As aulas nas escolas de Gravataí não vão mais ser retomadas em 1º de junho. É, talvez, o problema mais complexo nesta crise do coronavírus. O que não me impede de associar-me desde já aos educadores – e pais – que apelam que o plano pedagógico para a pandemia não crie um ‘apartheid escolar’, com aluno ‘pobre’ na sala de aula, e ‘rico’ em casa.
– Temos a convicção técnica de que ainda vai demorar algum tempo para voltar às aulas com a presença física dos alunos. Seguramente em junho as aulas seguirão suspensas – disse o prefeito Marco Alba em live, ao anunciar que vai alterar o decreto municipal que suspendia as atividades apenas até 31 de maio.
O novo prazo para volta às aulas, seja presencial, ou online, ainda não foi informado. A secretária Sônia Oliveira vai participar na noite deste domingo da transmissão ao vivo pelo Facebook da Prefeitura, para informar o que está no horizonte da SMED. Às 19h, clique aqui para assistir.
O Estado também não detalhou estratégias. O que o governador Eduardo Leite já antecipou é que está sendo programado o ensino remoto, “seja por rede de internet, seja de forma presencial”.
O entre aspas embute uma evidência do que chamo ‘apartheid escolar’ – e nem trato neste artigo da dificuldade de ministrar, e compreender, os conteúdos no modelo de ensino à distância, porque é uma alternativa necessária para que não se ‘feche’, e quebre, o setor da educação, já que a consequência seria uma migração insuportável de alunos da rede privada para a pública.
Identifico antes de tudo um notório problema estrutural. A ideia do RS é ‘academicamente’ boa, mas distante da realidade do 7º país mais desigual do mundo, melhor apenas que os africanos em relatório de 2019 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
O que se sabe até agora é que a Assembleia Legislativa vai liberar R$ 5,4 milhões para ampliar a rede de internet necessária ao acesso dos alunos da rede estadual à plataforma educacional que será lançada pelo governo gaúcho para oferecer os conteúdos das aulas remotas.
Os alunos cadastrarão um aparelho de celular para acesso à plataforma online e terão a capacidade de dados dos aparelhos aumentada, exclusivamente para atender ao programa educacional.
Conforme o secretário de Educação, Faisal Karam, para os alunos que não tem aparelho celular, nem se fala no governo fornecer aparelhos, ou buscar uma parceria com operadores. O que está sendo estudada é a possibilidade de “permitir o uso da estrutura escolar” para acompanhamento das aulas.
Resta aí o resumo da ‘segregação’: tem celular, estuda em casa; não tem, vai para a escola.
(E, ei, você, aí dentro da ‘bolha’: existe criança, adolescente, adulto e até idoso estudante sem celular, sim!. Alguns só comem na escola, e por isso a Prefeitura e comunidade escolar tem mapeado famílias em dificuldade para fornecer cestas básicas).
Ao fim, adiar a volta às aulas é uma medida acertada, já que Gravataí registra um crescimento exponencial de infectados com a COVID-19 e a Região Porto Alegre foi mantida sob a bandeira laranja, de risco médio, na classificação deste sábado do distanciamento controlado do Governo do RS.
O SARS-CoV-2 'pega' crianças também. Em Gravataí, só nesta semana tivemos cinco casos de crianças infectadas, com 3, 7, 9, 11 e 13 anos. E há um exemplo do ‘primeiro mundo’ serve como alerta. Nesta semana, 7 dias após o retorno das aulas do ensino infantil e fundamental, o governo francês anunciou o fechamento de 70 das 40 mil escolas do país devido ao contágio pelo novo coronavírus.
Já sobre mandar os pobres voltarem antes para a escola, só tenho uma certeza: será uma lição prática de Casa Grande e Senzala.
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