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Limpeza do armário emocional: o que fazer após o fim de uma relação

Não se aferrar a objetos pessoais, não seguir a pessoa no Facebook e reservar um tempo para você antes de iniciar uma nova etapa ajudam a manter a vida sentimental em ordem. O Seguinte: reproduz o artigo publicado pelo El País

 

Em tempos de amor líquido, que poucas vezes dura a vida toda, acumulamos relações e lembranças, alegrias e desencantos, relíquias de nossa vida sentimental que se amontoam numa mochila cada vez mais pesada. Precisamos tornar nossa bagagem mais leve de vez em quando, então fazemos o mais fácil: esquecer as marcas das relações passadas nos armários da vida sentimental, aonde entram numerosas experiências, mas dos quais muito poucas saem. Cedo ou tarde, chega a hora de fazer a limpeza – e os que sabem do assunto dizem que não há melhor momento para isso que após uma ruptura.

Em casa, esse processo não inclui apenas jogar coisas fora. Também devemos aprender a arrumar as que ficam, e o mesmo acontece no campo das relações de casal. A boa notícia é que há um processo para conseguir isso – e todos podemos utilizá-lo. Afinal, se Marie Kondo conseguiu nos convencer na TV de que a melhor parte dos objetos que lotam nossos armários estariam melhor na lata de lixo, e nos ensinou a manter a ordem no guarda-roupa, por que não seria assim também com as sequelas deixadas pela vida emocional? É muito importante eliminar o que já não faz falta e aprender a guardar o que é estritamente necessário.

Limpar o caminho para uma nova relação

“Se imaginamos que nascemos com uma mochila nas costas, e que ao longo da vida a enchemos de experiências, emoções e conhecimentos, é normal que o peso interfira de vez em quando em nosso dia a dia”, reflete a sexóloga Lara Herrero. E a carga emocional é um importante fator que devemos levar em conta antes de iniciar uma nova relação estável, sobretudo quando não nos oxigenamos entre um relacionamento e outro.

“Não se pode desfrutar do presente vivendo no passado”, prossegue a especialista. “Se o ato de se desfazer de um certo objeto relacionado com o ex-companheiro ajuda você a superar a ruptura e conseguir ser mais feliz, vá em frente.” Mas a vida nem sempre é tão simples como pinta Marie Kondo. Por isso, convém não ser muito radical na limpeza do armário emocional. “Muitas lembranças, objetos e vivências com um ex podem ter determinado um comportamento atual, uma aprendizagem ou uma maneira de ser. Abrir mão de tudo isso também pode significar, de certa forma, abrir mão de nós mesmos”, diz a psicóloga.

E a principal carga emocional não são as fotos ou os ingressos da primeira sessão de cinema. Em geral, o que mais pesa é a autoflagelação, a culpa e o convencimento de que voltaremos a cometer nossos erros. Mas prever o futuro em função das experiências do passado é uma atitude tão comum quanto errada, adverte Herrero. “O fato de que uma relação tenha fracassado não significa que uma relação futura também dê errado”, diz ela.

Segundo o psicólogo Miguel Ángel Rizaldos, é comum “ficarmos bloqueados pelo medo de que a mesma situação volte a ocorrer. Assim, achamos que o melhor para não revivê-la é não ter uma relação de casal”. Para não cair nesse caos emocional, a chave é enfrentar a ruptura da melhor maneira possível. “É preciso viver essas emoções de dor e sofrimento, sem tentar bloqueá-las”, recomenda. Mas só durante a primeira etapa do luto.

As mulheres sofrem mais, mas se recuperam antes

Após um rompimento adequado, o primeiro passo para fazer a limpeza do armário emocional é a aceitação. “Os estudos indicam que as pessoas que sofreram um fracasso na relação de casal precisam, para poder superá-lo, entender nitidamente por que a relação terminou”, explica Rizaldos. Ou seja: trata-se de averiguar onde está realmente a bagunça no nosso armário para deixar cada coisa em seu lugar.

O passo seguinte é cuidar de você mesmo. Como afirma o manual Positive Approaches to Optimal Relationship Development (abordagens positivas para o desenvolvimento ótimo da relação), da Universidade de Cambridge (Reino Unido), antes de passar de um relacionamento a outro é importante você se recompor e sair da sensação de abandono. Entretanto, como lembra Rizaldos, “a pessoa deve ser paciente e se permitir uma adaptação à nova vida, onde o primordial é encontrar o bem-estar superando a dor causada”. Isso pode levar alguns meses.

Segundo um estudo publicado na revista Evolutionary Behavioural, o tempo médio para superar uma ruptura amorosa oscila entre seis meses e dois anos, variando segundo a resiliência de cada pessoa, mas também segundo o sexo. As mulheres sofrem um maior impacto emocional e físico após a ruptura, mas se recuperam antes que os homens. Muitos deles, ao contrário, apesar de não sofrerem tanto com o rompimento, costumam iniciar a relação seguinte com a ex ainda em mente.

Também é preciso organizar as amizades do Facebook

Guardamos aquele garfo de plástico da salada para o caso de um eventual acampamento – e aquela lembrança do primeiro encontro com nosso ex para o caso de algum dia nostálgico. O armário emocional às vezes tem um reflexo físico, na forma de fotos, presentes e amizades nas redes sociais que devemos deixar no passado se não quisermos que nos imobilize demais. A respeito desse assunto, Rizaldos diz que “as pesquisas mostram que a perda da relação de casal ativa no cérebro os mesmos mecanismos que os de um dependente sem acesso às substâncias tóxicas”. Portanto, a pessoa passa por algo parecido com um “período de abstinência”. Nessa etapa, é essencial não buscar contato com o ex nem ficar contemplando fotos e objetos – por exemplo, não se abraçar à roupa que ainda tem o cheiro da pessoa. No caso das redes sociais, é melhor eliminar qualquer contato, ao menos por um tempo. “O mais saudável é reconhecer que, embora tenhamos a impulsiva necessidade de entrar em contato ou espionar através das redes sociais, com isso estaremos revivendo o vício, mergulhando ainda mais na dor emocional que sentimos e atrasando nossa recuperação”, afirma Rizaldos.

De fato, um estudo da psicóloga Tara Marshall, da Universidade Brunel (Reino Unido), publicado na revista Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking,concluiu que as pessoas que continuavam amigas dos ex-companheiros no Facebook tinham taxas mais baixas de crescimento pessoal. E, como bem sabe qualquer pessoa diligente, o crescimento nem sempre tem que ser para fora: fazer lugar nos armários entulhados é a melhor forma de aproveitar bem o espaço. No campo emocional, também é assim.

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