crise do coronavírus

Não seria hora de um lockdown de verdade, de indústria, supers e ônibus em Gravataí e Cachoeirinha?; O exemplo que funcionou

CTI do Clínicas de Porto Alegre, que é hospital de referência para Gravataí, segue lotado, como o Hospital de Campanha e o Dom João Becker | Foto SILVIO ÁVILA | HCPA

Com UTIs superlotadas e março como o mês com mais vidas perdidas em Gravataí e Cachoeirinha em um ano de pandemia, talvez seja hora dos prefeitos Luiz Zaffalon e Miki Breier projetarem um lockdown de verdade, nem que apenas nos finais de semana.

Há um exemplo no Brasil.

A bandeira preta acinzentada gaúcha, que mantém indústrias, supermercados e o transporte coletivo funcionando quase normalmente, estabilizou casos, mas ainda num patamar nas alturas do Morro Itacolomi, como informa o secretário da Saúde de Gravataí, Régis Fonseca

– O que estamos aguardando e contando que ocorra, por conta da diminuição de circulação de pessoas, é que a curva de número de casos comece a descer nos próximos dias. Por enquanto, todas as nossas estruturas estão superlotadas – lamenta.

A ‘ideologia dos números’ é assustadora.

Nesta quinta a Prefeitura divulgou nota onde confirma um cenário de guerra, como abordo em artigos como Os sacos de corpos, 8 mortes/dia e 51 esperando UTI COVID; Como começa pior mês das nossas vidas.

Esta semana, conforme estatísticas do Ministério da Saúde, Gravataí apresenta a média móvel de duas semanas com quatro mortes por COVID-19 ao dia.

Só na quarta foram 12. O recorde foi dia 4, com 15 vidas perdidas, como tratei em O pior dia de nossas vidas: nunca se morreu tanto em Gravataí; ’Pelo amor de Deus, não temos mais como atender às pessoas infectadas’, apela prefeito.

Até janeiro, a média era de uma morte por dia neste mesmo recorte estatístico de duas semanas. A partir de fevereiro, o número aumentou gradativamente e, em março, deu um salto, expondo o drama que a cidade enfrenta.

Às 16h desta sexta, Gravataí contabilizava 397 óbitos – dois voos da 3054 da TAM ou duas boates Kiss – e 14.867 casos confirmados da doença. Cachoeirinha 218 mortes e 8.590 infectados, o que perfaz a mesma média.

Segundo o diretor de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), enfermeiro Leonardo Machado, este é o momento mais crítico pelo qual a cidade está passando.

Há 15 dias que Gravataí não consegue transferir nenhum paciente para leitos hospitalares fora do município pelo Gerint (sistema de gerenciamento de leitos do RS).

– Estamos atendendo todos os que buscam por tratamento na estrutura que montamos dentro do município. Aumentamos em 240% o número de leitos na cidade, saltando de 32 para 114. Tudo o que é possível fazer estamos fazendo, mas a doença tem apresentado um quadro mais grave e, infelizmente, tem levado mais pessoas a óbito – explica.

As estruturas relacionadas ao coronavírus estão superlotadas. Além do Hospital Dom João Becker (HDJB), há pacientes nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e no Pronto Atendimento Municipal (PAM) 24H.

– Podemos afirmar que, neste momento, nos serviços do município de Gravataí, estamos com mais de 160 pacientes covid positivo internados – afirma o diretor de Urgência e Emergência.

Um exemplo de lockdown de verdade é Araraquara. A reportagem "Covid-19: a cidade brasileira que viu casos desabarem após 'lockdown de verdade'", publicada pela BBC News Brasil, dá detalhes.

A cidade a 285 quilômetro da capital foi uma das primeiras cidades paulistas a sofrer um colapso no sistema de saúde em 2021 e fechou todas as atividades por quase uma semana. Só serviços de saúde permaneceram abertos.

Para ter ideia, no final de 2020 e início de 2021, cerca de 25% dos exames para detectar COVID-19 realizados neste município paulista voltavam com resultado positivo. A partir de fevereiro, essa taxa ultrapassou os 50%.

A partir da segunda semana de fevereiro, o número de casos subiu vertiginosamente e as enfermarias e UTIs atingiram lotação máxima. Desde a última sexta-feira, porém, apareceram os primeiros indícios (ainda bem tímidos) de alívio na pandemia por lá.

O número de novos casos de COVID-19 diagnosticados caiu pela metade, apesar de a taxa de internações e mortes ainda estar em alta.

– Fizemos um lockdown de verdade, diferente do que acontece na maioria dos lugares do país – contou à BBC a enfermeira Eliana Mori Honain, secretária municipal de saúde e também professora do curso de medicina da Universidade de Araraquara.

A partir de 20 de fevereiro, todos os serviços que não tinham a ver com a área da saúde foram suspensos, incluindo o transporte público e os supermercados (que só podiam funcionar pelo sistema de delivery).

Na ‘cidade fantasma’, a fiscalização foi rigorosa e as poucas pessoas que estavam na rua sem necessidade eram orientadas e até multadas.

– Sabemos que o lockdown é um remédio amargo, mas na nossa atual conjuntura trata-se da única medida cientificamente comprovada capaz de trazer algum resultado – lamenta a secretária.

O fechamento total de Araraquara durou pouco mais de uma semana. Na sequência, a cidade se encaixou na ‘fase vermelha’, definida pelo Governo do Estado de São Paulo no início de março, e que equivale à bandeira preta no Distanciamento Controlado do RS, inclusive com o ‘toque de recolher’ entre às 20h e às 5h da manhã.

– Mercados, açougues e padarias voltaram a abrir recentemente, mas continuamos a restringir cultos em igrejas e templos e as aulas nas escolas – explicou a secretária.

Como resultado dessa política, Araraquara começa a apresentar uma queda no número de novos casos de covid-19 nos últimos cinco dias.

Até 5 de março, a cidade registrava entre 180 e 200 novos infectados por dia. Agora, essa média baixou para 60 a 85.

Apesar do avanço, as taxas de hospitalização continuam altas e preocupantes: 79% dos leitos de enfermaria e 91% das UTIs estão ocupados no momento.

A secretária acredita que esses números (que já baixaram um pouco desde o nível mais crítico do colapso) vão apresentar uma queda maior a partir das próximas semanas:

– Pela evolução natural da doença, sabemos que os sintomas se agravam e requerem assistência a partir do oitavo ou nono dia de infecção. Portanto, com menos gente com exames positivos agora, observaremos em breve uma baixa nas internações mais para frente.

Mesmo com os avanços recentes, os gestores de saúde de Araraquara observam que o caminho para acabar com a pandemia passa necessariamente pelas campanhas de vacinação contra a COVID-19.

Ao fim, diminuição da circulação de pessoas e a imunização e 70% da população, com a ‘imunidade de rebanho’, são os únicos antídotos à virulência da COVID.

Números apresentados pelo biólogo Átila Iamarino mostram que um lockdown de verdade, fechando supers, indústrias e parando quase totalmente o transporte coletivo, pode reduzir até 50% o Índice R. Hoje é de 1.3 em Gravataí e Cachoeirinha, o que significa que cada 10 casos geram 12 na semana seguinte. Para evitar a superlotação de UTIs seria preciso reduzir o contágio pela metade.

– É melhor fechar as atividades a abrir novas covas – disse à BBC a gestora de saúde de Araraquara, que por 7 dias se transformou em uma cidade fantasma.

Fato é que, com um auxílio emergencial de R$ 250, medidas drásticas como essa significam um lockdown também na popularidade dos prefeitos.

E logo alguém grita “Arbeit macht frei” na frente da Prefeitura.

 

Assista a live de Iamarino

 

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