Às 21h Marco Alba se preparava para apagar a luz de seu gabinete na Prefeitura quando atendeu ao Seguinte:, por telefone. Entre as reuniões de mais um sábado com 12h de plantão, uma delas com representante de mais uma carreata do movimento #OBrasilNãoPodeParar, o que lê, assiste e a quem consulta ajuda a entender pelo que se guia para exercer a mais alta responsabilidade que um prefeito já teve em Gravataí: tomar decisões no ‘pentágono’ da guerra contra a COVID-19.
Antes do prefeito antecipar um pouco do que vai dizer na live deste domingo, 14h15, no Facebook da Prefeitura, levo o leitor a um passeio pelo celular de Marco Alba. O que está no aparelho não fala, grita.
A última coisa do histórico era o artigo “Estão ocorrendo mortes por coronavírus sem diagnóstico na rede pública”, diz pneumologista da Fiocruz. É Margareth Dalcomo, a principal referência da área no Brasil, e defensora do isolamento radical para que a COVID-19 não custe ainda mais caro.
– O vírus e suas sequelas ainda são em grande parte desconhecidas pela comunidade científica – alerta a cientista, requisitada quase que diariamente para entrevistas na Globo, ao advertir que no Brasil a COVID-19 tem atingido adultos abaixo de 50 anos com a mesma ferocidade que infecta idosos na Itália.
O último vídeo assistido era a live de hoje da cúpula do Ministério da Saúde, com o balanço dos 3.904 casos confirmados no Brasil, com 114 mortes, e as recomendações técnicas. Uma edição selecionava trecho com as palavras do médico Luiz Henrique Mandetta:
– Fazer movimento com efeito manada, agora? Daqui a duas semanas, três, os mesmos que falam “vamos fazer uma carreata”, são os mesmos que vão estar em casa. Não é hora agora.
No vídeo, cuja íntegra você assiste clicando aqui, o ministro da Saúde alerta que, enquanto outros países saíam do período de gripes tipo influenza, como H1N1, o Brasil está entrando no momento em que a pandemia começa a crescer de forma exponencial. E com o Rio Grande do Sul como maior preocupação.
– Nenhum país passou por isso: entrar no pico da epidemia de gripe junto com o corona. Entramos no outono e ali na frente é nosso inverno. Lembrem-se: estamos em março. Nosso junho e julho é o pico no Sul.
“Esse vídeo diz tudo”, indicou Marco Alba, antes de compartilhar pelo WhatsApp palestra de Barack Obama a formandos da Universidade de Nova Jersey:
– Na política e na vida, ignorância não é uma virtude. Não é legal você não saber do que está falando. Isso não é sustentar que é verdade ou dizer que parece que é. Isso não é desafiar o politicamente correto. Isso é somente não saber sobre o que você está falando.
Ao concluir que “a rejeição dos fatos, da razão e da ciência é o caminho para o declínio”, o popularíssimo ex-presidente norte-americano cita o físico, biólogo, astrônomo, astrofísico e cosmólogo Carl Sagan:
– Podemos julgar nosso progresso pela coragem dos nossos questionamentos, e pela profundidade de nossas respostas, nossa vontade de abraçar o que é verdadeiro ao invés daquilo que nos faz sentir bem.
Saímos do celular para nossa personagem. Marco Alba está preocupado:
– Agora temos dois problemas. Além do vírus ameaçar o sistema de saúde, especialistas apontam que a infecção é muito pior que uma gripe e mais letal que uma pneumonia clássica.
Mas o prefeito demonstra equilíbrio e serenidade. Frieza, não.
– Prefiro pecar pelo excesso de cuidados. Economia se recupera, vidas não.
Marco Alba compara a guerra contra o COVID-19 à Segunda Guerra.
– Nosso medo, além de antecipado, é exacerbado pela desigualdade no Brasil e por nunca termos vivido uma catástrofe, enquanto a Europa tem a experiência da devastação das guerras. Precisamos ter disciplina, resiliência e esperança. Vamos vencer.
Sobre a pressão das duas carreatas para revogar decretos que regulam atividades econômicas e suspendem as aulas, o que tratei no artigo Parem Gravataí que eu quero descer!; declaro-me Inimigo do Povo, amigo da vida, o prefeito é definitivo e desmente a fake news de que o comércio reabre nesta segunda:
– Até o dia 5 (domingo da semana que vem) o isolamento social está mantido.
– Mas a quarentena obviamente não é para sempre – acrescenta, anunciando para a próxima semana um acompanhamento diário da evolução da doença.
O comitê de crise vai embasar a estratégia de reabertura e pode alterar a data de 21 de abril fixada pelo último decreto, decisão que tomou com base em projeção de que o pico do contágio por COVID-19 acontecerá no Brasil entre 6 e 21 de abril, conforme parecer da JPMorgan Chase & Co., instituição norte-americana que é líder mundial em serviços financeiros e a terceira maior empresa do mundo.
– O comércio está parado há sete dias. A indústria parou hoje. Apresentaremos um plano por setores, seguindo as orientações técnicas.
O prefeito atesta que ‘a maior empresa’ de Gravataí é a que mais sofreu até o momento com o ‘contágio econômico’: a Prefeitura contabiliza prejuízo de pelo menos R$ 80 milhões. Sete a cada 10 reais deixaram de entrar no caixa nos últimos 10 dias.
– Mandetta foi brilhante hoje. Mostrou que o Ministério da Saúde assumiu o controle da crise, e a condição será com viés técnico e racional. Isso dá segurança. A politização entre o governos federal e estados, com a antecipação da eleição de 2022, traria sérios prejuízos ao país – observa, com a leitura de quem tem três décadas de política.
– Se políticos decidirem pelos especialistas, daqui a pouco não teremos mais ninguém no front. São os médicos que estão na linha de frente.
Pragmático, por gerir uma cidade com um único hospital, o Dom João Becker/Santa Casa, com 193 leitos, 110 deles pelo SUS, e apenas 12 de UTI, além de 26 respiradores contando também a UPA e o 24H, Marco Alba resume:
– Hoje o isolamento social é a melhor estratégia.
– Poderíamos ter minimizado essa crise se tivéssemos fechado aeroportos lá em janeiro quando buscamos brasileiros que estavam na China. Agora resta agir com racionalidade. Sou o prefeito de quem quer tudo fechado e de quem quer tudo aberto. Sei que a responsabilidade é minha e vou agir com todo cuidado. As pressões de cada dia, na rua, nas redes sociais, fazem parte. Mas não é essa minha régua – concluiu.
Ao fim, desliguei tranquilo por Marco Alba estar estudando profundamente a COVID-19, atento a especialistas e também preocupado com as dificuldades enfrentadas por comerciantes, industriais e autônomos. E, principalmente, pela certeza de que nos próximos dias agirá com responsabilidade e nunca no grito, real ou virtual, ou então pendurado em algum lado da ferradura ideológica.
Na palestra que referi anteriormente, Obama arrancou risos da plateia:
– Sabem, é interessante que se nós ficarmos doentes, queremos ter certeza de que os médicos foram à faculdade de medicina, que eles sabem o que estão falando. Se entramos em um avião, dizemos que queremos que um piloto seja capaz de pilotar o avião. E ainda assim, em nossas vidas públicas, por vezes decidimos: eu não quero alguém que já fez isso antes!
Inegável é que Marco Alba está sendo um bom piloto neste downburst.
ATUALIZAÇÃO
Clique aqui para assistir a live do prefeito neste domingo.
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