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Marco Alba dá inflação ao funcionalismo; o que isso significa

Prefeito convidou vereadores da base para surpreendente anúncio | Foto PAULO OLIVEIRA

Prefeito surpreende e anuncia reposição de ano de inflação para o funcionalismo. Siga as informações e a opinião e, nos links relacionados, entenda mais sobre o Ipag, a 'pauta-bomba' de Gravataí

 

Marco Alba (MDB) anunciou reposição de 1,69% para o funcionalismo municipal, relativo à inflação acumulada no período 1º de maio de 2017 a 30 de abril de 2018 conforme o INPC-IBGE.

Surpreendeu inclusive vereadores da base do governo convidados para o anúncio, agora há pouco, no gabinete do prefeito, já que o Orçamento Municipal para 2019 foi aprovado pela Câmara sem prever reajustes.

O salários do prefeito e do vice Áureo Tedesco (MDB) não serão reajustados.

– Desde 2012 peço para o salário do prefeito não ser incluído nos reajustes e o Áureo concordou – explicou Marco.

Secretários municipais e servidores da Câmara, como confirmou ao Seguinte: o presidente Clebes Mendes (MDB), receberão a mesma reposição.

Vamos às informações e depois comento.

O percentual representa um impacto em torno de R$ 4 milhões sobre a folha salarial, que é de R$ 323 milhões ao ano, com uma média de R$ 25 milhões mensais. A reposição será feita em uma única parcela, a partir do primeiro dia do mês seguinte ao de sua aprovação. Com pedido de urgência, o legislativo vai correr para aprovar até dia 26, para o prefeito sancionar dia 27 e já ocorrer o pagamento em março.

Na justificativa do projeto, o prefeito observa que a reposição “somente está sendo possível devido à gestão fiscal e financeira imposta pela administração municipal nos últimos anos, que priorizou a segurança legal, o adimplemento de suas obrigações, a regularidade cadastral, a sustentabilidade das finanças e o pagamento em dia dos salários dos servidores, o que vem ocorrendo desde o início desta gestão”.

O reajuste aplica-se igualmente aos proventos de aposentadoria e das pensões custeadas pela municipalidade e pelo Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores Municipais de Gravataí (Ipag).

O texto do projeto alerta para o fato da Prefeitura “vir suportando um incremento radical de suas obrigações junto ao Ipag, de maneira a combater o déficit previdenciário que atinge a mais de R$ 1 bilhão, considerando que, até 2013, os governos municipais jamais pagaram quaisquer valores a título de alíquota suplementar destinada a cobrir o déficit atuarial, tendo inclusive negligenciado parcelas patronais e até valores relativos a contribuições dos próprios servidores”.  
No ano passado, o governo destinou mensalmente R$ 2,2 milhões em recursos próprios, correspondentes à alíquota suplementar de 18% sobre a folha salarial do funcionalismo para cobrir o rombo nas contas do instituto. O município ainda repassa outro R$ 1.884 milhão equivalente à alíquota patronal de 15,7%, totalizando R$ 3.564 milhões. A parte dos funcionários é de 14%, ou seja, R$ 1.680 milhão.

Para exemplificar o crescente tamanho do Ipag diante dos cofres municipais, em 2013, a Prefeitura repassou R$ 32 milhões ao instituto, e em 2018 foram R$ 63,5 milhões de reais. Nesses valores são incluídas verbas patronais para a previdência e para assistência à saúde, além da parcela destinada a cobrir o déficit. Estima-se que, em 2019, esse valor será de R$ 70 milhões e, em 2020, com alíquota suplementar na casa de 22% da folha, chegará a patamares superiores a R$ 80 milhões – valor superior ao investido em obras com recursos próprios ao longo dos últimos dez anos.

Segundo a justificativa do projeto de lei, no período de 2017/2018 a folha teve crescimento vegetativo de 1,5%, além dos 4% dedicados ao déficit previdenciário municipal, fenômeno que se repetirá em percentuais ainda maiores no intervalo entre 2018 e 2019. A folha salarial foi reajustada em 4%, e outros 4% entre 2018/2019, destinados a cobrir o déficit previdenciário.

– São valores superiores inclusive às variações inflacionárias, o que poderia significar ganho real nos proventos do funcionalismo municipal, não fosse o rombo da previdência municipal, o qual o governo enfrenta e, especialmente, paga – compara o prefeito, lembrando que, ao contrário de estados e prefeituras, desde o primeiro mês de governo os salários são pagos em dia.

Comento.

Começando pela surpresa. Os vereadores não sabiam qual seria o anúncio. Como sempre, Marco convidou todos os parlamentares governistas para a cerimônia. Só faltaram Alan Vieira (MDB) e Mário Peres (PSDB). De 2013 para cá, foram raros os anúncios positivos do prefeito e sua base para o funcionalismo, que reclama do ‘reajuste zero’ desde 2015, que somaria perdas de mais de 16%, o que o governo contrapõe, com os números citados acima, calculando que, se não tivesse que tapar o rombo da previdência, os servidores teriam um ganho real nos últimos cinco anos.

Isso é uma verdade.

O sindicato dos professores sabe.

De quem é a culpa? Jamais dos professores e demais funcionários, mas de governo anteriores sim – e, em menor parcela, do próprio sindicato, que não pode fugir da responsabilidade, porque sua cúpula milita há mais de 20 anos na relação categoria-governos.

 

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Explico.

Os governos de Daniel Bordignon e Sérgio Stasinski financiaram-se não pagando sua parte para a previdência do funcionalismo, o Ipag. Certo ou errado são fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos. Ah, mas o Bordignon asfaltou de Gravataí até a Lua e o Stasinski abriu o Pronto Atendimento 24 Horas e deu o maior reajuste de todos os tempos para os servidores! Um dia o SPC bate à porta. E caiu no colo de Rita Sanco e Marco Alba. A prefeita vítima do golpeachment pagou religiosamente e o atual prefeito, desde o primeiro mandato, também banca a conta – precisou dobrar o dinheiro investido no Ipag Previdência e Saúde de R$ 30 milhões em 2013 para 63,5 milhões em 2018!

Só para se ter uma idéia, em 2019, que apresenta-se como o melhor ano do governo Marco, serão investidos pelo menos R$ 40 milhões em obras e serviços novos. Com o Ipag Previdência e Saúde serão gastos R$ 70 milhões.  

– O que foi destinado nos últimos cinco anos supera os recursos para investimentos – comparou o prefeito, que em sua teoria ‘300 mil por 5 mil’ (300 mil habitantes pagam por 5 mil funcionários) considera injusto que o aplicado na folha de pagamento e no custeio da máquina pública represente 95% do orçamento, enquanto apenas 5% retornam para a população, “que é quem paga a conta”.

 

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O sindicato sabia de tudo, reclamou, registre-se, mas de forma tímida. Não recordo de uma ação na justiça cobrando o depósito da parte patronal, por exemplo. É coisa que hoje passa dos R$ 100 milhões. E, principalmente, aceitou sem contestação, para não dizer de forma condescendente, um cálculo atuarial que apontava um déficit de R$ 300 milhões no Ipag que, recalculado em 2016, bateu no bilhão. Que diferença, hein? Se a CPI do Ipag criada na Câmara não tivesse passado de uma investigação chapa branca, muitos políticos e não políticos poderiam estar respondendo por isso.

 

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–De 2018 para 2019 precisamos negociar com sinceridade, fraternidade e responsabilidade – apelou o prefeito, no anúncio desta segunda, admitindo que a reposição da inflação é, sim, um gesto político e de abertura ao diálogo com o funcionalismo, que tem o próximo dissídio a partir de 1º de março e dia 26 programa reunião para planejar o ano, já com indicativo de greve aprovado em mais de 20 plenárias regionais.

Marco Alba não poderia deixar de dizer, mesmo que parte de sua base – e, convenhamos, também da oposição – nem saiba do que ele está falando, que precisam estar na mesa os números do Ipag Previdência e do Ipag Saúde, este o plano de saúde dos servidores salvo por R$ 6 milhões destinados pela Prefeitura nos últimos dois anos e que, nos últimos meses, não tem sido suficientes para manter os serviços médicos, odontológicos e cirúrgicos de quase 10 mil pessoas, entre funcionários e dependentes.

– Precisamos tratar do Ipag e também de alterações no plano de carreira e no regime jurídico único – antecipou o prefeito, sem dar detalhes sobre o que proporá de mudanças na legislação que garante, por exemplo, gatilhos de aumento aos servidores independentemente da inflação ou da realidade financeira de momento da Prefeitura.

 

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Alerto há mais de um ano que, se não houver acordo entre o governo e os sindicatos, que alterem a forma de contribuição por titulares e dependentes, e o volume de serviços oferecidos pelo plano que é da categoria de uma Unimed, o Ipag Saúde será extinto. O secretário da Fazenda Davi Servergnini sugere isso desde 2017, quando a Prefeitura teve que aportar R$ 2 milhões para fechar as contas. Em 2018, foram R$ 4 milhões. Quem segura o plano vivo é o ‘vilão’ de muitos sindicalistas, Marco Alba, sabedor do impacto social que terá acabar com o atendimento de 10 mil famílias que – muitas delas, ao lado dos 2 milhões de brasileiros os quais, por não poder mais pagar planos de saúde, restou o SUS – migrarão para as filas dos postos de saúde e do hospital.

 

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Acredito também que, concedendo o reajuste de, pelo menos, entre 2017 e 2018, o governo elimina a possibilidade de perder na justiça ação movida pelo sindicato dos professores, que sem pedido de liminar espera sentença desde novembro, e cobra 16,6% de reposição desde 2015. Hoje a folha compromete 44,65% conforme a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e 40,63% conforme o Tribunal de Contas do Estado (TCE). Somando os gastos suplementares com o Ipag, bate nos 54% – limite da Lei de Responsabilidade Fiscal.

 

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 Vai ser difícil encontrar algum servidor que se contente com 1,69%. Mas o rombo previdenciário em Gravataí exige que se calcule além dos percentuais de reposição que são enviados pelo governo para aprovação dos vereadores. É muito dinheiro que a Prefeitura precisa obrigatoriamente destinar para garantir a aposentadoria dos funcionários pelos próximos 35 anos. Não é um dinheiro que entra na conta amanhã, mas é como uma poupança. Bom seria todos os professores e servidores poderem ganhar mais e ter seu plano de saúde semelhante aos melhores do mercado. Mas, se vamos todos esquecer, ou avalizar os porquês de chegarmos a esse ponto, que pelo menos nos questionemos “Quanto Gravataí pode pagar hoje?”.

Concluo com um elogio ao prefeito e ao vice que mantém seus salários congelados em R$ 12 mil desde 2012. Não representa o quarto zero depois da vírgula no orçamento quase bilionário de Gravataí, mas é um símbolo importante para um professor de nível 1 que tem salário de R$ 1.200.

 

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Ao fim, há momentos em que não resta nada além da obrigatória ‘ideologia dos números’.

Sigo aberto para provas em contrário.

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