Foi com surpresa que o atual dirigente do Cerâmica e responsável pelas escolinhas do clube, Paulo Cézar Magalhães, recebeu a informação de que seu nome estaria envolvido nas investigações do Ministério Público sobre possíveis irregularidades na gestão Vitório Píffero, no Internacional. A revelação foi feita na noite de quarta-feira (9) em reportagem de Fabrício Falkowski, no Correio do Povo.
Segundo apurou a reportagem, PC, que havia intermediado a negociação do seu sobrinho, de mesmo nome, no final de 2015 com o Inter, logo aopós a assinatura do contrato, teria depositado ao então vice-presidente de futebol colorado, Carlos Pellegrini, R$ 30 mil, em uma espécie de contrapartida que, para o Ministério Público era prática da gestão fraudulenta no Inter. PC nega que tenha feito o depósito no final de dezembro de 2015.
— Eu não recebi nem depositei qualquer valor ao Internacional. Intermediei a negociação do meu sobrinho, o Paulo Cézar, mas sequer recebi o percentual que cabe aos empresários em negociações. Muito menos depositei essa quantia a qualquer dirigente do Inter. Se esse dinheiro existiu, alguém pegou, e não fui eu — garantiu, na manhã desta quinta, ao ser ouvido pelo Seguinte:
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Segundo PC, a sua empresa Magalhães Sports, na época, não era autorizada a fazer negociações de jogadores. Ele teria feito este adendo ao perfil da empresa junto à Receita Federal e, só então, procurou o Internacional em busca dos 20% que caberiam ao empresário na negociação. E não recebeu de Pellegrini.
— Alegaram que já havia passado 90 dias da negociação, e não poderiam mais pagar o percentual — aponta PC Magalhães.
Coincidência ou não, o apontamento do MP demonstrado na reportagem é de que, no dia 28 de dezembro, PC Magalhães teria depositado R$ 30 mil ao dirigente colorado. Cinco dias antes, o clube havia depositado R$ 150 mil de luvas — uma espécie de bonificação que antecede ao pagamento de salários pelo clube — ao seu sobrinho que, na véspera, 22 de dezembro de 2015, havia assinado contrato. O repasse que, segundo PC, jamais existiu, equivaleria a 20% das luvas.
A negociação
Conforme o MP, não apenas o tio, mas também o próprio lateral-direito teria repassado outros valores ao longo da sua permanência no clube de Porto Alegre. Ele tinha contrato até o final de 2016, com salários de R$ 75 mil e outros R$ 41,3 mil em contrato de imagem, mas em setembro daquele ano foi emprestado ao Criciúma.
Na reportagem do Correio do Povo, o repórter informa que a contratação surpreendeu a todos, já que Paulo Cézar estaria apenas treinando em uma praça de Canoas ao ser procurado pelo clube. PC Magalhães garante que esta informação também não é correta.
— Quando iniciamos a negociação, o Paulo Cézar estava em final de contrato com a Universidad do Chile. O Inter demonstrou interesse e eu informei que ele estava quase terminando o contrato, e a negociação poderia ser sem custos ao fim do vínculo dele com a Universidad. Foi o que aconteceu — conta.
O lateral-direito, que nasceu em Canoas, mas ainda pequeno foi morar no Chile, tinha interesse em voltar ao Brasil, pois, segundo PC, a avó estava doente. Quando surgiu a proposta do Internacional, depois do confronto com a Universidad na Libertadores de 2015, a negociação aconteceu.
Depois deste período no Brasil, o lateral voltou ao futebol chileno. Atualmente defende o Iquique.
Organização criminosa
O caso segue sob apuração do Ministério Público. Conforme os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o caso de Paulo Cezar seria um entre muitos dentro do que é caracterizado no relatório da investigação como "organização criminosa" instalada no clube durante a gestão Píffero.
O grupo foi alvo da Operação Rebote, desencadeada em 20 de dezembro do ano passado. Na ocasião, foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão. Píffero, Pellegrini e pelo menos dois empresários — Rogério Braun e Fernando Otto — foram alvos da ação. Os promotores também quebraram o sigilo bancário de Pellegrini. Nesta ação é que teria aparecido o depósito supostamente feito por PC Magalhães a uma conta no Banrisul.