RAFAEL MARTINELLI

MP aponta “fortes indicativos da apropriação indevida” de doações a ONG ligada a vereador de Cachoeirinha. Família Mello nega uso político

Operação do MP aconteceu na noite do domingo passado, dia 19

A investigação do Ministério Público Estadual sobre o recebimento de doações para atingidos pelas inundações pela ONG Vida Viva, ligada à família do vereador de Cachoeirinha Deoclécio Mello (PSDB), aponta “fortes indicativos da apropriação indevida pelos suspeitos, que têm envolvimento com a política no município”.

Reportei a operação domingo passado em MP fiscaliza doações a ONG ligada a vereador de Cachoeirinha que abriga atingidos pela inundação. Família Mello nega irregularidades; Assista. Naquela noite, o MP apenas confirmou ao Seguinte: que havia uma investigação em curso. Já a família do parlamentar disse que não houve irregularidade e alegou perseguição política pela operação ter origem em uma denúncia anônima.  

Hoje, 7 dias depois, o MP publicou nota em seu site apontando indícios de crime, mas sem citar nome. Reproduzo na íntegra a publicação “APÓS REALIZAR OPERAÇÃO, GAECO/MPRS INVESTIGA DESVIO DE DOAÇÕES EM ONG DE CACHOEIRINHA PARA FINS POLÍTICOS” e, abaixo, sigo.

(…) O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio Grande do Sul (GAECO/MPRS) investiga desvio de doações em uma ONG do município de Cachoeirinha. A medida ocorre depois que a instituição realizou, no domingo passado, dia 19, uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão em um depósito na cidade.

No momento, documentos, celulares e mídias estão sendo analisados, além de outros procedimentos adotados contra a ação criminosa motivada para fins políticos. Três suspeitos são alvo do MPRS e a apuração é realizada depois que o GAECO recebeu uma denúncia sobre a irregularidade: dois dias antes da ação, uma carreta transportando donativos de outro estado foi descarregada em um depósito que não é um ponto de coleta oficial.

Após uma apuração inicial do Núcleo de Inteligência do MPRS (NIMP), foi obtida autorização judicial e montada a operação. Foram detectados fortes indicativos da apropriação indevida pelos suspeitos, que têm envolvimento com a política no município. O trabalho é coordenado pelos promotores de Justiça do GAECO André Dal Molin, coordenador do grupo, e Maristela Schneider, responsável pelo Núcleo Regional – Metropolitana (…)

Sigo eu.

A presidente da ONG, Aline Mello, advogada, filha do vereador e presidente do PSDB municipal, reafirmou hoje ao Seguinte: o que tinha relatado no domingo passado, minutos após a operação na sede da entidade, na Av. Brambila, e em um depósito onde estavam armazenados donativos, na Av. Marechal Rondon.

– A operação partiu de uma denúncia. Ao chegarem ao local, foram avisados por nós que as doações eram para a ONG e não para pessoa física. Foi ali que ficaram sabendo da existência da ONG. Quanto ao local não oficial que mencionam, mostramos o documento de cedência, fato este que fez, inclusive, com que deixassem as doações no depósito – disse, nesta tarde, reafirmando também que não houve apreensão de celulares.

– Apresentamos todas as documentações que comprovam que não houve irregularidade. Entendemos que o MP cumpre seu papel de investigar. A ONG existe há mais de 20 anos e sempre houve a separação entre a política e a entidade. Todas as doações estão sendo distribuídas para quem precisa – garantiu, reafirmando que a ONG é cadastrada na Prefeitura e atende cerca de 100 flagelados que estão em casas de familiares ou em abrigo da entidade, em três apartamentos, para as famílias e pets, como mostra vídeo que você assiste clicando aqui.

– Sinto muito por essa situação, pois entendo que só quem perde é a população. Hoje essa rede de ajuda é para ajudar a suprir a demanda do poder público, que sabemos não está dando conta – conclui.

No domingo passado, Aline Mello alegou ao Seguinte: que a denúncia anônima que motivou a operação representaria “perseguição política” devido ao ano eleitoral.

É que Deoclécio integra a frente ampla de oposição que tem como candidato a prefeito David Almansa (PT) e vai enfrentar nas urnas o prefeito Cristian Wasem (MDB). E Dr. Rubinho, do PSDB, é cotado para ser o vice.

– Mal chegaram e já tinha apoiadores do governo passando de carro para filmar – contou a advogada, naquela noite.

Como lembrei no artigo do domingo, algo semelhante do que aconteceu quando operação da Polícia Federal bateu às portas da Prefeitura e da casa do prefeito em março deste ano, quando vídeos também viralizaram; leia em Policiais federais vão até casa do prefeito Cristian em Cachoeirinha; Veja vídeo.

Assista na SEGUINTE TV trechos de vídeos que viralizaram por whatsapps após a operação de domingo passado e, abaixo, concluo.


Ao fim, reputo a história ainda resta estranha.

Conclui o artigo da semana passada cobrando uma manifestação mais detalhada do Ministério Público. “No Grande Tribunal das Redes Sociais, onde aos políticos poucos resta além da presunção de culpa, a condenação não demora”, escrevi. Sete dias depois, a manifestação do MP apareceu.

Ainda sem detalhes.

O que, convenhamos, mais confunde do que esclarece.

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