paulo, em decisão contrária àquela tomada pelo colega Kássio – com K – Nunes para Belo Horizonte. O pleno do Supremo se manifesta quarta. No domingo de Páscoa, as prefeituras de Gravataí e Cachoeirinha liberaram sem questionar.
Associo-me ao gênio Gilmar e reputo um perigo “não essencial” permitir missas, em um momento em que já temos ‘aglomerações controladas’ como foram as compras de Páscoa, a Freeway lotada, ou mais um recurso judicial do governador Eduardo Leite para tentar retomar as aulas presenciais.
Fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, é que a Grande Porto Alegre permanece com ocupação total de leitos e UTIs e, se houver uma repetição do que aconteceu em todos os feriadões de 2020 para cá, a tendência é aumentar as hospitalizações.
Não li um estudo sequer que garanta que as flexibilizações não alimentam o ‘abre-e-fecha’ – dos comércios e dos túmulos.
Pelo contrário, o cientista Miguel Nicolélis, que infelizmente é o Nuncaerris da pandemia, porque desde dezembro passado alerta que o Brasil ultrapassaria as 3 mil vidas perdidas por dia, projeta que em abril, pela primeira vez na história do Brasil, teremos mais mortes do que nascimentos, como consequência da COVID-19.
E aí vamos abrir templos?
E aí vamos voltar às aulas?
E aí vamos esperar o Dia das Mães para nos aglomerar em nossas casas, interior ou litoral no veranico de maio?
Este jornalista, um Dr. Stockmann de Um Inimigo do Povo, de Ibsen, entende que está tudo errado!
Os sinais de governantes e pessoas influentes parecem péssimos.
Hoje em O que Zaffa quer mudar em Gravataí não precisa dinheiro; 10 coisas que o prefeito disse na Acigra reproduzi a live do prefeito de Gravataí na Acigra. Perguntado por Régis Marques, ex-presidente da entidade, sobre a cogestão, que permite a prefeitos tomar decisões diferentes do governo estadual, Luiz Zaffalon disse que “falta bom senso” aos Gabinete de Crise do Estado e criticou o fechamento do comércio não essencial aos finais de semana.
– O vírus não faz fim de semana – disse Zaffa, mais ou menos assim, para gozo dos empresários.
Entendo um reducionismo que em nada ajuda.
É óbvio que não é o sábado, o domingo, a segunda ou a quinta que muda o comportamento do vírus, e sim a diminuição da circulação do vírus – que acredito ser o objetivo, não por esporte, mas porque é um momento em que não há capacidade hospitalar para que todos fiquemos infectados juntos.
Sei o prefeito tem o entendimento de que ampliar o horário do comércio diminui aglomerações e, sociólogo, tende ao menos por formação saber entender melhor do que eu o comportamento dos consumidores da aldeia. Mas, salvo engano, e apelo por convencimento, reputo um símbolo ruim. É forçar uma normalidade que não existe.
A comemoração por parte de Zaffa, na live com a Acigra, de ter o prefeito de Porto Alegre e agora presidente da Granpal, Sebastião Melo, em uma cadeira no Gabinete de Crise ao lado do governador Eduardo Leite, só não me assustou mais do que se lá estivesse Osmar “no máximo 800 mortes por COVID” Terra.
Crucificaram-me quando escrevi Gravataí e Cachoeirinha: comércio que reabre segunda também tem culpa na COVID; Freud explica. Mas hoje no El País, um dos maiores jornais do mundo, é publicado Mortes entre caixas, frentistas e motoristas de ônibus aumentaram 60% no Brasil no auge da pandemia.
A virulência do vírus não poupa os trabalhadores do comércio “essencial”, e nem do “não essencial”. Essa é a realidade.
Só a vacina salva e basta fazer uma simples regra de três para saber que até outubro não teremos imunizado nem os grupos prioritários. Basta-nos comemorar recordes de Pirro na vacinação? É o que temos em Gravataí e Cachoeirinha, muito eficazes, mas campeãs entre meia dúzia de doses enviadas pelo governo federal.
Ao fim, Zaffa em Gravataí e Miki Breier em Cachoeirinha fazem o que precisam fazer, já que são o “prefeito de todos”. Ouvem do melhor cientista que dispõe até o maior negacionista da aldeia. Indeléveis são suas decisões.
Perdoem-me o amargor sem chocolates, mas não sai de meu imaginário Jesus destruindo o templo de Jerusalém e cobrando o que faziam com “a Casa de Meu Pai”.
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