crise do coronavírus

Lockdown maior em Gravataí e Cachoeirinha: ’A situação é de desespero’, diz Zaffa; Associo-me ao ’mimimi’

CTI do Clínicas, em Porto Alegre, um dos hospitais referência para Gravataí, com 116 por cento de lotação | Foto SILVIO ÁVILA | HCPA

O prefeito de Gravataí fez aquele que reputo o alerta mais dramático sobre a Guerra da COVID, ao término da videoconferência com o governador Eduardo Leite, na tarde desta sexta. Mais forte ainda do que ontem, em O pior dia de nossas vidas: nunca se morreu tanto em Gravataí; ’Pelo amor de Deus, não temos mais como atender às pessoas infectadas’, apela prefeito.

Associo-me ao ‘mimimi’ do Zaffa.

Antes de reproduzir o que disse o prefeito, reporto o que foi decidido na reunião – e, desta vez sem política, respeitando integralmente a recomendação do comitê científico que subsidia o Distanciamento Controlado.

O Rio Grande do Sul segue em bandeira preta, de altíssimo risco de contágio, até dia 22. O ‘toque de recolher’ entre 20h e 5h será estendido até dia 31. O lockdown será mais restritivo, com a proibição da comercialização de produtos não essenciais nos supermercados durante esse período, a partir de segunda-feira.

Será proibido aos supermercados, por exemplo, vender calçados, roupas e perfumaria. Itens como geladeiras, televisões e fogões poderão ser vendidos pelo sistema de telentrega.

Na prática, o Big e o Carrefour não podem vender itens não essenciais, e a Havan só pode comercializar a meia dúzia de sacos de feijão e arroz que tem em uma prateleira, como tratei em Por que Havan de Gravataí pode abrir no lockdown.

A cogestão não será retomada até dia 22. Significa que prefeitos só podem ser mais, não menos restritivos que decretos estaduais. Como o Governo do Estado não conseguiu liminar em recurso ao STF as aulas seguem suspensas para todas as séries nas redes pública e privada.

As regras da bandeira preta são as mesmas do link que você acessa em Colapso e lockdown em Gravataí e Cachoeirinha: o apelo dos prefeitos; ’O desastre e o caos podem aumentar’.

Pedi um comentário para Zaffa e ele enviou pelo WhatsApp.

Reproduzo na íntegra e, abaixo, sigo.

 

“…

Concordo (com o que foi decidido). Não poderia ser diferente para alguém que, como eu, convive neste dias com as angústias e pavor das equipes médicas, com as pessoas pedindo ajuda na rua e nos espaços digitais, pessoas conhecidas de todo RS pedindo ajuda para arrumar uma transferência para Gravataí, etc…

Acho que parte da sociedade ainda não entendeu a gravidade da situação. Devemos esclarecer com muito mais ênfase à sociedade e restringir ainda mais a circulação de pessoas.

O Centro está repleto de gente, lideranças apoiando mais abertura…. temos que estancar isto.

Não temos mais estrutura hospitalar.

A situação é de desespero.

Há poucos dias lamentávamos dois mortos por dia. Hoje estão morrendo 10 por dia e pode aumentar.

OS NÚMEROS PASSARAM A TER NOMES PRA CADA UM DE NÓS.

E ESTES NOMES, CONHECEMOS.

…”

 

Sigo eu.

Associo-me a Zaffa. É momento de ser o Dr. Stockmann, de Um Inimigo do Povo, de Ibsen.

É absurdo ler notas de entidades empresariais, como a Fecomércio, Federasul e Fiergs, com apoio de associados locais, como o Sindilojas e a Acigra, defendendo a reabertura de atividades não-essenciais.

É assustador observar pessoas se comportando como se não estivéssemos em guerra e criticando o lockdown usando como justificativa o erro de outros, como aconteceu com Páscoa, Dia da Criança, Eleições, Natal, Ano Novo, Carnaval, praias e aglomerações urbanas.

Por maior que seja, e é, a tragédia econômica, "a economia não será salva com a contratação de containers para as prefeituras armazenarem corpos", como conclui ontem o artigo O pior dia de nossas vidas: nunca se morreu tanto em Gravataí; ’Pelo amor de Deus, não temos mais como atender às pessoas infectadas’, apela prefeito.

Não se fazia festa ou compras em Hiroshima, 1945. Nem em Chernobyl.

Ainda em janeiro o cientista Miguel Nicolelis alertava para a necessidade de um lockdown nacional. Ontem, deu entrevista ao El País: “Brasil pode cruzar a marca de 3.000 óbitos diários por covid-19 nas próximas semanas”. Para o especialista, só o lockdown nacional evita o colapso sanitário.

– Vamos entrar numa situação de guerra explícita. Podemos ter a maior catástrofe humanitária do século XXI em nossas mãos – projetou.

O mundo também já se distancia de nós.

– Brasil precisa levar isso muito a sério – advertiu nesta sexta o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, citando estatísticas que mostraram que o volume de óbitos por semana subiu de pouco mais de 2 mil em novembro para cerca de 8 mil agora.

– No início do ano, enquanto vários países registravam arrefecimento da epidemia, a maior economia latino-americana ia na direção contrária – lembrou.

A ‘ideologia dos números’ local antecipei mês passado em Contágio e mortes explodem em Gravataí; E o ’Carnaval da COVID’, dois dias antes da região entrar em bandeira preta.

Na mesma linha, o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, ressaltou que este não é o momento ideal para relaxar as políticas de redução da mobilidade.

– Não há dúvidas de que uma parte desses novos casos ocorre por reinfecção, dada a incidência de cepas mais transmissíveis.

Aqueles que erradamente chamavam ‘vírus chinês’, porque nunca provada a origem do SARS-CoV-2, agora podem sem erro chamar de “variante brasileira” o que torna o Brasil uma ilha no mundo. Uma ilha da morte. Um criatório de vírus.

Parte do povo à mercê da desinformação, ou da influência de informados do mal, até entendo a incompreensão com as regras da bandeira preta. Mas os senhores Luiz Carlos Bohn (Fecomércio), Anderson Cardoso (Federasul), Gilberto Porcello Petry (Fiergs), José Rosa (Sindilojas) e a senhora Ana Cristina Pastro Pereira (Acigra), não.

Até Paulo Guedes disse ontem que a saúde e a vacina são as prioridades!

Inexiste, além da vacina, atrasada por um governo federal doente, medida possível além da diminuição da circulação de pessoas em um momento de colapso.

Não adianta assegurar o cumprimento das regras sanitárias pelos empreendedores do comércio, serviços e indústria. A lógica do colapso é que as pessoas não saiam as ruas desnecessariamente.

Neste momento os hospitais privados do RS estão com 130% de ocupação; os públicos com 92%, sendo que na Grande Porto Alegre a superlotação chega a 110%.

Gravataí triplicou os leitos em 15 dias, mas os 99 estão ocupados e, conforme dados divulgados pela Prefeitura nesta manhã, já há 25 pacientes na fila, em cadeiras, alguns inclusive recebendo oxigênio.

Antes de concluir, repito o desabafo do prefeito, em mais um dos piores dias de nossas vidas:

 

“…

Não temos mais estrutura hospitalar.

A situação é de desespero.

Há poucos dias lamentávamos dois mortos por dia. Hoje estão morrendo 10 por dia e pode aumentar.

OS NÚMEROS PASSARAM A TER NOMES PRA CADA UM DE NÓS.

E ESTES NOMES, CONHECEMOS.

…”

 

Ao fim, se para o deprimente da república isso é ‘mimimi’, associo-me ao ‘mimimi’ de Zaffa.

Que tristeza, que tristeza…

 

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