entrevista

O ’maior bolsonarista da aldeia’ ainda confia no ’mito’?

Vilmar Matos em manifestação bolsonarista

A avaliação que se faz dos primeiros 100 dias do governo Jair Bolsonaro é a pior de um presidente em primeiro mandato desde a redemocratização.

Conforme o Datafolha perde até para Fernando Collor, que tomou posse no dia 15 de março de 1990 confiscou a poupança dos brasileiros no dia seguinte e, mesmo assim, tinha índice de 19% ruim ou péssimo, contra 30% do atual presidente. Collor tinha 36% de ótimo ou bom, contra 32% de Bolsonaro.

Lula, nos primeiros três meses, tinha 45% de ótimo/bom e só 10% de ruim/péssimo. Deixou o segundo mandato consagrado, como presidente mais bem avaliado da história. Dilma, ‘o poste do Lula’, restava ainda melhor: 47% de ótimo/bom e só 7% de ruim/péssimo. Caiu no segundo ano do segundo mandato.

Fomos testar a popularidade do presidente com Vilmar Matos, dono da Vip Veículos, que, mesmo sem filiação partidária, durante a campanha fez camisetas, montou palanque no Parcão e puxou carreata para o ‘mito’, que fez sete em cada dez votos em Gravataí.

Em 22 de setembro do ano passado, na entrevista Ajudar Bolsonaro é um chamado de Deus, diz líder de atos em Gravataí, publicada pelo Seguinte:, o filho de empregada doméstica e servente de pedreiro, ex-aluno da Santa Rita e office boy da Digicon que conseguiu comprar a própria empresa onde há 27 anos começou a fazer negócios com um único carrinho usado na avenida, fazia dedinho de arminha na foto ao lado da esposa Claudia e das filhas Luizi, 20, Valentina, 7 e Martina, 5, e defendia Bolsonaro com toda empolgação.

Mas, e agora, ‘o maior bolsonarista da aldeia’, ainda confia no seu presidente?

Siga a conversa, assim como fluiu, agora há pouco.

 

Seguinte: – Nos primeiros 100 dias o governo Bolsonaro só faz perder popularidade. Em dezembro, 65% achavam que economia iria melhorar; agora, só 50%. Os que avaliam que vai piorar saltaram de 9% para 18%. Antes, 67% diziam que sua própria vida iria melhorar; caiu para 59%. E cresceu de 6% para 11% os que veem uma piora. Quase metade (47%) dos brasileiros acredita que o desemprego vai aumentar, enquanto 29% tinham essa opinião antes da posse. Entre os que creem em melhora, o movimento foi inverso: de 47% para 29%. Enquanto em dezembro a confiança em uma queda da inflação havia triplicado, para 35% das pessoas, agora ela recuou para 22%. Já os que esperam alta na inflação passaram de 27% para 45%. As expectativas em relação ao poder de compra têm empate técnico: 34% acham que ele vai aumentar (contra 43% em dezembro), 33% acreditam em piora (contra 18% em dezembro) e 30% esperam estabilidade (eram 36% em dezembro). O Vilmar, que foi um símbolo do bolsonarismo em Gravataí durante a campanha presidencial, experimenta decepção ou esperança?

Vilmar – Procuro manter a mente aberta aos fatos, mas sou crítico da campanha que a Globo faz contra Bolsonaro. A grande mídia age pelo interesse próprio, defendendo criminosos do colarinho branco porque, com seus esquemas, sempre prestaram favores. Essas pesquisas Datafolha e Ibope são comprometidas. É parte da chantagem que a velha mídia e a velha política fazem com o governo. Claro que há problemas. O Congresso teve renovação, mas não se extirpou todo mal que tinha, nem se renovou só com gente boa. Infelizmente os bons, aqueles sem rabo preso, ainda estão longe da política. Mas, mesmo com aliados fracos, o governo não arrega. Estou satisfeito, vou às ruas e sigo cobrando, porém também fazendo minha parte para que o governo dê certo.

 

Seguinte: – Não é muita confusão para apenas 100 dias? O governo se mostra tão dividido que nem parece precisar de oposição…

Vilmar – Como me expus bastante na campanha, muita gente me pergunta “e agora?”, “como vai ser?”, e fico feliz com isso, porque sempre vou agir com bom senso e pelo bem comum. Cobro o que está errado, não são leviano ou burro como alguns da esquerda. O governo bate cabeça, mas não por maldade ou incompetência. O presidente, os ministros da justiça (Sérgio Moro) e da Economia (Paulo Guedes), já apresentaram propostas, mas é um período de formação de equipe, de testes, onde quando há erro, que se proceda a troca. Na minha humilde empresa só hoje, depois de 10 anos, posso dizer que o quadro funcional tem a minha cara em todos os setores. Imagina, em 100 dias, formar uma equipe em um país continental como o Brasil? Bolsonaro não está fazendo nomeações políticas só pela troca de apoio por cargos, o que já é uma grande mudança.

 

Seguinte: – Essa Guerra Ideológica Nacional diária não atrapalha o governo, a economia, a boa convivência entre os brasileiros?

Vilmar – A ideologia nunca vai acabar, nem a luta do bem contra o mal. Como diz a Bíblia “guardai e vigiai”. Mas sinto que o presidente tenta distencionar, mas os meios de comunicação seguem morrendo à velha maneira, fazendo sensacionalismo, superdimensionando questões identitárias, históricas. É a grande mídia, é a Globo quem quer separar para dominar.

 

Seguinte: – Quando Lula e Dilma estavam no governo, a Globo também era alvo de petistas…

Vilmar – Já votei em Lula, já fui dito petista, esquerdista, mas o que buscava era o bem. Deus queira que não, mas pode ser que daqui a alguns anos critique Bolsonaro. Basta ele errar e trair a confiança do povo brasileiro. Hoje torço pelo país, como acredito que também o faz a esquerda consciente. Procuro não me cegar pela ideologia e por essa briga que é alimentada pelos meios de comunicação, principalmente as TVs. O presidente tenta parar de falar, mas a mídia força a barra.

 

Seguinte: – Não é Twitter demais e governo de menos?

Vilmar – Não concordo, o presidente está claramente tentando acertar, tanto no governo quanto na comunicação. Mas é um político que por anos esteve no legislativo, e agora se adapta ao executivo, já como presidente.

 

Seguinte: – Olavo de Carvalho parece um belicoso guru à distância do governo. Não atrapalha mais que ajuda?

Vilmar – Acho que ele faz o que faz para proteger Bolsonaro, que é vítima de muita pressão. E lá vai a mídia e exagera, polemiza questões que não são importantes. Como quando Bolsonaro diz que não nasceu para ser presidente. Você nasceu? Eu não, nem para subir num carro de som e gritar contra a corrupção. Mas fui movido a isso. Deus me deu a palavra e esse filho de pobre tem orgulho de usá-la para buscar a justiça do bem, para não ser ladrão igual a tantos políticos. Sobre Olavo, em resumo, ele bate porque também apanha. E sempre tem alguém para repercutir. Enfim, isso não vai acabar nunca, porque os dois lados não querem.

 

Seguinte: – O vice, general Hamilton Mourão, não parece mais presidente que Bolsonaro?

Vilmar – Intriga. Mourão tem personalidade forte como o presidente, é militar. Te dou um exemplo: tenho sucesso na administração da minha empresa, mas sei que seria odiado se participasse da administração pública, porque vivo de resultados. Quem planta feijão, quer feijão. Mourão é um militar eleito por um povo que quer resultados e não quer ele quieto. Quer sim que ele fale como fala, sempre direto. E o presidente também. Bolsonaro e Mourão estão cumprindo o que prometeram na campanha, não acha?

 

Seguinte: – Na Guerra Ideológica sim, na economia não, já que na campanha pouco se falou em reforma da previdência e muito em mamadeira de piroca, por exemplo…

Vilmar – Não concordo: o Paulo Guedes como o ‘posto ipiranga’ foi o grande sinal dos rumos da economia e das reformas.

 

Seguinte: – Fazer reforma da previdência é impopularidade certa para qualquer governo. Bolsonaro parece não querer esse desgaste, não demonstra esforço para negociar a reforma com o Congresso…

Vilmar – Você já fez algo impopular, mas necessário?

Seguinte: Todo dia, meu jornalismo não é ‘caça-cliques’…

Vilmar – É isso. Há coisas às quais não podemos evitar sob risco de um mal maior. Cristo foi sacrificado. Bolsonaro está tomando atitudes, mas a Globo não quer que o povo veja. Paulo Guedes é milionário, está no governo por ideologia, quer ajudar. O presidente não quer a velha política, quer uma nova política, onde o Congresso faça sua parte. Querem o quê para legislar? Cargos? Dinheiro? O Executivo mandou a reforma. Agora é com o Legislativo. Vejo que Bolsonaro deixa que todos mostrem a cara, inclusive deputados do PSL que foram eleitos na sua cola e, agora, querem o toma-lá-dá-cá ou só defendem interesses de suas corporações. Mas o povo está percebendo, não brinquem com o povo. Uma pena a Globo não mostrar. Pelo contrário, estão só esperando que Bolsonaro negocie cargos para cair em cima dele.

 

Seguinte: – Mas há outra forma de aprovar uma nova previdência sem a negociação de cargos e emendas com os partidos? Isso não está no DNA de nosso presidencialismo de coalizão?

Vilmar – Acontece que, nas últimas eleições, o povo disse nas urnas que não queria mais essa velha política. Bolsonaro é um cara de fibra, confio que vá resistir. Se o Congresso não fizer o que lhe cabe em relação à reforma, que os deputados e senadores respondam por isso, pelas conseqüências ao futuro do país.

 

Seguinte: – Participaste da manifestação deste domingo no Parcão de Porto Alegre onde, apesar das pautas difusas, foi possível identificar Sérgio Moro e a Lava Jato como heróis e o Supremo Tribunal Federal e a Globo como vilões. Atacar o STF e a imprensa não é um risco às instituições, à democracia?

Vilmar – Confiança se perde e se ganha. O STF perdeu a confiança do povo. Querem quebrar a Lava Jato porque não querem ser presos. Considero o ‘Supremo Colarinho Branco’, porque nos canetaços ajudam corruptos. Ou achas que Lula, Temer, FHC, não tem dossiês contra os ministros… Como pode Dias Toffoli estar no Supremo? Era advogado do PT!

 

Seguinte: – Mas os ministros nomeados por Lula e Dilma são os que votam sempre ‘a favor’ da Lava Jato…

Vilmar – Isso é o BBB do Supremo. Fazem uma matemática para enrolar o povo, calculam o 6 a 5, mudam os votos, manipulam. O povo indo às ruas cai o Gilmar Mendes, o Toffoli. Como esperar que um bandido que cometeu um crime se entregue? É como alguém balear teu filho, fugir com o carro e diminuir a velocidade para passar por um pardal: não vai acontecer! Logo os ministros fazem um arranjo para soltar o Lula, para não prender o Temer, porque eles próprios têm medo da cadeia.

 

Seguinte: – A ‘justiça das ruas’, a que agrada o povo, não é um risco? Não há uma Constituição para ser cumprida? Me parece errado a justiça levantar a venda dos olhos para dar uma espiada no que a maioria da vez quer…

Vilmar – E desde quando o STF cumpre a Constituição? Ou é uma novidade ministros legislarem? E mudam de opinião conforme interesses! Gilmar Mendes dizia que a Lava Jato era o máximo enquanto o telhado era o dos outros… Bolsonaro e Moro são jogadores de xadrez de alta qualidade. Mexem a peças certas, não atacam direto o rei, vão aos peões que, deixados para morrer à míngua, estão entregando todo o mecanismo. O Lula era um rei momentâneo dessa quadrilha que saqueia o país desde sempre e, veja que nem vou falar só de esquerda, porque também tem bandidos na direita, no PT, MDB, PSDB e tantos outros. Mas esse mecanismo aos poucos está sofrendo uma lavagem pela boa justiça.

 

Seguinte: – Não temes um impeachment de Bolsonaro? Dilma caiu por uma bobagem, as ‘pedaladas’, após perder as condições políticas. Se existir, esse não poderia moer um presidente isolado da política?

Vilmar – Dilma nunca teve condições políticas. Foi uma marionete do Lula. E acredito que, para botar panos quentes na pressão das ruas e das redes sociais, foi sacrificada por aqueles que queriam manter o mecanismo vivo, cujo chefe da vez poderia ser Temer, ou mesmo o Lula ganhando a eleição. O que não esperavam era pela reação em cadeia, que com apoio popular não para de levar gente para a cadeia depois que o Eduardo Cunha derrubou a presidente. O crime organizado toma conta do congresso, como na Itália, onde conseguiram derrubar a operação Mãos Limpas. Rezo para que aqui isso não aconteça e que nesse xadrez a Lava Jato continue derrubando a peça que vier na frente.

 

Seguinte: – Vilmar Matos, o ‘maior bolsonarista da aldeia’, já aparece em listas como possível candidato a vereador, ou até prefeito. Estás filiado a algum partido? Concorres a algo em 2020?

Vilmar – Na campanha tomei a frente, briguei com muita gente, vi o que é ser político e pegar 300 tipos de nojo. Mas não dei nada para ninguém para além de esperança e amizade. Não estou filiado, digo que meu partido é o Brasil, respeito os políticos honestos, mas hoje me considero mais necessário como um ativista político, sem amarras ideológicas ou regras partidárias. Sou bolsonarista, mas jamais deixo de dialogar com pessoas de direita, centro ou esquerda. Não preciso do dinheiro e da vaidade da política, mas sei que humildemente represento a voz de muitos. Sobre meu futuro é Deus quem sabe. Só acredito que, se entrasse na política, como Bolsonaro correria risco de vida.

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