entrevista

O BOM de Cachoeirinha; quem está contra Miki

Presença da vereadora Jack Ritter foi a surpresa na reunião do bloco de oposição

A oposição ressuscitou em Cachoeirinha nesta Semana Santa. Criou-se o BOM, Bloco de Oposição Municipal. É assim que políticos e simpatizantes do centro à esquerda estão chamando uma frente de oposição ao governo Miki Breier (PSB), em Cachoeirinha.

O Seguinte: ouviu David Almansa, presidente do PT, que fez a divulgação nas redes sociais do encontro que também reuniu nomes conhecidos como Antônio Teixeira, da Rede; Ana Fogaça, da Refundação Comunista; Serafim Sanches, do PCdoB; Adriano Luz e Renato Moreira e uma surpresa: Jacqueline Ritter, vereadora eleita para o segundo mandato pelo partido do prefeito.

Siga trechos da conversa, como ela fluiu.

 

Seguinte: O que é o BOM?

Almansa – Estamos construindo um bloco de oposição sem imposição de nomes, o que muitos não acreditavam, talvez pelo histórico do PT de nunca abrir mão de candidaturas. Estamos fazendo nossa parte para mudar essa cultura. Não quer dizer que os partidos não tenham nomes, mas num primeiro momento estamos reunindo pessoas críticas a um governo que está no poder por quase 20 anos e não apresenta nada inovador. Iniciamos um processo longo para apresentar um programa que não vislumbre apenas a próxima eleição, mas pense a cidade por pelo menos uma, duas décadas.

 

Seguinte: – O PSol de Pedro Ruas e Ester Ramos não está na foto.

Almansa – Os companheiros do PSol estão no BOM. Só não participaram deste encontro por questões de agenda. Dia 2 de maio, 19h, no plenarinho da Câmara, estaremos todos juntos em plenária organizada pelo bloco e movimentos sociais para debater a reforma da previdência. Não começamos a conversar ontem: aos 100 dias do governo Miki nós apresentamos um documento em conjunto com críticas e propostas.

 

Seguinte: – A adesão de Jack Ritter, uma das estrelas do PSB, é o grande símbolo do BOM.

Almansa – Há identidade política com a vereadora. Basta acompanhar seus posicionamentos e os da oposição. A Jack tem lado: a defesa dos direitos dos trabalhadores.

 

Seguinte: – Quais as principais críticas ao governo Miki?

Almansa – O governo representa uma classe política que envelheceu as idéias, um grupo que se acomodou no poder e não é mais provocado a inovar, a ouvir a população. Que acha da forma pouco dialogada com que fecharam o 24 Horas? É o governo do atraso nas obras e que, quando entrega, como aconteceu com a UPA alagada, precisa correr para resolver problemas no projeto. Os problemas na mobilidade nunca se resolvem, trocaram a empresa de ônibus, mas os serviços só pioram e a passagem sobe. E há uma prática que vai impactar forte nas futuras gerações: o governo tem autorizado grandes empreiteiras a construir bairros sem nenhum planejamento, como a Chácara das Rosas e a Morada do Bosque. O que hoje é paralelepípedo, amanhã se transformará em demanda de asfaltamento à Prefeitura. E onde estão os espaços para serviços públicos? Aumenta a população, mas sem posto de saúde, sem escola. Esse grupo parece cansado no poder.

 

Seguinte: – Como apresentar uma frente de esquerda para um eleitorado como o de Cachoeirinha, onde sete a cada dez votos foram para Jair Bolsonaro? Como escapar da armadilha da ‘mamadeira de piroca’, como bater em uma porta, ou fazer um post e não ser chamado de ‘petralha’ ou ‘comunista’?

Almansa – Não é uma frente de esquerda. É uma frente ampla, de centro-esquerda. Posso defender idéias mais revolucionárias, mas estamos trabalhando um programa em comum para a cidade. Acredito que não é o Bolsonaro, mas o bolso das pessoas que vai pesar mais na próxima eleição, porque já percebemos arrependimento e frustração de uma população cada vez mais empobrecida e cujas relações de trabalho – isso para quem consegue trabalho – foram precarizadas. Nosso primeiro grande movimento é contra essa reforma da previdência, onde os mais pobres e a classe média pagam a conta, tendo sido eleitores do bolsonarismo ou não. Queremos mostrar que nossa frente é contra esses ataques aos trabalhadores e a quem produz.

 

Seguinte: – O ‘s’ do PSB é de ‘socialista’, e o prefeito também sofre críticas quando abre as fronteiras para venezuelanos e apoia a 'parada gay'. Nem com uma ameaça de candidatura da extema direita há possibilidade de uma aproximação com Miki em 2020?

Almansa – Semana passada conversava com Juliano Paz (secretário de Governança e número 1 do prefeito) sobre emendas que articulo para Cachoeirinha com a bancada do PT e concordávamos com as diferenças do PSB do Nordeste para o do Sul e Sudeste. Um cresceu em parceria com o lulismo, o outro adota agendas da direita. O Juliano me dizia ser um ‘sartorista’ convicto. O governo Miki é como foi o governo Sartori, um governo que aderiu à agenda da direita. E é um governo hegemonizado pelo MDB. Não acredito em uma candidatura bolsonarista que possa mobilizar o eleitorado. Percebo é uma desidratação da extrema direita. Não será o canhão eleitoral que imaginávamos. Se nem o mito do combate à corrupção chegou aos 100 dias, o que dizer da economia que não cresce e do desemprego, que só aumenta?

 

Seguinte: – Apostas então em uma polarização da candidatura do governo com a do bloco de oposição?

Almansa – Muitos políticos tradicionais de Cachoeirinha que queriam embarcar no bolsonarismo e concorrer em 2020 já receberam um ‘não’ do PSL. Eles até podem apresentar uma novidade, ter candidatura à Prefeitura, mas disputarão votos conservadores com Miki, que é o candidato do MDB e do ‘Centrão’.

 

Seguinte: – Acreditas que Miki e José Stédile estarão juntos em 2020?

Almansa – Isso está dado. Miki é o candidato à reeleição.

 

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