"Sem rodeios, estamos a cerca de uma semana da falta generalizada de respiradores, máscaras cirúrgicas, as coisas necessárias para manter o sistema hospitalar funcionando".
O grito foi do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, à CNN, mas poderia ser de Marco Alba, em Gravataí, ou de Miki Breier, em Cachoeirinha.
A metrópole registra 6% dos casos de infecção por Covid-19 no mundo: 20.885 na última segunda-feira, 4 mil a mais do que no dia anterior, quase metade dos registrados nos EUA, que deve ser o novo epicentro da Covid-19 pandemia.
São 19 respiradores no Hospital Dom João Becker, 3 na UPA e 3 no 24H da Gravataí com 15 casos em análise e uma confirmação, assessora da Prefeitura de Cachoeirinha que participou de um cruzeiro com outras 50 pessoas da região, e o jornalista Cristiano Abreu entrevistou para o Seguinte: em Primeiro caso confirmado em Gravataí, assessora relata como está superando o coronavírus.
No artigo Gravataí prepara ’estratégia de guerra’ contra coronavírus; crise não é um meme, apresentei a ‘ideologia dos números’ que confirma que a falta de leitos em Gravataí é um fato. São 193, destes 121 pelo SUS, entre a Santa Casa, a UPA e o 24H. Seria necessário três vezes mais, pelo porte do município, conforme a Organização Mundial da Saúde.
Dados da Secretaria Municipal da Saúde mostram que, em fevereiro, antes da pandemia, a taxa de ocupação de leitos pelo SUS chegava a 97%, superando a média nacional de 95%.
Há no Dom João Becker 12 leitos de UTI (oito adultos e quatro pediátricos). 60% são reservados obrigatoriamente para o SUS, mas estados clínicos tem feito com que o atendimento público ocupe quase todos os leitos.
Do total, só há quatro leitos com isolamento respiratório, especificidade recomendada para casos de coronavírus.
Conforme epidemiologista em pesquisa publicada pela Science, ao lado da Nature uma das revistas acadêmicas mais prestigiadas do mundo, 86% dos portadores da covid-19 não terão sintomas relevantes, mas serão responsáveis por 79% das transmissões. Dos infectados, 15% poderão precisar de tratamento e 5% de internação em uma unidade de tratamento intensivo.
No artigo São urgentes decretos ’fecha tudo’ em Gravataí e Cachoeirinha; sem ’quarentena’, pior cenário precisaria 8 mil leitos de UTI, trouxe levantamento devastador feito pelo premiado jornalista Eduardo Torres, do CG, com base em dados da Secretaria do Planejamento do Estado.
Se a doença seguisse uma lógica linear, no pico daqui a três meses teríamos 553 casos confirmados entre as duas cidades, com uma necessidade de 28 leitos em UTIs, quando entre os hospitais Dom João Becker e Padre Jeremias há 233 leitos públicos e particulares e apenas 12 em UTI, todos em Gravataí.
O Rio Grande do Sul dispõe de 12,8 mil leitos clínicos públicos e privados. Em UTIs são 1,6 mil e outros 200 serão abertos nos próximos dias.
No pior cenário possível, no auge da infecção no país, até 40% da população pode ser contagiada pelo coronavírus, destes oito a cada 10 sem sintomas, ou com leves sinais. Em uma projeção da população locasl, seriam 112,6 mil pessoas em Gravataí e outras 52,1 mil em Cachoeirinha.
O problema é que a média mundial demonstra que, se as práticas mais rigorosas de controle do contágio não forem tomadas, 15% dos infectados precisarão de internação. Significaria uma demanda impossível de cobrir pela rede hospitalar local ou de qualquer país, com 16,8 mil pacientes em Gravataí e 7,8 mil em Cachoeirinha.
Seria uma catástrofe italiana, nas duas cidades onde quase duas a cada 10 pessoas são idosos e grupo de risco, já que em até 5% dos infectados, as complicações respiratórias determinam internação em unidades de tratamento intensivo, com respiradores. Aí, o quadro piora. Seriam inimagináveis 8,2 mil leitos.
Muitos amigos de Facebook compartilharam hoje reportagem de fevereiro do El País Itália muda estratégia contra o coronavírus para combater o alarmismo e proteger a economia, que dizia que o governo se empenhava para garantir que turistas não correm risco ao viajar ao país.
Clique acima e leia, o conteúdo está aberto e é informação essencial, principalmente após o pronunciamento do presidente que, como comentei em meu perfil, no qual você pode comentar clicando aqui, “Bolsonaro arrisca passar de inimputável para suspeito de crime contra humanidade.????”.
Preste atenção.
Enquanto o governo chamava turistas, a Itália registrava 17 mortes por coronavírus. Desde então, o país mudou drasticamente a política para endurecer o isolamento e tentar estancar milhares de mortes que colapsam o sistema de saúde.
Nesta terça o Brasil registrava 59 mortes quando Bolsonaro apareceu em TV e rádio para todo país demonstrando pensar mais em 2022 do que nos enterros sem velório destes dias, ao debochar da “gripezinha ou resfriadinho” e culpar prefeitos e governadores pelo ‘contágio econômico’ da crise do coronavírus.
A taxa de transmissão de uma gripe comum é de 21%, enquanto a taxa de transmissão do coronavírus é de 80%. Coronavírus não é Influenza, Covid-19 não é H1N1.
São os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos e teorias conspiratórias.
Investiguei o número de respiradores em Gravataí não para provocar pânico, mas para reforçar a necessidade de ficarmos em casa, o máximo que pudermos, para ajudar a retardar o contágio – 6 a cada 10 terráqueos serão infectados – e, ao diluir os casos em mais semanas, não colapsar nosso frágil sistema de saúde.
Não se trata de uma ‘quarentena eterna’, e sim, neste momento, de um remédio amargo, porém necessário, receitado por especialistas do mundo inteiro e – apoiemos – seguido pelos nossos prefeitos.
Comemoro Marco Alba e Miki Breier não terem embarcado no terraplanismo sanitário do ‘isolamento vertical’ proposto pelo ‘mito’, que no Brasil, 7º país mais desigual do mundo conforme o índice Gini, da ONU, significaria por em risco de morte os idosos cuja pobreza entra pelos buracos da roupa. A quarentena nunca será a mesma de pais e avós das classes média e alta.
Ao fim, necessário botar máscara frente às diatribes cada vez mais letais de Bolsonaro. Compartilho o meme aquele: “somos o único país com o azar de ouvir o pronunciamento do próprio coronavírus”.
FIQUE EM CASA!!!
Assista vídeo em que Miki defende o isolamento social
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