RAFAEL MARTINELLI

O que Zaffa diz sobre Dila perder cargos; De vereador do prefeito à rebeldia na eleição para Presidência da Câmara de Gravataí

Prefeito Zaffa e vereador Dila

Dilamar Soares (PDT) foi o grande derrotado na eleição para a Presidência da Câmara de Gravataí. Politicamente – e, talvez, a curto prazo. Moralmente, reputo ganhou.

O aparente suicídio político guarda similaridade com a estratégia usada por Marco Alba (MDB) no pleito legislativo.

Inegável é que Dila deixa a condição de ‘vereador mais próximo do prefeito’ Luiz Zaffalon (PSDB) e resta isolado.

Foi – nunca negou e inclusive avisou Zaffa – o principal articulador para tentar evitar a eleição do candidato do governo, Alex Peixe (PTB), por ter apoio de seu desafeto, o oposicionista com cargos no governo Cláudio Ávila (União Brasil).

Detalhei os bastidores da eleição em As estratégias de Zaffa e Marco Alba na eleição para Presidência da Câmara de Gravataí; Os dois acham que ganharam.

A pressão pela demissão de suas indicações na Prefeitura transcende a base do governo. Há um “paiê, demite!” em curso.

Vereadores governistas – que entraram a madrugada fofocando que as demissões ocorreriam ainda na quarta-feira – organizam um movimento para ir ao gabinete do prefeito pedir a cabeça do Robespierre.

Políticos influentes no governo também acham que relevar a rebeldia pode custar caro para manter a fidelidade dos demais parlamentares.

Já chegou até ao vice-prefeito Dr. Levi Melo (Podemos) a sugestão de, em março, na janela de transferências partidárias, impedir a filiação do vereador ao partido que montaram juntos e, pelo tamanho que ganhou, hoje sustenta o médico como vice na chapa da reeleição.

Perguntei ao prefeito, após a eleição de Peixe, se Dila perderia cargos no governo.

– Não. Vamos avaliar, conversar, ver com a base o clima criado entre eles. O Dila sempre foi um defensor das causas do governo e da minha pessoa – respondeu Zaffa, ao Seguinte:.

Em reunião anterior à eleição, Levi disse em reunião da base que não colocaria “a faca no pescoço” de Dila.

O vereador resta recluso após a eleição. Não quis dar entrevista. Mas, na última sessão do ano, antes da sessão especial de eleição da nova mesa diretora do legislativo, disse que seguiria defendendo o prefeito e cumpriria o acordo que tem com o vice.

Fato é que, para além da crise que criou dentro do governo, Dila certamente compreendeu que portas estão fechadas para ele também na oposição.

O MDB não quis negociar apoio a candidatos da base que Dila tentava colocar na presidência, como Demétrio Tafras (PSDB) – que desistiu em troca de mais uma secretaria – e o pastor Fábio Ávila (Republicanos).

Marco Alba (MDB) já disse a diferentes pessoas que considera Dila um dos responsáveis pelo rompimento com o prefeito e a deflagração da III Guerra Política de Gravataí: Zaffa x Alba, pós Abílio x Oliveiras e Bordignon x Stasinski.

Se ainda não ganhou um ‘xis na testa’ colocado por Zaffa, por Marco Alba já o tem.

Thiago De Leon (PDT), candidato a prefeito com apoio de Paulo Silveira (PSB), é mais um inimigo colecionado por Dila. Outro candidato, Dimas Costa (PSD), é seu irmão, mas vivem um ‘Caim e Abel’ na relação política. Com Daniel Bordignon (PT) Dila também está rompido desde a época em que eram colegas no PDT; leia sobre em Prev(s)idência: Anabel, Dila e PDT entram pela porta de Zaffa, os Bordignons saem por outra; Agora tudo é GreNal na política de Gravataí.

Inquestionável é que o vereador resta isolado, principalmente se Levi ceder às pressões para romperem.

Estas são as derrotas políticas do vereador no episódio da eleição de terça. Porém, quem conhece a política sabe que um 6 escrito na areia pode ser um 9, dependendo do ângulo que se olha.

Aí relaciono a estratégia de Dila com a usada por Marco Alba na eleição para a Presidência da Câmara. O ex-prefeito orientou seu grupo a lançar Claudecir Lemes (MDB) para perder. Considera ele que ganha politicamente com a narrativa de que Zaffa ‘traiu’ o projeto da ‘Família MDB’ e hoje está aliado aos adversários na eleição de 2020.

Parece obvio que Dila também avalia que a derrota do dia pode ser a vitória política da noite. Ao se imolar, mostrou a seus eleitores, e à sociedade, que não compactua com algumas participações na nova base de apoios de Zaffa.

É aí que moralmente, ganha. Manteve sua essência, mesmo que aparentemente seja destrutiva para o projeto de Zaffa. Fez o que gritava faria. Capitulasse, não seria Dila. Arriscou tudo.

Partindo para a conclusão, entendo habilidosa e justa a declaração do prefeito ao Seguinte:, que reproduzi acima.

Zaffa disse que vai ouvir sua base, mostrando respeito pela ira dos vereadores. Mas lembrou dos quatro meses em que Dila foi líder do governo, um solitário no plenário na defesa da gestão (enfrentando alguns que hoje estão na base governista,) e também na sua blindagem pessoal.

Simbólico: quando, no amanhecer do governo, Zaffa foi alvo de operação da Polícia Civil, Dila subiu à tribuna para dizer que colocava “as mãos no fogo” pelo prefeito; leia sobre em Operação apreende até celular de prefeito de Gravataí; Vão achar um homem honesto.

Ao fim, é delicada a situação de Dila, sim. Mas Zaffa, que aos ‘bem-vindo à política’ que recebeu após o rompimento com Alba já pode dizer ‘obrigado, aqui estou’, como mostraram suas articulações para debelar a greve pelo piso do magistério, e agora na eleição de Peixe, pode entender que a biografia de retidão de Dila, mesmo indomável, pode servir como contrapeso a outras forças que tentam tomar o governo de assalto.    

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