dias de caos

Hora de calcular o preço da greve em Gravataí

Caminhoneiros pararam por dez dias, mas os efeitos do movimento ainda são sentidos | foto GUILHERME KLAMT

Passada a greve dos caminhoneiros, ninguém em Gravataí consegue ainda precisar o tamanho do estrago que ela deixou na economia local. O momento agora é de estimar as perdas e, por que não, os ganhos de alguns setores. Se a indústria acusou o golpe dos insumos que não chegaram e da impossibilidade de escoar produção, os supermercados viveram uma corrida às compras, com o uso de estoques e, consequente, o aumento de preços ao consumidor. Nas contas públicas, o momento é de espera. Ainda não é possível estimar a queda provocada sobretudo na arrecadação de ICMS. A recuperação da economia — dependendo do que resultarão as negociações pós-greve —, entendem os empresários locais, necessariamente recairá sobre o consumidor final.

Levantamento da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) dá conta de perdas de pelo menos R$ 75 bilhões no Brasil, entre todos os setores. De acordo com o presidente da Acigra, Régis Albino Marques Gomes, ainda não foi feita uma pesquisa local detalhada de cada setor da economia e, segundo ele, o melhor é aguardar os desdobramentos do pós-crise.

— Conversamos, é claro, com empresários dos mais variados setores. Em Gravataí, é seguro dizer que a indústria foi o setor que mais sentiu a greve. Tem insumos que ainda sequer chegaram ao município, depois de ficarem presos em portos e estradas — comenta.

 

Complexo da GM parado

 

Neste setor, aliás, Gravataí talvez seja um dos principais pontos impactados no país. O Complexo da GM parou a produção no dia 21 de maio sob a alegação de que já faltavam peças para as linhas de montagem do Ônix e do Prisma. A fábrica já programava o layoff (férias coletivas) entre os dias 28 de maio e 16 de junho, por isso ainda não retomou a produção. Na prática, a greve provocou uma semana sem novos carros sendo produzidos em Gravataí — quase 10 mil veículos a menos, ou 12,5% do total de carros que deixram de ser produzidos no país com a paralisação nacional —, e, se a produção tivesse continuado, não haveria onde manter os veículos. Os pátios estão lotados com a produção que não escoou pela adesão dos cegonheiros ao movimento.

O complexo responde por quase a metade a arrecadação de ICMS do município. Então, é de se esperar a queda nos cofres públicos. O tamanho do tombo, porém, ainda não é estimado.

— Precisaremos ainda de um tempo para medir o impacto dos dez dias da paralisação. O recuo vai se dar no momento da transferência destes recursos para o município — diz o secretário municipal da Fazenda, Davi Severgnini.

Conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), levará pelo menos 20 dias para que a indústria comece a se recuperar.

 

A "ressaca" do consumo

 

No setor supermercadista, mesmo que estimativas nacionais deem conta R$ 2,7 bilhões prejuízo, a corrida da população às compras fez dispararem as vendas e, em alguns casos, a queima de estoque. Conforme a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), não houve desabastecimento de produtos nos 4,4 mil estabelecimentos no Estado. Segundo o presidente da entidade, os estoques médios das redes suportam em torno de 15 dias.

— O efeito imediato nesse setor foi o uso dos estoques e até uma alta de preços. Representa um ganho para eles no valor das vendas naquele momento, mas não é permanente. A preocupação de todos está com o que virá pela frente. Se o supermercadista, por exemplo, ganha neste momento da venda, a partir das negociações dos novos valores de fretes, pode ser que tenha um custo ainda maior na reposição. Alguns setores podem sofrer até 60% de alta no valor do frete — salienta o dirigente.

Há ainda o chamado "efeito ressaca". Com alguns prenúncios catastróficos durante o movimento dos caminhoneiros, houve quem corresse para estocar produtos. Isso significa, para quem vende, o marasmo logo após o efeito manada para fazer estoques.

A ressaca está sendo vivida, conforme o presidente do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis (Sulpetro), João Carlos Dal'Aqua, neste setor.

— Foram sete dias sem receber combustíveis, depois, quando recebemos, foi aquela grande procura. O pessoal encheu o tanque, e agora esvaziou os postos. Depois da greve, estamos com perdas — avalia.

Não há uma estimativa local de Gravataí sobre as consequências da greve dos caminhoneiros nos postos. No Rio Grande do Sul, a estimativa do Sulpetro é de que, na semana em que não houve abastecimento, quase R$ 90 milhões tenham sido perdidos.

— É como um hotel sem ocupação em um determinado período. Aquele consumo, não vamos mais recuperar. Teremos que absorver e ainda deparamos com um cenário de absoluta incerteza após a greve — diz Dal'Aqua.

Segundo ele, a ação "quase policialesca" em relação ao controle do preço o diesel e à alta no preço da gasolina tornam o cenário futuro imprevisível.

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