3º NEURÔNIO

Natal: Netanyhau (Herodes) e a matança de inocentes em Gaza

“Por mais perverso que sejam os Herodes, eles não podem impedir que o sol nasça cada manhã”. Recomendamos o artigo do teólogo e frei Leonardo Boff, publicado pelo ICL Notícias


Nos dias atuais estamos assistindo a atualização do relato bíblico:um feroz rei, cioso de seu poder, manda matar todas as crianças abaixo de um ano. O Herodes de hoje tem um nome: Benjamin Netanyhau. Em seu furor vingativo, sua força militar, aérea, marítima e terrestre assassinou milhares de crianças, sendo que muitas delas jazem sob os escombros, além de outros milhares de civis que sequer pertencen ao grupo  Hamas. Não podemos deixar que esta tragédia obscureça a festa radiosa do Natal. Ela é demais preciosa para não ser recordada  e celebrada.

Voltemos ao relato que nos enche de encanto. José e Maria, sua esposa, grávida de nove meses, estão a caminho vindo de Nazaré, do norte da Palestina para o sul, em Belém. São pobres como a maioria dos artesãos e camponeses mediterrâneos. Às portas de Belém, nos dias de hoje arrasada pelas tropas de Netanyahau, Maria entra em trabalho de parto:  segura a barriga, pois a longa caminhada acelerou o processo de gestação. Batem à porta de uma hospedaria. Ouvem o que os pobres na história sempre ouvem:”não tem lugar para vocês na hospedaria”(Lc 2,7).

Abaixam a cabeça e se afastam preocupados. Como ela vai dar à luz? Sobrou-lhes, na vizinhança, uma estrebaria  de animais. Ai há uma manjedoura com palhas,  um boi e um jumento que, estranhamente, permanecem quietos, observando. Ela dá a luz a um menino entre os animais. Faz frio. Ela o envolve com panos e ajeita-o nas palhinhas. Choraminga alto como todos os recém nascidos.

Há pastores que velam à noite, vigiando o rebanho. Segundo os critérios de pureza legal da época, os pastores, são considerados impuros e por isso desprezados, por estarem sempre às voltas com os animais, seu sangue e seus excrementos.Diferente era a visão idílica dos gregos e dos romanos que idealizam a figura dos pastores. Mas são estes pobres e impuros pastores hebreus os primeiros a verem o Puer divinus, a divina criança.

Surpreendentemente, uma luz os envolveu e escutaram do Alto uma voz lhes anunciando:”não temais anuncio-vos uma grande alegria que é para todo o povo; acaba de nascer o  Salvador; este é o sinal: encontrareis um menino envolto em panos,deitado numa manjedoura”. Ao porem-se, pressurosos, a caminho ouviram um cântico mavioso, de muitas vozes, vindo do Alto:”Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens  por Deus amados”(Lc 2,8-18). Chegam e se confirmou tudo o que lhes fora comunicado: aí está um menino, tiritando, enfaixado em panos e deitado na manjedoura,na companhia de animais.

Algum  tempo depois,eis que vêm descendo o caminho três sábios do Oriente. Sabiam interpretar as estrelas. Chegam. Extasiam-se pela misteriosidade da situação. Identificam no menino aquele que iria sanar a existência humana ferida. Inclinam-se, reverentes, e deixam presentes simbólicos: ouro,incenso e mirra. Com o coração leve e maravilhados, tomam o caminho de volta, evitando a cidade de Jerusalém, pois aí reinava um “Netanyhau” terrivelmente belicoso, pronto a mandar  matar quem visitara a criança divina.

Lição: Deus entrou no mundo, na calada da noite,sem que ninguém o soubesse. Não há pompa nem glória, que imaginaríamos adequadas a um menino que é Deus. Mas preferiu chegar fora da cidade, entre animais. Não constou na crônica da época, nem em Belém, nem  em Jerusalém, muito menos em Roma. No entanto, aí está Aquele que o universo estava gestando dentro de si há bilhões de anos, aquela “luz verdadeira que ilumina cada pessoa que vem a este mundo”(Jo 1,10). Deus não veio para divinizar o ser humano, Ele veio para se humanizar junto conosco.

Devemos respeitar e amar a forma como Deus quis entrar neste mundo: anônimo, como anônimas são as grandes maiorias pobres e menosprezadas da humanidade.Quis começar lá em baixo para não deixar ninguém de fora. A situação humilhada e ofendida deles foi aquela que o próprio Deus  quis fazer sua.

Mas há também sábios e homens estudiosos das estrelas do universo, os cosmólogos e que captam atrás das aparências o mistério de todas as coisas. Entreveem neste menino de corpinho tiritante, que molha os paninhos, choraminga e busca, faminto, o seio da mãe, o Sentido Supremo de nossa caminhada e do próprio universo. Para eles, é também Natal.

É verdade o que se diz  por aí: “Todo menino quer ser homem. Todo homem quer ser rei. Todo rei quer ser Deus. Só Deus quis ser menino”.

Esse é um lado, alvissareiro: um raio de luz no meio da noite escura. Um pouco de luz tem mais direito que todas as trevas.

Mas há o outro lado, sombrio e também trágico, referido anteriormente. Há um “Netanyhau” que não teme assassinar inocentes. José, atento, logo se dá conta: ele quer mandar matar o menino recém-nascido.. Foge para o Egito com Maria e o menino ao colo, que dorme, busca o seio e volta a dormir.

Milhares de crianças foram assassinadas em terras da Faixa de Gaza. Então, se ouviu um dos lamentos mais comoventes de todas as Escrituras:”Em Ramá se ouviu uma voz, muito choro e gemido: é Raquel que chora os filhos assassinados e não quer ser consolada porque os perdeu para sempre”(Mt 2,18).

Os Herodes se perpetuam na história, também durante quatro anos no Brasil, sob o Inelegível, e atualmente na Palestina. Não obstante, haverá sempre uma estrela,como a de Belém, a iluminar nossos caminhos.Por mais perverso que sejam os Herodes,eles  não podem impedir que o sol nasça cada manhã, nos trazendo esperança,especialmente aquele que foi chamado “O Sol da Esperança”.

Essa alegria é inaudita: a nossa humanidade,fraca e mortal, a partir do Natal começou a pertencer ao próprio Deus.Por isso algo nosso já foi eternizado pelo Puer aeternus que nos garante que os Herodes da morte jamais triunfarão.

Feliz Natal a todos com muita compaixão por tantas vítimas em Gaza, com  luz e discreta alegria.

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Uma resposta

  1. O que vocês acham que aconteceria com as crianças, mulheres e idosos de Israel se aquele grupo terrorista raivoso tivessem êxito na sua empreitada, o mundo inteiro viu uma amostra naquele fatídico 8 de outubro, as barbáries cometidas e não é fake, os próprios terroristas fizeram questão de mostrar o seu feito para o mundo e agora estão se escondendo atrás de mulheres e crianças para não serem exterminados e entregando o próprio povo para ser exterminado, eles sabiam que o povo judeu usa a lógica antiga do “OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE” e mesmo assim eles provocaram a fera do pior modo possível. Israel deveria parar os ataques e esperar de prontidão e caso o hamas não atacassem mais, Israel pararia também, mas se o hamas mesmo assim voltasse a atacar, então que alá tenha piedade do povo palestino e restará ao mundo chorar o fim de um povo

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